Entre os muros da escola

Entre os muros da escola (França, 2008), dirigido por Laurent Cantet retrata de uma forma um tanto realista o sistema educacional de uma escola pública francesa, sendo uma produção rica em conteúdo e um tanto sugestiva.

O longa pode ser analisado pelo aspecto da própria educação em si ou como uma forma de expor um reflexo panorâmico da própria sociedade francesa contemporânea. Ao mesmo tempo ele passa a ser um tanto sugestivo para a própria realidade brasileira.

Focalizado literalmente entre os muros de uma escola pública da periferia parisiense, retrata-se um ano letivo de alunos da sétima série. Através das aulas do professor de língua francesa, François (François Bégaudeau), docente que trabalha na escola há alguns anos, acompanhamos as diversas dissidências que ocorrem entre os alunos e o professor pelos mais variados motivos, inclusive os mais alheios. Os confrontos demonstram a problemática interacional entre educador e seus discípulos. Contudo a questão não está apenas no ato de ensinar, mas quanto ao professor atribuir um sentido ao processo de educar naquele ambiente um tanto heterogêneo e desestimulante.

Em uma das cenas, os alunos questionam o professor François por sempre utilizar nomes norte-americanos, como Bob, para servir de exemplo em frases de língua francesa, ao invés de nomes asiáticos ou africanos. Para o contexto francês, isto faz muito sentido, pois há uma forte miscigenação no país. Nesse caso, o discurso do professor reproduz uma lógica colonizadora, ou seja uma espécie de violência simbólica contra os estudantes, em especial os descendentes de imigrantes.

Há outras cenas muito interessantes como a parte em que uma aluna não se interessa nem um pouco pela leitura do Diário de Anne Frank, adotado pelo professor, e diz ter lido, se interessado pelo livro A República, de Platão. Outro aluno tem amplo interesse pela música, em especial o Hip-Hop. Assim como uma aluna, sempre muito calada, que fica invisível não só para todos da sala mais também para o telespectador e que no desfecho do filme diz não ter aprendido nada durante todo ano letivo.

Em diversos momentos questões um tanto provocativas são expostas; em uma delas um professor, no início do ano letivo, durante uma reunião, apresenta uma lista na qual ele enquadra os alunos em classificações que envolvem julgamentos antecipados. São listados os bons alunos, os comportados, aqueles que são mais bagunceiros. Certamente estas avaliações precoces vão determinar a forma como este educador irá se comportar com relação a cada um deles, podendo até mesmo levar ao extremo de um aluno ser privilegiado ou até mesmo sofrer algum tipo de estigma.

Utilizando-se da análise do sociólogo francês Bourdieu, podemos perceber que a escola por mais que utilize um discurso de isonomia, acaba reproduzindo desigualdades nas suas estruturas e nas suas diversas práticas e formas de poder.

Curiosamente, o filme foi rodado durante sete semanas, possuindo um caráter semidocumental. Ele não possui nenhuma trilha sonora e as imagens no geral são captadas por câmeras de mão que nós da a ilusão de sermos telespectadores inclusos dentro da própria sala de aula.

François, além de protagonizar a versão cinematográfica, também contribui na elaboração do roteiro. O escritor nasceu em Luçon, na França, em 1971.

Ao longo de sete anos lecionou em uma escola de Paris, conhecendo então a realidade do educador francês.

O cinema representou uma das suas paixões artísticas, assim como a literatura. O elenco é composto predominantemente por atores amadores. Os alunos, realmente são estudantes da sétima série. Entre os Muros da Escola", foi o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado, sendo o primeiro filme francês a receber esse prêmio. Também ganhou o Independent Spirit Awards de melhor filme estrangeiro.

Colocando em destaque a crise deste modelo educacional, Entre os muros da Escola nos dá a oportunidade de refletirmos profundamente sobre o processo de ensino e aprendizagem na sociedade contemporânea.

Um dos grandes méritos, do filme é demonstrar que a escola estando isolada é incapaz de resolver os impasses criados pela sociedade, ao mesmo tempo em que não esta imune as suas desigualdades, males e vícios que perpassa em seu interior e que também extrapolam os seus muros.

FICHA TÉCNICA

Diretor: Laurent Cantet

Elenco: François Bégaudeau, Nassim Amrabt, Laura Baquela, Cherif Bounaïdja Rachedi, Juliette Demaille, Dalla Doucoure.

Produção: Caroline Benjo, Carole Scotta

Roteiro: Robin Campillo, Laurent Cantet, François Bégaudeau

Fotografia: Pierre Milon

Duração: 128 min.

Ano: 2008

País: França

Gênero: Drama

Cor: Colorido

Distribuidora: Não definida

Classificação: 12 anos