O Vingador do Futuro (Análise e Crítica)
A cada nova safra de estreias, vem a certeza de que a criatividade em Hollywood anda muito em baixa. Chega neste final de semana ao Brasil “O Vingador do Futuro” (Total Recall), longa-metragem dirigido por Len Wiseman e estrelado por Colin Ferrall, um remake da versão lançada em 1992, cujo protagonista é Arnold Schwarzenegger. Seria muito interessante esboçar comparações entre as duas produções, mas, como não sou fã nem do original, deixo tal missão para outros aventureiros...
Na trama, que vem a ser uma adaptação de um romance de ficção científica escrito por Phillip K. Dick, o espectador é apresentado a um futuro pós-apocalíptico, quando o homem consegue destruir todo planeta e passa a viver somente em dois pontos distintos do globo. No mais pobre, chamado Colônia, mora o personagem de Ferrall, que, inconformado com sua situação, se submete a sessões na clínica Rekall, especializada em construir lembranças na qualidade de fuga da realidade. É nesse momento que o público passa tentado a descobrir se o que se vivencia é realidade ou puramente fruto dessas lembranças por encomenda.
Ao longo da fita, o roteiro perde um pouco esse questionamento e a sede pela busca da verdade, elementos que são substituídos por tiroteios, perseguições e fugas recheadas de adrenalina. Fortemente inspirado por diretores do cinema que sobrepõem os efeitos ao conteúdo, como Michael Bay (“Transformers”), Wiseman quer fazer de sua refilmagem um thriller de ação e entretenimento. Tanto que o diretor se esquece de inserir algumas pitadas de humor e excentricidade, o que faz de sua versão por demasiado realista. E todo sci-fi que se leva muito a sério pode correr o risco de ficar chato. Mesmo perdendo o foco aos poucos, o olhar perdido e deslocado do protagonista ainda remete a situação-cerne, que vira e mexe é posta à tona.
Entretanto, se for possível dizer o que o filme tem de pior, eu sem pestanejar elejo o elenco. Ferrall não é um ator ruim, mas ele se prejudica pela falta de carisma. Não temos vontade de torcer por ele, que ele seja o herói e fique com a mocinha no final. As cenas nos são apresentadas e as digerimos, muitas vezes sem pensar, por conta da rapidez em que brotam na tela. É nítido, pelas cenas descamisadas e pelos fechamentos de câmera no seu rosto, que sua escalação é um chamariz para atrair as namoradas dos rapazes ao cinema, visto que é uma película que atrai mais a atenção masculina que feminina. Tanto que eles, por sua vez, são presenteados por duas lindas atrizes, Jessica Biel e Kate Beckinsale (protagonista da franquia "Anjos da Noite"). Todavia, enquanto a primeira não convence pela inexpressividade, a segunda irrita por conta do caricaturismo. Resta aos poucos coadjuvantes segurarem o filme até o final.
Por outro lado, se há essas falhas, outros elementos se destacam. O primeiro deles são os efeitos digitais. Aproveitando o tom pessimista característico das narrativas de Dick, o novo aspecto do planeta – muito mais hostil, frio e tecnológico – é retratado com maestria. Por vezes, me senti reportado a um cenário de jogos de videogame. Juntamente a eles, a direção de câmera e a trilha sonora formam uma tríade poderosa, que dá à produção o tom necessário de ação e suspense. As sequências de luta e perseguição são muito bem dirigidas e coreografadas, e por vezes o espectador é convidado a vivenciar tal situação pela óptica do personagem, o que sempre proporciona uma emoção maior.
Em meio a todo o tipo de clichê que o gênero comporta, “O Vingador do Futuro” propõe, mesmo que de forma rasa, algumas tematizações sobre questões políticas, científicas e humanas, nas quais podemos refletir tendo como referência o mundo em que vivemos. Sem deixar dúvidas para uma possível continuação (um ponto favorável nos dias de hoje), o filme responde a dúvida que o permeia, e o espectador pode sair do cinema achando aquilo um bom passatempo ou que pelo menos aquele poderia ter sido um filme melhor. Acredito que valha o ingresso. Recomendo.
Nota: 7,0.