“Contato” (Contact)

“Contato” (Contact)





Imagine (por que não?) um universo paralelo com um planeta exatamente igual ao nosso, dotado de uma pequena diferença: ao invés de internet nos lares, o meio de comunicação seria o rádio amador. E num dia de poucas descargas elétricas poderíamos nos comunicar com o extremo oriente. Nos 70 houve uma modesta febre de rádios amadores e 0,3468 lares possuíam um aparelho desse gênero pilotado por um notívago que não raro fazia uso de uma estranha linguagem – se ele estivesse jantando diria sem delongas para alguém a léguas e léguas – agora não posso falar pois estou “modulando os talheres”.

A personagem de Jodie Foster, quando criança, era fanática por rádio transmissões e sonhava com uma antena maior.

Somente uma atriz com o especial carisma de Jodie poderia fazer um filme como esse brilhar a ponto de ganhar o status de “o melhor filme da década”, pelo menos até 1997.

Jodie trabalha numa estação governamental de Espia Estelar, também conhecida como Observatório, mas o negócio dela, considerado pelos colegas como suicídio profissional, é operar um rádio telescópio e tentar ouvir alguma coisa além de ondas vindas de quasars, buracos negros, estrelas cadentes, etc.

O título do filme fornece uma boa pista do que ela procura.

“Contato” tem aqueles condimentos que a turma da má vontade chama de clichês. Dra. Eleanor (Ellie) Arroway, (Jodie) é uma rádio astrônoma que perdeu o pai quando criança e ainda por cima testemunhou o fato. Em sua fase adulta, a fase do pré contato, ela vive em Arecibo e todo o cenário e personagens desta fase transpira um mix de ermidão latina com jeitão hippie. Lá ela vai conhecer o galã despojado Matthew McConaughey, que volta e meia trava diálogos ríspidos com o chefe dos astrônomos - Tom Skerritt, adepto do conceito de que ciência deve dar lucro e nada mais. Procurar vida inteligente nas 400 bilhões de estrelas da nossa galáxia, para ele, equivale a pura perda de tempo.

Humanos, mal sabem o que os espera...
A grande inteligência da vida inteligente fora da Terra consiste em não dar as caras mui abertamente, posição esta que, dizem, será revista.

Evidente que a personagem de Jodie, extraída do romance de mesmo nome escrito por Carl Sagan, acredita que deve partir dos humanos o gesto de fazer contato.

Os hippies de Arecibo perdem o emprego e Jodie parte para buscar financiamento na iniciativa privada, cuja verdadeira legenda é: alguém inteligente o suficiente que tenha amealhado uma bolada e com generosidade suficiente para doar algumas migalhas à pesquisa científica. Quatro anos depois, aquele visual exposto na capa do filme torna-se o quintal da Dra. Foster – quase 3 dúzias de mega rádio telescópios - com isso estamos com 34 minutos de filme corrido, cuja duração total é de 150.

A realidade de jovens cientistas financiados está sob constante pressão de quem financia: e aí, vai descobrir alguma coisa ou não?

“Contato” joga com idéias hoje um tanto gastas para quem já travou contato com a Senda, mas ainda assim continuam refrescantes.

Duas coisas para você armazenar:

• A transmissão recebida que identifica, através de um pulsar, a seqüência de todos os números primos entre 2 e 101.

• Fonte emissora = Vega. (Facilitando a sua busca, Vega = estrela mais brilhante da constelação de Lira).

A grande chatice do clichê (aqui) está na presença instantânea dos militares assim que os esforços científicos chegam nalgum resultado. Militares e políticos... Um deles quer saber o motivo dos números primos. Jodie explica que em outros planetas não se fala inglês (por hora) e desse modo a matemática torna-se a língua universal.

O que era um sinal de rádio se transforma em imagem de TV. Fica estabelecido que a vida inteligente em Vega mandou um sinal claro.

Carl Edward Sagan chegou em 1934 e partiu em dezembro de 1996, sendo que sua estada por aqui gerou a salutar febre geradora das seguintes palavras: “figura histórica mundial que nos incentivou a deixar a espiritualidade geocêntrica, narcisista, “sobrenatural” de nossa infância e abraçar a vastidão — amadurecer ao tomar as revelações da revolução científica moderna de coração”. Cientista e autor de mais de 15 livros, sem mencionar os 22 títulos honoris causa e a participação vital no programa espacial americano, uma de suas obras saltou das letrinhas impressas para uma premiada série de televisão – “Cosmos”, e outra, esta, foi roteirizada por ele e a esposa. Falando português moderno, o cara não era fraco não.

