“Histórias Cruzadas” (The Help)
“Histórias Cruzadas” (The Help)
Viola Davis, de acordo com o jornal eletrônico do metrô, é considerada a terceira pessoa mais influente do mundo. Se você souber por que, por favor, envie uma carta para cá (para eu, ou para mim), burrocomoumaporta@redassão.com. De resto, Viola é uma baita atriz. Nesse filme, porém, ela divide a ribalta com Octavia Spencer, que literalmente rouba a cena e levou o Globo de Ouro 2012 de Melhor Atriz Coadjuvante.
Comecemos pela capa (sim, eles fazem várias), simples e eficiente trabalho de direção de arte que se resume numa fotografia. Te atinge em triplo, uma vez assistido o filme. Antes não. Antes é apenas uma foto. Depois...Na capa também consta a frase: um ato de coragem pode transformar tudo.
Por mais que o Cine Ianque bata firme no lance do nazismo, depois de assistir “Histórias Cruzadas”, ocorre a interjeição: uai. Por outro lado, há décadas o Cine Ianque age como um conta gotas, mostrando partículas do que foi o racismo no sul do país, em geral com boas doses de truculência. Parece que na sua “mea culpa” a América vai digerindo a questão, e por tabela, o mundo. Todavia, na presente obra vê-se o tamanho da raiz e os raciocínios da bestialidade.
Emma Stone faz a personagem Skeeter, redatora e única loira do pedaço a sacar que o comportamento das amigas em relação às suas empregadas domésticas era um tanto anômalo, para não dizer desumano.
Baseado no livro de Kathryn Stockett, (que seria a própria Skeeter), é como já se disse, “The Help” não trata o racismo através da brutalidade no sentido físico, embora esta ronde o ambiente como uma sombra nada sutil. O trabalho da autora desvenda a enormidade da raiz segregacionista e que, assim como o nazismo, tal bestialidade raciocina. Vide o manual impresso de conduta para os cidadãos caucasianos de Jackson, Mississipi, em meados dos anos 60.
Aquilo que se conhece por “formalidade visual”, que visa organizar participantes e arredores num enquadramento que torne palatável a realidade proposta de um filme só não acerta em cheio por não ser uma grande produção. Mas acerta. Tate Taylor, amigo pessoal da autora, ganhou o sinal verde para roteirizar em 2008 e também assina a direção - graças às forças benéficas do cosmo ele ainda não foi contaminado com o vírus que fecha todos os planos transformando essa diversão num martírio.
Seres avançados na senda espiritual explicam que a entidade, conhecida por nós, brasileiros, como Preto Velho, reúne pessoas que após o passamento decidiram ficar por aqui para transbordarem o seu amor aos necessitados. As “maids” de Jackson são a encarnação do amor, e o transmitem incondicionalmente às crianças brancas, do berço à maioridade, sendo a própria Skeeter uma testemunha desse fato, talvez por tê-lo vivenciado na pele.
A ação se passa no início dos 60, praticamente na era Kennedy, duas pistas surgem na trama de modo parcimonioso, primeiro um comentário sobre o vestido de Jackie numa capa de revista, (com isso subentende-se que o marido está vivo), e depois com uma imagem rápida de TV sobre o funeral dele.
Em algum ponto dos 90 o cinema tratou com alguma seriedade essa questão. Sissy Spacek e Whoopi Goldberg dividiram o palco, a primeira como patroa e a segunda como subordinada. Um trabalho tímido se comparado com o que é exposto em “Histórias Cruzadas”. Sissy faz uma ponta por aqui.
As loiras de Jackson, diferentes das mulheres de Atenas, prezam pela futilidade, com vidas restritas a carteado, fofocas, bebedeiras e chazinhos beneficentes para boi dormir. São, entretanto, fruto de um sistema de crenças que até hoje mantém seus sinais vitais em curso – se não se escracha o próximo pela cor da pele, pisoteia-se nele da mesma forma fazendo uso de outras ferramentas, tais quais grana, privilégios, conhecimento, status, etc.
Skeeter, peixe fora d‘água nesse contexto, foi predestinada a escrever um livro que contasse o ponto de vista das segregadas. Sem dúvida nenhuma um ato de coragem, tanto dela quanto das depoentes. Além de ser um instrutivo e competente trabalho cinematográfico, The Help fornece ainda conclusões outras que não constam na narrativa, mas que pavimentam o pensar.
Por exemplo, aqueles sujeitos todos encapuzados, (um capuz branco e pontudo), cheios de motivação e perpetuando maldades, tinham amplo respaldo para essas ações dentro de suas casas e, pasmem, tal respaldo usava saias.
