Menina de Ouro (Million Dollar Baby – Clint Eastwood – 2005)

Menina de Ouro (Million Dollar Baby – Clint Eastwood – 2005)

Quando comecei minha vida cinéfila Clint Eastwood já tinha bom tempo de carreira e até hoje não me aprofundei em sua filmografia, mas do tempo que eu despertei para cá é inegável sua evolução como diretor.

Em Meia Noite no Jardim do Bem e do Mal ele já mostrava uma sensibilidade para lidar com dois lados de um mesmo problema e suas variantes e interpretações, sem, contudo julgar nada.

O que vai se concretizar de forma absoluta nos dois últimos filmes que fez, em Sobre Meninos e Lobos, não há julgamentos e sim ações, conseqüências e consciências para conviver com isso. E nesse último exemplar de sua filmografia a coisa é tratada muito mais sutilmente, de forma brilhante.

Menina de Ouro fala sobre a vida de um treinador, que por motivos pessoais, não consegue arriscar, seja para proteger(-se), ou por que alguns bloqueios o impedem de ousar, arriscar. E fala sobre uma mulher, com certa idade, que sonha em ser lutadora. Faz de tudo para isso.

Entra em cena, em meio a uma narração soberba de Morgan Freeman, o relacionamento entre o treinador e a lutadora. Mentes e filosofias batem de frente, se complementando. Uma tinhosa, o outro cheio de barreiras. Os dois carentes.

A eutanásia surge como discussão base do filme, o que, a meu ver, vai ser trocada ao longo dos anos, pois só está em vigor devido à moda do assunto. Um caso de eutanásia rolou pelos telejornais durante o ano de estréia do filme.

Achei Menina de Ouro um filme estupendamente bem equilibrado e sensível.

A direção é altamente segura de si e não se desfaz por maneirismos, preciosidades, necessidades financeiras nem nada. Clint conseguiu a mão certa para retratar a vida simples com seus questionamentos. Ele encarou a sua velhice como ponto para prismatizar os problemas através de ângulos mais sensíveis.

O trabalho com sonhos, frustrações e expectativas também é fantástico. É como se ele dissesse para os jovens: abram os olhos, a vida não é assim, ela requer paciência, você vai enfrentar barreiras difíceis. O lance da eutanásia é um pontinho minúsculo que fez uma presença no filme. A reviravolta, o soco no estomago que é, tem muito mais valor para mim do que a discussão sobre o problema em si. Aquele, abra o olho, isso pode acontecer com qualquer um a qualquer hora. Pode ser um carro, uma faca, um abraço, uma queda, um soco!

É terrivelmente palpável o filme e quando terminou o torpor ainda ficava tomando conta da mente.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 27/07/2005
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