“Golpe de Mestre” (The Sting)
“Golpe de Mestre” (The Sting)
Ticando itens:
• Os que participam do ardil, conhecidos como street workers (punguistas), são cingidos com uma espécie de heroísmo. Eles se reúnem para vingar a morte de Luther (Robert Earl Jones) e num gesto de solidariedade até fazem uma vaquinha para viúva e filhos.
• Gondorff (Paul Newman), o Master da Auto Ajuda Namastê em priscas eras, tem respostas comedidas e acertadas. Seu novo parceiro, Hooker (Robert Redford), comenta sobre o alvo: ele não é tão durão assim. Newman retruca: e nem nós.
• O alvo, Robert Shaw. Rico, gangster, corruptor de políticos, banqueiro de fachada e assassino. Dizem dele: da pior espécie, mata por orgulho.
• Cinema americano já teve (eis uma imprecisão desculpável) umas sacadas muito loucas, a do herói sem teto é uma delas. Willian Holden, em Picnic, faz um sem teto que mal consegue uma camisa limpa. Tem a roupa do corpo e olhe lá. Os heróis de The Sting, Newman e Redford, igualmente dois sem teto, o segundo pula de quarto em quarto e Newman está asilado num galpão dividido em dois compartimentos, um para entreter crianças – ali há um carrossel, e nos fundos entretenimento adulto, conhecido como Casa das Primas. Estamos em 1936, Depressão, os espaços precisam ser otimizados com imaginação.
• A maneira como os figurantes do golpe se juntam visa o trabalho de equipe acoplado ao que se pode chamar de uma união de talentos, com o astral muito parecido ao dos bichos falantes da floresta da Cinderela ou os outros bichos falantes de “A Espada Era a Lei”. É a própria economia da vida longe do foco maior&melhor e com atenção fixa na noção de que todos são importantes.
• George Roy Hill, considerado por algumas facções como um diretor menor, brilhou no Oscar 1974, faturando nas categorias de melhor filme, diretor, direção de arte, figurino, montagem, trilha sonora e roteiro original.
• “Golpe do Telégrafo”, apenas uma nomenclatura e ao mesmo tempo um aparato. Trata-se de montar uma falsa casa de apostas, com tudo que lhe é pertinente, a fim de iludir os sentidos físicos do alvo. O verdadeiro golpe, de mestre, repousa soberano noutro patamar.
• O pôquer de Newman se fingindo de bêbado.
A única maneira de eles chegarem ao assassino era esta – participar de um carteado caríssimo e exclusivo num vagão de luxo de um trem qualquer. Pouco antes a direção mostra, numa tomada sem cortes, um craque no baralho fazendo malabarismos com o ás de espadas. Ai, ai, os cuidados que a direção tomava... Newman chega chegando, atrasado, espalhafatoso, (ele justifica seu atraso por estar defecando...), em suma, finíssimo, a credencial perfeita para ser a mosca na sopa, ele assoa o nariz na gravata, tem uma garrafa de gim a tiracolo (cheia de água) e não perde uma mão. Parte da estratégia começa aí.
• O jogada é soberba, basicamente, porque transforma o alvo em agente. Assim, o alvo participa. E ele não terá que empunhar uma serra elétrica ou um coldre. Ele vai ter que pensar que está ajudando numa tramóia e dessa forma irá embarcar numa aventura sem saber que a mesma é apenas parte de um evento maior, contra ele. Uma aventura cronometrada, onde ele se vê tomando decisões e fazendo supostas contravenções, participando. Qual, taí uma senhora aula de psicologia.
• Os adeptos da sanha sanguinolenta e vociferante vão dormir um bocado nesse filme.
• E agora vem uma aula de filosofia. Newman não se gaba ao revelar ter participado de mais de 200 “esquemas” e atesta sobre a vítima da vez:
- Se acalme, nós o pegamos há 10 anos atrás, quando ele decidiu ser alguém.
Ora, no caso a vítima, o alvo, o pato, Robert Shaw, quando decidiu ser alguém no contexto, tomou o rumo torto de quebrar cabeças e produzir cadáveres - nesse ponto ele estava fadado a encontrar em seu caminho nada além de predadores.
Todo o “Golpe de Mestre” é uma lição bem humorada repleta de camadas inferiores, sendo estas conhecidas por nós pelos apelidos: miséria, fraquezas, opções (ou a falta de), camaradagem, lealdade, performances, e, por fim, o submundo visto com romantismo e se justificando com tiradas, tais quais: não há porque ser vigarista, se isso é ser igual a um cidadão.
• O “Golpe do Telégrafo” resume-se num teatro montado nos mínimos detalhes onde até as pequenas falas dos figurantes colocadas na hora certa valem tanto quanto o elaborado cenário de lousas, bar, balcão de apostas, etc.
Trata-se de um bombardeio de informações visando atingir uma única pessoa – o alvo.
• Redford explica estar participando dessa farsa pelo Luther. Newman retruca que vingança é para otários e, há mais de 30 anos no ramo, nunca viu isso funcionar.
Redford contra ataca:
- Então porque está fazendo isso?
Newman sorri, dizendo:
- Porque parece valer a pena, não acha?
• David S. Ward, (roteiro), conta que pesquisou uma pilha de livros sobre trapaceiros e concluiu que aquilo era uma “subcultura fenomenal”. Descobriu ainda que tais contraventores eram dotados de uma certa moral porque não usavam de violência e não roubavam (preste atenção no primeiro golpe, logo no início do filme).
Eles usavam a cobiça do próprio pato contra ele mesmo.
