O Legado Bourne (Análise e Crítica)
Passar um pouco mais de duas horas do seu dia e sentado em uma (confortável) poltrona à espera de uma grande sequência de ação, que, ao final, somente passa a ideia de ter sido um grande pastiche da eletrizante sequência da perseguição no telhado de “O Ultimato Bourne”, último filme da trilogia original ainda estrelado pelo talentosíssimo Matt Damon. Não há como saber se essa foi a sensação de pelo menos um outro espectador, mas posso garantir que foi a minha, ao terminar a sessão de “O Legado Bourne”, que estreou no último dia 7 de setembro no Brasil.
Continuação da franquia bilionária sobre o agente secreto Jason Bourne (Matt Damon) na busca de sua identidade, este quarto episódio já começa diferente, uma vez que o protagonista Aaron Cross (Jeremy Renner) sabe muito bem quem ele é e principalmente do que necessita: correr o máximo possível para garantir sua vida. Partindo da premissa de que Bourne não era o único supersoldado treinado a serviço dos interesses norte-americanos, a agência que os criou, em prol da segurança mundial, decide assassiná-los. Percebendo o intuito deles, Cross começa a correr contra o tempo para que ele não seja o último alvo.
Escrito e também dirigido por Tony Gilroy, que foi o roteirista dos três filmes antecessores, a história pelo menos acerta na retirada de Bourne como o foco da narrativa. Embora o título, por questões comerciais mesmo, faça jus do nome do agente, ele serve de metonímia para o projeto no qual foi inserido e seu retrato aparece apenas em alguns flashes. A escolha de Renner para o protagonista também foi certa: é um ator em ascensão e vem participando de filmes notórios, como “Guerra ao Terror” e o campeão de bilheteria “Os Vingadores”, em que viveu também o agente Gavião Arqueiro. Falta a ele ainda um pouco de expressividade e intimidade com a câmera, porém consegue dar conta das coreografias de luta e das cenas de ação. Além disso, é um atrativo para as mulheres assistirem ao longa: as cenas sem camisa não negam tal intenção.
Entretanto, o que pesa no filme é o seu ritmo: seus 130 minutos poderiam ser enxugados em 110, ficaria menos enfadonho. Os diálogos técnicos e as relações quebra-cabeça, elementos comuns em filmes de espionagem, tornam a narrativa sonolenta. A direção fria de Gilroy cria um contexto distanciado, através do qual o espectador não cria um laço de intimidade com o herói que ele não quer que morra. O não-desenvolvimento dos personagens secundários também contribui para essa leitura: Rachel Weirz, excelente atriz e bem no papel da bióloga Marta, abraça a causa de Cross numa passividade e falta de questionamento irritantes. Por outro lado, Edward Norton é um outro exemplo de bom ator, mas que não está escalado para o papel correto: sua voz nasalizada e seu porte franzino não asseguram a ele muita personalidade na pele de um homem poderoso. O momento em que ele grita com a equipe chega a ser hilário – e até ridículo.
No geral, é um filme regular e que mescla algumas paisagens bonitas, alguns diálogos chatos, alguns momentos de marasmos e alguma adrenalina. Enfim, é uma produção cheia de “alguns”. E de certa forma vazia, por não proporcionar a reflexão absolutamente sobre nada. Se não fosse pela sequência gravada em Manila (Filipinas), provavelmente não haveria fôlego para uma continuação. Que, por sinal, tudo indica que acontecerá, inclusive o próprio ritmo do longa, geralmente mais lento no primeiro de uma franquia. Espera-se, então, que no(s) próximo(s) os personagens sejam desenvolvidos e que algumas lacunas –como a do cientista que saiu matando todo mundo no laboratório – se expliquem.
Segundo consta, Matt Damon se recusou a voltar porque Paul Greengrass, responsável pelos últimos dois “Bourne”, também se recusara voltar à direção deste novo episódio. Bem, queiram os deuses do cinema que Greengrass aceite retomar o projeto e que Jason e Aaron se encontrem em uma dessas estradas da vida. A Damon só faltaria uma coisa: emagrecer.
Nota: 6,0.