Entre os Muros da Escola


 *imagem da web


 
Entre os muros da escola... vidas. Acuadas pela violência das ruas, pela insegurança, pela falta de modos e limites dos estudantes, desanimadas com a falta de responsabilidade de pais e mães e a falta de respeito das autoridades com algo tão especial que é um espaço educativo.
 
Entre os muros da escola... diversidades. Crenças, falares diversos, valores, jeitos de se relacionar, de sonhar, de construir subjetividades e a quase incapacidade da própria escola em achar seus caminhos e resolver os seus problemas. Como lidar com alunos de culturas tão diversas e presentes no século 21 do mesmo jeito que lidou com os alunos dos séculos anteriores?
 
Entre os muros da escola, um tempo confuso. Permissividade, indisciplina, intolerância, medo, discussões sem sentido, cidadania de papel... Ao mesmo tempo, esperança e sonho.O filme teve o mérito de, ao me mostrar o cotidiano de uma escola tão cheia de conflitos e tão perdida para encontrar seu próprio caminho, me deixar mais convicta ainda do papel social importante que deve desempenhar para construir outro jeito de pensar e viver, de cada um e cada uma aprender com as diferenças a conquistar um lugar no mundo. Nesse mundo.
 
Entre os Muros (da Escola, na edição brasileira) arrebatou diversos prêmios – da Palma de Ouro ao prêmio Cesar,(2008) passando por uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2009, e mesmo mostrando uma realidade europeia, é um filme que deve ser visto por pais e mães, por profissionais da educação e, principalmente por quem se importa, quem tem certeza de que a escola não deve ser abandonada a própria sorte.
 

 

 

"Entre os Muros da Escola" expõe a visão francesa do choque de civilizações*
 
EDILSON SAÇASHIMA
http://cinema.uol.com.br/ultnot/2009/03/11/ult4332u1035.jhtm
  em 11/03/2009
 
    Existe um fosso que separa o professor e os alunos que protagonizam o filme "Entre os Muros da Escola", vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes do ano passado. No microcosmo de uma sala de aula, a expressão "choque de civilizações" poderia ser usada para sintetizar a relação entre eles.
    Há uma diferença cultural e social que gera incompreensão e atrito entre ambas as partes, em um retrato do que seria a França contemporânea. Os muros da escola não são os únicos que revelam uma divisão e uma impenetrabilidade entre dois lados. Há também outros muros invisíveis que estão sugeridos no filme.
    De um lado desse muro está François Marin, um professor de francês vivido por François Bégaudeau, que também é o autor do livro homônimo no qual "Entre os Muros da Escola" é baseado. De outro, está um grupo de alunos entre 13 e 15 anos composto por negros africanos, asiáticos latino-americanos e franceses.
    François pode ser visto como um educador, em um primeiro momento, mas também como uma espécie de colonizador. Seu sobrenome Marin, que pode ser traduzido ao português como marinheiro, sugere alguém que é desbravador dos mares e de novas terras. Seu esforço em fazer com que seus alunos incorporem o idioma francês pode ser interpretado como uma espécie de "processo civilizador" imposto a esses alunos de diferentes etnias.
    A linguagem é o grande campo de batalha onde é travado esse conflito cultural. O filme se sustenta basicamente apenas com longos diálogos, e muitos deles trazem o frescor do improviso. Sem um roteiro em mãos, os jovens puderam criar seus próprios diálogos, o que dá a sensação de que a realidade daqueles garotos invadia a ficção de "Entre Muros".
    A invasão da realidade no filme também se dá através do nome dos personagens, que é a mesma dos jovens na vida real. Porém, duas exceções merecem menção. Khoumba, vivida por Rachel Régulier, é uma aluna chamada de insolente por se recusar a atender uma ordem do professor. Souleymane, interpretado por Franck Keïta, é o garoto problemático que se indispõe com o professor e seus colegas.
    São os dois personagens "rebeldes" e principais questionadores da autoridade de François. Apresentá-los como personagens fictícios parece querer desvinculá-los do mundo real. É como se a visão deste filme francês fosse apenas capaz de ver o "verdadeiro" outro como o "bom selvagem", aquele personagem de outra etnia que se esforça a assimilar a cultura francesa. Talvez por isso, os professores lamentem a possibilidade de deportação do chinês Wei, um aluno dedicado no estudo do francês e bom moço, mas se reúnam para discutir a expulsão de Souleymane, um personagem que vemos falar um outro idioma.
    O filme reforça uma visão colonizadora a partir do ponto de vista de alguém que se toma, mesmo que inconscientemente, como a "civilização". Assim, o outro se torna o retrato da rebeldia que deve ser conquistado através da assimilação da cultura da "civilização".
    Para o público brasileiro, a imagem de alunos que questionam a autoridade do professor e até mesmo são agressivos possibilita outra discussão. Trata-se de um retrato que talvez não seja diferente do que vemos em escolas brasileiras, em que é comum o relato de desrespeito ao mestre. Mas a escola em si não parece ser o principal foco do filme. Tanto que o título original se refere apenas aos muros. A menção à escola no título é uma inclusão da distribuidora do filme no Brasil.
 
*pesquisa na web