“Subway” (Subway)

“Subway” (Subway)







Façamos, pois, dois dedos de silêncio em memória de Arthur Simms, que est un chanteur et acteur américain né en 1953 et mort en 1987, em francês mesmo, já que este é um filme francês e Arthur Simms, a despeito de qualquer controvérsia equivale a verdadeira alma de “Subway”, lembrando aos esquecidos tratar-se do afro-americano que canta como um canário celestial.

Christopher Lambert, o meliante doidivanas e idealista sonha em montar uma banda e no meio do filme ele tira Arthur Simms da cartola.

Isabelle Adjani, fascinante, faz a menina pobre resgatada por um milionário que num dado momento farta-se do luxo, da luxúria, e vai ter com os desvalidos nos subterrâneos de Paris. Noutro dado momento ela fará uma contradança com Lambert e este a interpelará: na sua casa, quem faz a faxina? Ela responde: a faxineira. E quem arruma a casa? Ela responde: a arrumadeira. E o amor? Ela se cala.

Luc Besson dirigiu sozinho e roteirizou com mais 4 almas iluminadas esse Hit de 1985, transbordante da força motriz conhecida em muitas plagas como paixão. É ver pra crer.

“Cinéma Du Look nasceu nos anos 80 e tinha como foco a juventude marginalizada francesa”. Ponto. Esse é um dado histórico retirado de outra cartola. Repare, porém, em palavras recentes, outras rotulações sobre o cinema de um modo geral: "forma cinema", "forma narrativa-representativa-industrial", "modelo-representativo
institucional", "estética da transparência", “cinema expandido”, “pós cinema”, “cinema de artista”, “cinema de exposição”, “cinema do dispositivo”. Pela madrugada, será que a Sétima se reinventa tanto a ponto de ganhar tantas alcunhas?

De qualquer forma, nos vertiginosos (!?) anos 80 “Subway” tornou-se um emblema e o espetáculo tem início com Lambert, num auto, fugindo de quatro vilões, que estão noutro auto.

Besson já tinha instalado no seu sistema que o Metrô de Paris é o quarto maior da Europa Ocidental, com 213 km de linhas e mais de 300 estações, palco plausível para que a trama ofereça uma fauna condizente onde ele próprio faz um condutor e seguem-se o florista (Richard Bohringer), o inspetor Gesberg (Michel Galabru), o ladrão patinador (Jean-Hugues Anglade) e o eterno parceiro do cineasta, Jean Reno, aqui como o baterista. Depois de mais alguns nomes vem Eric Serra, ele interpreta o baixista e assina a irretocável trilha do filme.

No quesito valores dispostos na tela “Subway” é quase um divisor de águas entre a Velha França – pitoresca, pensadora, vanguardista e a Nova França – burra e totalitária. Há um romantismo raro na película, e um comunicar ainda mais raro, o espectador não vê Lambert assaltar a casa de Adjani, isso vem em palavras que de algum modo se fixam na compreensão do todo, assim como a história que ele conta sobre seu acidente aos 5 anos de idade e os 5 meses no hospital, parece mentira, até ele mostrar a cicatriz. Clichê naqueles tempos, refresco no presente materialista, veja aí no seu entorno se existe algum ladrão com um toque de Robin Hood querendo apenas plasmar o sonho de ver acontecer o invisível - no caso, a música.

Lá pelas tantas, depois de acompanhar as incontáveis correrias de Lambert e associados nos subterrâneos parisienses, o espectador tem a grata e inesgotável surpresa de testemunhar Arthur Simms cantando "It's Only Mystery". Ponto alto do espetáculo. A banda está num cubículo, são os marginalizados de outrora vistos através da eterna arte, que não se cansa de mostrar aos incautos de toda sorte que “gente é pra brilhar, não pra morrer de fome”.

Besson&roteiristas encerram com a banda fantasiada de safári, (artistas...), Lambert toma um tiro, Isabelle Adjani (fascinante) descobre o amor, toda a cena se descortina numa espécie de clipe enquanto uma platéia heterogênea aplaude com entusiasmo a canção "Guns and People”.

Apesar de algumas inconsistências “Subway” é um tributo ao reino das Boas Intenções e as conclusões finais expressam que "cinema de fato" brota do coração e infelizmente não se fazem mais filmes assim.









 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 17/09/2012
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T3886476
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