RESENHA "NÓS SOMOS DO FUTURO"

Produzido pela A-1 Kino Video, “Nós Somos do Futuro”, por pertencer ao cinema da Rússia, apresenta um elenco totalmente desconhecido para o público brasileiro, em que os nomes de maior destaque são Danila Kozlovskiy, Andrey Terentev, Vladimir Yaglych, Dmitriy Volkostrelov e Ekaterina Klimova. O filme, lançado em fevereiro de 2008, foi dirigido por Andrey Malyukov, tem 162 minutos de duração e seus gêneros são Fantasia, Ação e Drama. Transliterado do russo, o nome original é “My Iz Budushchego” (infelizmente, o Recanto não reconhece os caracteres cirílicos).

As ruas e bairros de São Petersburgo parecem ser ambientes para todo tipo de tribo. Uma delas é bastante heterogênea. Borman (Danila Kozlovskiy), descendente de um combatente da Segunda Guerra, deseja literalmente desenterrar a sua história, cavando em um ponto estratégico da cidade. Para a tarefa, ele conta com a ajuda de três improváveis amigos: Spirt (Andrey Terentev), fã de música rap e cabelos rastafári, o que parece aproximá-lo da cultura afro-ocidental; Cherep (Vladimir Yaglych), neonazista assumido e nacionalista de extrema-direita; por fim Chukha (Dmitriy Volkostrelov), um tímido nerd. Ocorre que durante a busca, o quarteto é transportado para a época da Segunda Guerra Mundial, na então União Soviética, dias antes da Batalha de Stalingrado (atual Volgogrado).

“Nós Somos do Futuro” tem uma narrativa inicialmente simples, com doses de humor. Porém é um humor ácido e que escancara algumas mazelas da Federação Russa, como o surgimento de grupos neonazistas e a xenofobia. Após a viagem no tempo dos quatro jovens, o filme torna-se de fato tenso, como um bom drama. A trilha sonora provém a atmosfera adequada, auxiliada por efeitos convincentes de luz e sombra. Visualmente, é uma bela produção.

O impacto causado por “Nós Somos do Futuro” não se restringe à sua parte técnica. A história é bem conduzida e tem poucos momentos de interrupção após a viagem dos rapazes; antes deste momento, porém, o telespectador tem a impressão de que o filme demora um pouco para engrenar, apesar de não ser detalhe tão comprometedor. As agruras da Segunda Guerra são brilhantemente retratadas em “Nós Somos do Futuro”, com direito a toda a mobilização soviética nas batalhas. O desenrolar sugere ser improvável a trama ter o clássico “final feliz” habitual das películas dos EUA.

Na realidade, o filme pode ser interpretado como uma propaganda antinazista russa. O objetivo da produção parece ser expor ao ridículo a existência de adoradores da doutrina de Hitler na Rússia, justamente um dos países a sentir no fundo da alma as escabrosidades do Nazismo. “Nós Somos do Futuro” é emocionante por ser o relato de dois absurdos. Um é a guerra por si só; o outro é uma juventude alienada e negligente da própria história.

Eu recomendaria “Nós Somos do Futuro” para fãs do gênero de guerra já extenuados da glorificação dos inúmeros soldados Ryans tão abundantes no cinema do Tio Sam. Essa magnífica produção russa não é somente um bom filme, mas também uma bela lição de como uma sociedade de poucas memórias pode representar um perigo para si própria.

Andre Mengo
Enviado por Andre Mengo em 23/08/2012
Código do texto: T3844936
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