A ESCOLHA DE SOFIA
(O MEU SEGUNDO TEXTO MEU MAIS LIDO)
Sobre A ESCOLHA DE SOFIA, filme dos EUA, de 1982, protagonizado por Meryl Streep, com direção de Alan J. Pakula.
Anos após o fim da II Guerra Mundial, uma mulher de origem polonesa, sobrevivente a campo de concentração, sobrevive no além da guerra, com seu amante e um amigo, que também a cobiça, todos terrivelmente problemáticos. Vamos acompanhando o ruir progressivo do mundo interior deles e, consequentemente, das suas relações com o mundo exterior. Uma mulher a viver em situação de permanente tragédia, uma verdadeira personagem de tragédia grega, de mito sobre cuja existência não me recordo de jamais ter lido nada (o que não quer dizer que ele, mito, não exista, nessa ou em outra tradição).
Um momento do passado explica-lhe a causa, a causa desta vida trágica: Vemos esta mesma mulher, fugitiva, com seus dois filhos, ambos muito pequenos (uma menina e um menino) a buscar o embarque, clandestinamente, em um trem, na tentativa de escapar ao horror nazista. Não o consegue. Um guarda a descobre e lhe propõe (claro, não me lembro das palavras, assisti a este filme há muitos anos): "Escolha um de seus filhos para o sacrifício e eu garanto que a senhora segue, a salvo, com o outro filho". Ela, após um pequeno tempo de agonia indescritível, grita LEVA A MINHA MENINA (são mais ou menos essas as palavras) e consegue partir, com o filho (que também morreria pouco depois, na guerra); segue para a “liberdade”.
Sem qualquer espécie de julgamento, que a nós pobres, falíveis e pecadores por herança e... destino, tal julgamento não pode nem deve caber, gostaria, apenas, de deixar aqui estas indagações:
I- De quantos abismos pode se compor a alma humana?
II - 1. O que pode ter levado esta mãe a fazer sua escolha, em nível inconsciente ou em qualquer outro nível?
- 2. De que outras possibilidades de escolha poderia dispor esta desgraçada mãe (no sentido daquele que perdeu ou que não dispõe da Graça)?
Zuleika dos Reis, na manhã de 5 de março de 2010; republicação na tarde de 26 de setembro 2012.