“O Exótico Hotel Marigold” (The Best Exotic Marigold Hotel)

“O Exótico Hotel Marigold” (The Best Exotic Marigold Hotel)



Das informações mais peculiares surgidas sobre este filme, num primeiro instante, (lançado em 11 de maio de 2012), é a de que fora produzido para satisfazer o público de faixa etária similar ao elenco protagonista. A partir disso surgem deduções um tanto conflitantes, para se dizer o mínimo, e se foi um apetrecho de venda, melhor seria se não tivessem dito nada.

Um grupo de madurinhos britânicos resolve dar uma guinada na vida e essa guinada tem nome e endereços certos – Hotel Marigold, Jaipur, Índia.

Com exceção do casal Douglas e Jean (que se conhecem, posto que são casados), ninguém se conhece e o elo que os une, além dos cabelos brancos e a condição de estagiários na terceira idade, repousa no que o mundo ocidental convencionou chamar de “fim de linha”, ou, de modo um tanto vulgar e com valia para ambos os sexos, a antiga expressão: “perdeu, playboy”. Dependendo do caso, uma dolorida condição, também dedilhada por expressões outras, tais como, “o tempo passou na janela”, “seu mundo caiu”, “tchauzinho e até a próxima encarnação”.

A Raiz de uma Comunicação Cinematográfica sempre vem escondida por detrás de várias mensagens simultâneas.
A raiz do Marigold, apesar da bela embalagem feita pelo competente John Madden, diretor, tendo em seu CV “A Prova”, “Capitão Corelli” e “Shakespeare Apaixonado”, está para quem quiser ver, redigida com todas as letras pelo roteirista Ol Parker: “Venha passar seus últimos anos...”. Trata-se da chamada do anúncio na web do Best Exotic, que depois se estende para “um solar inglês em plena Índia”, etc. Curioso apelo esse, o dos últimos anos. Dir-se-ia sem papas na língua, tal e qual a realidade dos idosos paulistanos, chacoalhados nos ônibus e espremidos nas filas.

Deborah Moggach (nascida em junho de 1948), escreveu 16 livros, parte deles adaptados para dramas televisivos, parte para roteiros de cinema, alguns confeccionados por ela mesma, tendo sido indicada ao BAFTA por “Pride & Prejudice”. Em 2004 ela lançou These Foolish Things, que vem a ser a inspiração do presente trabalho.

Os trailers vendem uma bobagem travestida de sorridentes situações indianamente coloridas, mas ao se assistir a obra conclui-se (de cara) que o buraco é mais embaixo e isso sim revela-se uma boa surpresa.

Ninguém foi parar ali (em Jaipur) em busca de aventura nos moldes consumistas, ou porque ganhou na loteria e resolveu esbanjar umas migalhas na maior cidade do estado do Rajastão.

O filme abre com Judi Dench dialogando com o suplício moderno batizado de “espera telefônica”. Ela ficou viúva e sem um tostão e sua próxima parada será um quartinho na casa do filho, se tanto.

Todas as situações propostas e muito bem sintetizadas no início da obra estão longe do mundinho desconcertante ou mirabolante. São apenas reais e no contexto funcionam como as justificativas para a guinada ou plano B, como queiram.

A sra. Muriel (Maggie Smith), precisa de uma operação de quadril e na Grã Bretanha a fila de espera é de 6 meses. Mas na Índia o tratamento pode ser imediato, como se a Índia de certa forma fosse o SUS da velha Inglaterra...

A atriz Celia Imre já morava com a filha, os netos e o genro e a direção precisa de John Madden não gasta mais de 90 segundos para demonstrar que Celia fartou-se desta situação e mesmo sem saber para onde ir, ela entra num táxi e vai embora.

Os funcionários públicos aposentados (Douglas e Jean) ganharam um casebre da Mãe Bretanha, com botão do pânico para idosos e vista para centenas de outras casinholas. Eles sentiram um tremendo desconforto.

O juiz Tom Wilkinson pendurou as chuteiras e, 40 anos atrás, teve um grande amor em Jaipur.

Todos perderam o bonde, todos estão deslocados, todos viram um anúncio na internet, bolado pelo dono do hotel, o gerente sem noção e entusiasta Dev Patel (“Quem quer ser um milionário?”).
Com esses dados a cama está feita e o futuro, tanto do filme como dos personagens, terá lugar na "Cidade Rosa", fundada em 1728 pelo Marajá Sawai Jai Singh II.

Cerca de três semanas atrás Jânio de Freitas, ícone do que existe de melhor no jornalismo brasileiro, participou do Roda Viva, e, dentre o mar de sabedoria por ele destilado, veio de quebra seu ponto de vista sobre o jornal impresso hoje e a maneira insultuosa como as legendas são dispostas. Em qualquer lugar, menos embaixo da foto. O próprio cinema atual tem padecido desses amadorismos em nome de modernismos disfuncionais, isso para não falar de conteúdo e ficarmos somente no âmbito estético.

John Madden nasceu em 1949 e debutou na Sétima em 85. Pode ser chamado de qualquer coisa, exceto de amador.

São 7 os ingleses que chegam no Best Exotic, cada qual com seus dramas que serão colocados meticulosamente nesta que não seria outra coisa senão uma Saga de Renovação, ou porque não dizer, de Esperança. De cara alguém diz para Dev Patel – quero meu dinheiro de volta e, mostrando o folheto, sentencia: you “photoshopped” this! (Será que esse novo verbo pega por aqui?).

Judi Dench é a narradora e quiçá a voz da própria autora da obra. O texto manifesta a presença da morte que os ronda, e para o espectador fica difícil apostar até que ponto isso é uma regra ou uma tendência. De qualquer forma, eles estão ali para renascer, ou para viver seus últimos anos.

A personagem de Judi se queixa de que Jaipur é uma permanente afronta aos sentidos (cerca de 2,46 milhões de habitantes...), mas a verdade é que cada um deles vai mostrar, e muito, sobre a essência da nossa estada nesse planetinha e sobre a urgência de um outro tipo de coragem para se relacionar com a vida na chamada Melhor Idade.

“O Exótico Hotel...” ora angustia porque não mente, surpreende pelo encaixe das coisas triviais nos lugares certos e suscita um sem número de reflexões naqueles que estão prontos para se sintonizar com esse trabalho.

Dada altura Judi escreve em seu diário: a medida do sucesso está em como lidamos com as nossas decepções.
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 21/08/2012
Reeditado em 28/06/2021
Código do texto: T3841782
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.