Abraham Lincoln - Caçador de Vampiros (Análise e Crítica)
Misturar realidade e fantasia para a partir de então gerar uma biografia ficcional não é uma tarefa nada fácil. O problema não está basicamente na ficção, algo simples de se manipular para autores repletos de imaginação, pois o grande desafio é como a realidade será trabalhada, para assim criar uma narrativa coesa e – quem sabe – alguma coisa que fique entre o épico e a verossimilhança. Com esse contexto, chegou aos cinemas brasileiros o longa-metragem “Abraham Lincoln – Caçador de Vampiros”, obra dirigida pelo cazaquistanês Timur Bekmambetov, produzida pelo excêntrico Tim Burton e adaptada do romance de Seth Grahame-Smith, roteirista e também autor precursor do gênero com o sucesso “Orgulho e Preconceito e Zumbis”.
A narrativa em questão conta aquela que seria a parte mais sombria e secreta da vida de Abraham Lincoln (Benjamin Walker), o 16º presidente norte-americano, quem lutou pelo final da escravidão em seu país. Assim sendo, ele, quando criança, teria testemunhado a morte da sua mãe nas mãos de um vampiro. Consumado pelo ódio, cresceu na tentativa de um dia assassinar o chefe responsável pela corrupção local, só que não esperava que o mesmo também fosse um vampiro. Salvo pelo desconhecido Henry (Dominic Cooper), o jovem Lincoln passou por um intenso treinamento e foi lhe atribuída a missão de caçar esses seres da noite em um vilarejo de uma província estadunidense. Lá, ele iniciou sua carreira política, descobriu algumas verdades, casou-se e teve, finalmente, a chance de se vingar.
Quanto à produção do filme, os primeiros aspectos que saltam aos olhos são as fantásticas fotografia e direção de arte, principalmente esta. Com um alto orçamento (US$ 120 milhões), parece que não economizaram na caracterização da época: cenários, figurinos e luz reportam o espectador a uma viagem ao século XIX da história dos Estados Unidos. São, sem dúvida, os melhores elementos do filme. Mas não os únicos. O texto é muito bom, rico e cheio de frases de efeito, metáforas e diálogos inteligentes.
Além deles, o didatismo do roteiro não compromete a história, visto que a construção do personagem cresce no desenrolar da trama e a interpretação de Walker, isenta de excentricidades e caricaturas, dá ao seu Lincoln diferente facetas – que vão desde o jovem tímido e um tanto ingênuo ao político seguro, e mais tarde o carinhoso pai de família, ao homem perturbado por ter em suas costas a culpa pelas centenas de mortes oriundas por causa da Guerra de Secessão. Aliás, foi criado um eixo muito interessante entre a narrativa ficcional e esta batalha civil entre norte e sul, que, segundo relatos da História, tirou quase um milhão de vidas. Como não poderia deixar de ser, o clã dos vampiros se uniu aos estados do sul, que se posicionavam a favor da escravatura.
Não se trata de uma película perfeita, e por isso mesmo existem alguns pontos negativos. Dentre eles, o uso inexpressivo da trilha sonora, que muitas vezes se viu subjugada pelos efeitos sonoplásticos; a caricatura em excesso do núcleo vampiresco da trama; e o uso dos efeitos digitais em algumas tomadas, particularmente na sequência da perseguição entre o rebanho de cavalos: quando os personagens pulam de animal a animal, o espectador tem a sensação de que foram usados corte e colagem, por a rapidez que os equinos correm não se corresponder à velocidade dos saltos dos atores e seus gestos corporais, bem mais lentos e contidos – soou artificial.
Contudo, é, em suma, uma produção que vale a ida ao cinema. Não há tanta ação como prometem os trailers divulgados, porém a forma como a trama é costurada cativa e faz os aproximadamente 100 minutos de fita passarem depressa. Embora não seja um filme essencialmente político, discute alguns valores humanos (o que é sempre muito bom por nos fazer refletir) e seu lançamento veio bastante a calhar por conta das eleições norte-americanas para presidente neste ano. Não que isso interferirá em resultados nas urnas, mas não deixa de passar a mensagem do quanto é importante a um povo que ele escolha bem os seus representantes e que estes façam grandes atos que lhe beneficiem e fiquem sempre gravados em sua História.
Nota: 8,5.