“Golpe de Mestre” (The Sting)
Ticando itens:
• Os que participam do ardil, conhecidos como street workers (punguistas), são cingidos com uma espécie de heroísmo. Eles se reúnem para vingar a morte de Luther (Robert Earl Jones) e num gesto de solidariedade até fazem uma vaquinha para viúva e filhos.
• Gondorff (Paul Newman), o Master da Auto Ajuda Namastê em priscas eras, tem respostas comedidas e acertadas. Seu novo parceiro, Hooker (Robert Redford), comenta sobre o alvo: ele não é tão durão assim. Newman retruca: e nem nós.
• O alvo, Robert Shaw. Rico, gangster, corruptor de políticos, banqueiro de fachada e assassino. Dizem dele: da pior espécie, mata por orgulho.
• Cinema americano já teve (eis uma imprecisão desculpável) umas sacadas muito loucas, a do herói sem teto é uma delas. Willian Holden, em Picnic, faz um sem teto que mal consegue uma camisa limpa. Tem a roupa do corpo e olhe lá. Os heróis de The Sting, Newman e Redford, igualmente dois sem teto, o segundo pula de quarto em quarto e Newman está asilado num galpão dividido em dois compartimentos, um para entreter crianças – ali há um carrossel, e nos fundos entretenimento adulto, conhecido como Casa das Primas. Estamos em 1936, Depressão, os espaços precisam ser otimizados com imaginação.
• A maneira como os figurantes do golpe se juntam visa o trabalho de equipe acoplado ao que se pode chamar de uma união de talentos, com o astral muito parecido ao dos bichos falantes da floresta da Cinderela ou os outros bichos falantes de “A Espada Era a Lei”. É a própria economia da vida longe do foco maior&melhor e com atenção fixa na noção de que todos são importantes.
• George Roy Hill, considerado por algumas facções como um diretor menor, brilhou no Oscar 1974, faturando nas categorias de melhor filme, diretor, direção de arte, figurino, montagem, trilha sonora e roteiro original.
• “Golpe do Telégrafo”, apenas uma nomenclatura e ao mesmo tempo um aparato. Trata-se de montar uma falsa casa de apostas, com tudo que lhe é pertinente, a fim de iludir os sentidos físicos do alvo. O verdadeiro golpe, de mestre, repousa soberano noutro patamar.
• O pôquer de Newman se fingindo de bêbado.
A única maneira de eles chegarem ao assassino era esta – participar de um carteado caríssimo e exclusivo num vagão de luxo de um trem qualquer. Pouco antes a direção mostra, numa tomada sem cortes, um craque no baralho fazendo malabarismos com o ás de espadas. Ai, ai, os cuidados que a direção tomava... Newman chega chegando, atrasado, espalhafatoso, (ele justifica seu atraso por estar defecando...), em suma, finíssimo, a credencial perfeita para ser a mosca na sopa, ele assoa o nariz na gravata, tem uma garrafa de gim a tiracolo (cheia de água) e não perde uma mão. Parte da estratégia começa aí.
• O jogada é soberba, basicamente, porque transforma o alvo em agente. Assim, o alvo participa. E ele não terá que empunhar uma serra elétrica ou um coldre. Ele vai ter que pensar que está ajudando numa tramóia e dessa forma irá embarcar numa aventura sem saber que a mesma é apenas parte de um evento maior, contra ele. Uma aventura cronometrada, onde ele se vê tomando decisões e fazendo supostas contravenções, participando. Qual, taí uma senhora aula de psicologia.
• Os adeptos da sanha sanguinolenta e vociferante vão dormir um bocado nesse filme.
• E agora vem uma aula de filosofia. Newman não se gaba ao revelar ter participado de mais de 200 “esquemas” e atesta sobre a vítima da vez:
- Se acalme, nós o pegamos há 10 anos atrás, quando ele decidiu ser alguém.
Ora, no caso a vítima, o alvo, o pato, Robert Shaw, quando decidiu ser alguém no contexto, tomou o rumo torto de quebrar cabeças e produzir cadáveres - nesse ponto ele estava fadado a encontrar em seu caminho nada além de predadores.
Todo o “Golpe de Mestre” é uma lição bem humorada repleta de camadas inferiores, sendo estas conhecidas por nós pelos apelidos: miséria, fraquezas, opções (ou a falta de), camaradagem, lealdade, performances, e, por fim, o submundo visto com romantismo e se justificando com tiradas, tais quais: não há porque ser vigarista, se isso é ser igual a um cidadão.
• O “Golpe do Telégrafo” resume-se num teatro montado nos mínimos detalhes onde até as pequenas falas dos figurantes colocadas na hora certa valem tanto quanto o elaborado cenário de lousas, bar, balcão de apostas, etc.
Trata-se de um bombardeio de informações visando atingir uma única pessoa – o alvo.
• Redford explica estar participando dessa farsa pelo Luther. Newman retruca que vingança é para otários e, há mais de 30 anos no ramo, nunca viu isso funcionar.
Redford contra ataca:
- Então porque está fazendo isso?
Newman sorri, dizendo:
- Porque parece valer a pena, não acha?
• David S. Ward, (roteiro), conta que pesquisou uma pilha de livros sobre trapaceiros e concluiu que aquilo era uma “subcultura fenomenal”. Descobriu ainda que tais contraventores eram dotados de uma certa moral porque não usavam de violência e não roubavam (preste atenção no primeiro golpe, logo no início do filme).
Eles usavam a cobiça do próprio pato contra ele mesmo.