A transmissão vinda de Vega permanece uma sacada à prova do tempo e a Terra reage tal e qual indivíduos sem conta nos 70, que duvidavam até a morte sobre a ida do homem à Lua. Na trama são tantas as opiniões expostas pelos mais variados segmentos da sociedade e todas convergindo ao triste ponto: nossa maturidade face ao evento proposto equivale a nada mais nada menos do que histerismo nu e cru.

Mais dados para você armazenar:

• Arecibo fica em Porto Rico.

• Outros integrantes do grande elenco: David Morse, James Woods, John Hurt, Geoffrey Blake, William Fichtner, Angela Bassett e Larry King.

• 95% da população mundial acredita em Deus.

O filme traz um debate primário sobre Deus e a ciência, todavia, lá pelas tantas, a Dra. pede ao teólogo McConaughey uma prova da existência de Deus e ele assim rebate:

- Você amava seu pai?

- Sim – responde ela.

- Então prove.

De certa forma, “Contato” revela o salto quântico de determinado percentual da humanidade acerca da eterna questão Deus e ciência.

Clicheria de um lado, firme propósito de aprimorar consciências de outro.

O local onde Jodie está trabalhando na fase do contato propriamente dito é conhecido por VLA – Very Large Arrey, equipado com 27 dish-shaped (em forma de prato) rádio telescópios, todos olhando pra Lua no Deserto de Socorro e utilizados por astrônomos a fim de estudar processos físicos de como sol, planetas e outros corpos celestes produzem ondas de rádio.

Dirigido por Robert Zemeckis, e, saiba, taí um cara que não poupa fôlego para atingir uma produção impecável.

Outros dados para armazenamento:

• Em Arecibo está localizado o maior rádio telescópio do planeta.

• No intento de incrementar realismo ao projeto, a própria CNN participa com mais de 25 jornalistas credenciados figurando na película.

Zemeckis disse que a máquina que aparece no livro de Sagan é vaga, mas, em se tratando de obra literária isso não constitui problema, já num filme...

- Se você vai construir – prossegue ele – uma estrutura gigantesca concebida por alienígenas, ela tem de parecer não apenas confiável. Ela deve ser enorme para que a audiência sinta que isso é maior do que um ser humano seja capaz de pensar.

Cineastas...

Desse modo, a teoria de um buraco no tempo-espaço capaz de possibilitar uma viagem intergaláctica desenvolvida por Sagan prescinde de uma engenhoca. Na verdade não se trata de um buraco qualquer e o termo correto é wormhole (buraco de minhoca).

Zemeckis (“Forrest Gump”,“De Volta Para o Futuro”) se deu ao trabalho de ilustrar como seria esse caminho quântico entre os mundos, desde o rés do chão até a mais alta estrela. Na verdade, estamos constantemente em contato com outros mundos e às vezes isso acarreta um tormentoso impacto, vide a cena nas dependências do VLA, quando da emissão de Vega, a rapaziada de com camisetas floridas (hippies...), de um lado para outro plugando e desplugando aparelhos sem conta.

Bem, Jodie faz a viagem, entretanto, (saiba), todo o invólucro de "Contato" abriga um único item, denominado por nós, humanos, como Experiência Espiritual. E quanto a isso, vejamos o que uma especialista no assunto tem a dizer:

“A única correlação energética que posso oferecer àqueles que ainda não tiveram esta experiência é uma cena do filme “Contato” (Contact). É a cena na qual a personagem principal, estrelada por Jodie Foster, que ao atravessar os chamados ‘buracos de minhoca’, finalmente chega ao que parece ser o centro da galáxia e vive um momento de eternidade. Ela alcança um conhecimento muito além de si mesma e que ela não consegue explicar claramente a ninguém, mas que a deixa com uma certeza inabalável sobre este ‘algo’ que encontrara e que não pode negar. Mesmo quando fala sobre isso para outros, estes a tratam com desdém e permanecem incrédulos”.

Por Leslie Temple-Thurston, buscadora de carteirinha e participante do 26º Congresso Anual Mundial da Iluminação, ocorrido neste inédito 2012.

Dado momento, uma luz diáfana se projeta na cabine da protagonista e ela, maravilhada, supõe estar assistindo ao nascimento de um sistema planetário. Numa espécie de êxtase Jodie balbucia:

- Isso é poesia. Deveriam ter enviado um poeta.




 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 01/10/2012
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T3910286
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.