“O Artista” (The Artist)

“O Artista” (The Artist)





Palavra que, a única explicação satisfatória para The Artist fazer esse fuzuê todo na Academia - 10 indicações (faturou cinco, incluindo Melhor Filme e Melhor Diretor), sem contar as outras planícies do certame, Globo de Ouro em três categorias, Melhor Ator em Cannes, além de 12 nomeações no BAFTA, e sabe-se que lá o que mais - descansa numa singela hipótese: esse trabalho artístico é mais uma ferramenta de comunicação do Plano, dizendo COM TODAS AS LETRAS, ao claudicante ser humano – ou muda, ou muda. Não há opção. E de quebra fizeram uma ironia, com um filme mudo.

Todo The Artist é uma parábola musicada, com meia dúzia de malandragens inteligentes do diretor e roteirista Michel Hazanavicius, acerca desse dilema universal e de acordo com o Plano (Espiritual), cada vez mais urgente: brô, sister, papo é o seguinte – as coisas mudam. Para quem está mais focado nas coisas externas, restam as palavras de Seth Godin, papa do marketing na internet: o mundo se transformou, pare de defender o que vai acabar, se você não quiser acabar junto.

Imagine que amanhã, via decreto governamental, com o apoio de uma operadora e uma cervejaria (ou duas cervejarias), todas as pessoas, independente de cor, raça, sexo, credo, idade, etc., sejam obrigadas a se tornar corintianas. Caso contrário não tiram passaporte, não votam, não recebem prêmio da loteria e pensão do INSS. E você bate no peito e proclama: eu não, sou Palmeiras e fim de conversa. Ou, torço para o Bangu e assunto encerrado. Mas, atente, a caravana passa rápido e você deveria ter mudado...

Parecia absurdo para o bem sucedido ator de filmes mudos George Valentin (Jean Dujardin) que o cinema pudesse vir a falar, e com isso despejar no toalete todo o seu trabalho, fama e prestígio. Todavia, foi o que sucedeu, e aquela menina linda, uma mera figurante num de seus filmes, Peppy Miller (interpretada por Bérénice Bejo), vai pegar carona na nova onda e se tornar um sucesso.

Além de um profundo sentimento, há um link semiótico entre os dois, vide a cena em que ela acha o único rolo de filme que ele não queimou – onde os dois dançam coladinhos.

John Goodman enceta o chefe do estúdio e avisa Valentin que cinema falado é o futuro, ao que, do alto da sua glória, o astro retruca com ironia – se isso é o futuro, fique com ele.

Michel Hazanavicius, cineasta e roteirista francês, safra de 67, labutou no Canal Plus, dirigiu comerciais, desceu a lenha nos gringos com “La Classe américaine” (1993), e cerca de 10 anos depois se destacou com “OSS 117: Cairo, Nest of Spies”. Jean Dujardin veio daí.

Penelope Ann Miller e Malcolm McDowell fazem suas aparições e James Cromwell personifica Clifton, o motorista do artista. Você conhece ele de incontáveis carnavais, quase sempre como a eminência parda do mal em produções que variam de A a Z.

Peppy Miller sobe como um cometa na sua carreira de atriz falante ao passo que Valentin desce todos os degraus possíveis, entre eles penúria, cachaça e tentativa de suicídio.

Enfim, eis “O Artista”, uma ladainha muda em preto e branco, e o melhor que você pode fazer é se colocar no lugar do protagonista para ascender alguns pontos na senda espiritual.

Valentin, na sua obstinação e como toda pessoa que precisa de ajuda e ao mesmo tempo não pede e não aceita, vai ver sua salvação na pele de uma corintiana.




 
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 17/07/2012
Reeditado em 28/06/2021
Código do texto: T3782510
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