“Histórias Cruzadas” (The Help)
Viola Davis, de acordo com o jornal eletrônico do metrô, é considerada a terceira pessoa mais influente do mundo. Se você souber por que, por favor, envie uma carta para cá (para eu, ou para mim), burrocomoumaporta@redassão.com. De resto, Viola é uma baita atriz. Nesse filme, porém, ela divide a ribalta com Octavia Spencer, que literalmente rouba a cena e levou o Globo de Ouro 2012 de Melhor Atriz Coadjuvante.
Comecemos pela capa (sim, eles fazem várias), simples e eficiente trabalho de direção de arte que se resume numa fotografia. Te atinge em triplo, uma vez assistido o filme. Antes não. Antes é apenas uma foto. Depois...Na capa também consta a frase: um ato de coragem pode transformar tudo.
Por mais que o Cine Ianque bata firme no lance do nazismo, depois de assistir “Histórias Cruzadas”, ocorre a interjeição: uai. Por outro lado, há décadas o Cine Ianque age como um conta gotas, mostrando partículas do que foi o racismo no sul do país, em geral com boas doses de truculência. Parece que na sua “mea culpa” a América vai digerindo a questão, e por tabela, o mundo. Todavia, na presente obra vê-se o tamanho da raiz e os raciocínios da bestialidade.
Emma Stone faz a personagem Skeeter, redatora e única loira do pedaço a sacar que o comportamento das amigas em relação às suas empregadas domésticas era um tanto anômalo, para não dizer desumano.
Baseado no livro de Kathryn Stockett, (que seria a própria Skeeter), é como já se disse, “The Help” não trata o racismo através da brutalidade no sentido físico, embora esta ronde o ambiente como uma sombra nada sutil. O trabalho da autora desvenda a enormidade da raiz segregacionista e que, assim como o nazismo, tal bestialidade raciocina. Vide o manual impresso de conduta para os cidadãos caucasianos de Jackson, Mississipi, em meados dos anos 60.
Aquilo que se conhece por “formalidade visual”, que visa organizar participantes e arredores num enquadramento que torne palatável a realidade proposta de um filme só não acerta em cheio por não ser uma grande produção. Mas acerta. Tate Taylor, amigo pessoal da autora, ganhou o sinal verde para roteirizar em 2008 e também assina a direção - graças às forças benéficas do cosmo ele ainda não foi contaminado com o vírus que fecha todos os planos transformando essa diversão num martírio.
Seres avançados na senda espiritual explicam que a entidade, conhecida por nós, brasileiros, como Preto Velho, reúne pessoas que após o passamento decidiram ficar por aqui para transbordarem o seu amor aos necessitados. As “maids” de Jackson são a encarnação do amor, e o transmitem incondicionalmente às crianças brancas, do berço à maioridade, sendo a própria Skeeter uma testemunha desse fato, talvez por tê-lo vivenciado na pele.
A ação se passa no início dos 60, praticamente na era Kennedy, duas pistas surgem na trama de modo parcimonioso, primeiro um comentário sobre o vestido de Jackie numa capa de revista, (com isso subentende-se que o marido está vivo), e depois com uma imagem rápida de TV sobre o funeral dele.
Em algum ponto dos 90 o cinema tratou com alguma seriedade essa questão. Sissy Spacek e Whoopi Goldberg dividiram o palco, a primeira como patroa e a segunda como subordinada. Um trabalho tímido se comparado com o que é exposto em “Histórias Cruzadas”. Sissy faz uma ponta por aqui.
As loiras de Jackson, diferentes das mulheres de Atenas, prezam pela futilidade, com vidas restritas a carteado, fofocas, bebedeiras e chazinhos beneficentes para boi dormir. São, entretanto, fruto de um sistema de crenças que até hoje mantém seus sinais vitais em curso – se não se escracha o próximo pela cor da pele, pisoteia-se nele da mesma forma fazendo uso de outras ferramentas, tais quais grana, privilégios, conhecimento, status, etc.
Skeeter, peixe fora d‘água nesse contexto, foi predestinada a escrever um livro que contasse o ponto de vista das segregadas. Sem dúvida nenhuma um ato de coragem, tanto dela quanto das depoentes. Além de ser um instrutivo e competente trabalho cinematográfico, The Help fornece ainda conclusões outras que não constam na narrativa, mas que pavimentam o pensar.
Por exemplo, aqueles sujeitos todos encapuzados, (um capuz branco e pontudo), cheios de motivação e perpetuando maldades, tinham amplo respaldo para essas ações dentro de suas casas e, pasmem, tal respaldo usava saias.