“J. Edgar” (J. Edgar)
“J. Edgar” (J. Edgar)
Dualismo foi ontem. O que a Mente Universal prega agora é a consciência unificada e a visão polivalente.
Provavelmente Eastwood está atinado com esses fatores.
Cinema, que no futuro será encarado como uma grande escola de comunicação, nos últimos tempos nos presenteia com pegadinhas sofisticadas. “Rede Social” é um bom exemplo, pois debaixo daquele andamento vigoroso, plasticidade idem e música de arrepiar, deixa claro que no fim de contas o criador do Facebook é grandessíssimo FDP.
E como qualificar o patrono do FBI? Clint Eastwood deixa a questão para a posteridade.
Finda a obra fica a conclusão de que J. Edgar Hoover, nascido em 1895 (Washington, D.C.) e falecido em 2 de maio de 1972, foi uma espécie de robô missionário, um tanto edipiano e ao que tudo indica homossexual, mas, saibam de antemão, o universo não dá muita bola para detalhes – o lance dele é o resultado.
Leonardo DiCaprio faz o Hoover de vinte e poucos anos e a maquiagem consegue colocá-lo no trilho que avança e envelhece, até o último suspiro, aos 77 anos de idade.
Em 1919 oito bombas explodiram nos States, mesmo dia e mesma hora – 23 h, endereçadas para dois senadores, um juiz do supremo, dois milionários e outros. DiCaprio/Hoover começa aí – ele já tem em mente a idéia de organizar informações sobre meliantes organizados, ele já pensa em provas e em impressões digitais, e cinco anos depois (1924), se torna chefe do departamento.
Dustin Lance Black assina o roteiro, (foi ele quem escreveu Milk), tudo flui na base do flashback, DiCaprio dita para agentes escritores como tudo começou.
O nosso Millor, em torno da maioridade, precisou ir ao cartório ver a certidão de nascimento e quando ele bateu o olho no que estava escrito deixou de ser Milton para se tornar Millor. E ele conta que tudo foi na maior naturalidade – saiu dali e participou a amigos e parentes que daquela data em diante se chamaria Millor e todos disseram amém. Missionários... O caso de John Edgar foi mais prosaico – ele estava na alfaiataria e um outro John Hoover comprara fiado. “Assim não dá”, deve ter pensado o homem desprovido de parentes e amigos (só a mãe - Judi Dench) e a secretária de vida inteira, miss Gandy.
Clint desenvolveu sofisticadas habilidades ao longo de sua carreira, uma delas é a de disfarçar mulheres. Fez isso muito bem com Angelina Jolie em “A Troca”. Aqui, o espectador desavisado se pergunta o filme inteiro: “onde foi que eu vi essa miss Gandy?”. Bom, ela se chama Naomi Watts...
Há uma foto na web do verdadeiro Hoover em fim de carreira e fica difícil negar a habilidade dos maquiadores no DiCaprio envelhecido e doidivanas, narrando sua vida à meia luz, tomando injeções para se manter de pé e fazendo péssimo uso de seu poder. Ambivalência no caso dele é pouco. Se por um lado quebrou a cabeça para colocar em cana um membro do alto escalão da KKK, por outro jogou sujo com Luther King, plantando notícias falsas e fazendo ameaças reais. O Hoover de verdade e até onde se sabe foi tido como intocável. O Hoover do filme, no caso da morte de JFK, age como se soubesse da existência de forças capazes de gerar um desfecho como aquele. Era uma nova América surgindo e com essa ele não podia. Depois de 38 anos no poder um personagem lhe amedrontou: Nixon.
Hoover cessou os bombardeios dos extremistas nos anos 20, enfrentou a Depressão e os assaltantes (aclamados pelo público e mídia), peitou 8 presidentes, tornou o seqüestro crime federal e transformou um escritório de meia pataca, com agentes sem porte de arma e ainda por cima corruptos, na maior organização policial do planeta. Em 1972, os arquivos do FBI possuíam mais de 200 milhões de impressões digitais.
“Os atos cruéis de marginais indo de um estado a outro como alcatéias constituem uma invasão armada ao nosso país”.
Desnecessário enfatizar o quanto essas palavras poderiam ser usadas em nossos noticiários, locais ou nacionais. J. Edgar usou-as para pleitear mais verbas ao seu departamento, na década de 30.
Esse último trabalho de Clint Eastwood pode ser definido com um filme sem frescuras, sobre um personagem cuja vida merecia a "análise" de um grande cineasta. E de novo o resultado aparece – a obra acrescenta.
Enfim, vão-se os anéis e fica a história, suspirando para que alguém aprenda alguma coisa com ela, justo ela, que vive dizendo –
lembre-se, seu passado é o seu melhor professor.
“J. Edgar” (J. Edgar)
Dualismo foi ontem. O que a Mente Universal prega agora é a consciência unificada e a visão polivalente.
Provavelmente Eastwood está atinado com esses fatores.
Cinema, que no futuro será encarado como uma grande escola de comunicação, nos últimos tempos nos presenteia com pegadinhas sofisticadas. “Rede Social” é um bom exemplo, pois debaixo daquele andamento vigoroso, plasticidade idem e música de arrepiar, deixa claro que no fim de contas o criador do Facebook é grandessíssimo FDP.
E como qualificar o patrono do FBI? Clint Eastwood deixa a questão para a posteridade.
Finda a obra fica a conclusão de que J. Edgar Hoover, nascido em 1895 (Washington, D.C.) e falecido em 2 de maio de 1972, foi uma espécie de robô missionário, um tanto edipiano e ao que tudo indica homossexual, mas, saibam de antemão, o universo não dá muita bola para detalhes – o lance dele é o resultado.
Leonardo DiCaprio faz o Hoover de vinte e poucos anos e a maquiagem consegue colocá-lo no trilho que avança e envelhece, até o último suspiro, aos 77 anos de idade.
Em 1919 oito bombas explodiram nos States, mesmo dia e mesma hora – 23 h, endereçadas para dois senadores, um juiz do supremo, dois milionários e outros. DiCaprio/Hoover começa aí – ele já tem em mente a idéia de organizar informações sobre meliantes organizados, ele já pensa em provas e em impressões digitais, e cinco anos depois (1924), se torna chefe do departamento.
Dustin Lance Black assina o roteiro, (foi ele quem escreveu Milk), tudo flui na base do flashback, DiCaprio dita para agentes escritores como tudo começou.
O nosso Millor, em torno da maioridade, precisou ir ao cartório ver a certidão de nascimento e quando ele bateu o olho no que estava escrito deixou de ser Milton para se tornar Millor. E ele conta que tudo foi na maior naturalidade – saiu dali e participou a amigos e parentes que daquela data em diante se chamaria Millor e todos disseram amém. Missionários... O caso de John Edgar foi mais prosaico – ele estava na alfaiataria e um outro John Hoover comprara fiado. “Assim não dá”, deve ter pensado o homem desprovido de parentes e amigos (só a mãe - Judi Dench) e a secretária de vida inteira, miss Gandy.
Clint desenvolveu sofisticadas habilidades ao longo de sua carreira, uma delas é a de disfarçar mulheres. Fez isso muito bem com Angelina Jolie em “A Troca”. Aqui, o espectador desavisado se pergunta o filme inteiro: “onde foi que eu vi essa miss Gandy?”. Bom, ela se chama Naomi Watts...
Há uma foto na web do verdadeiro Hoover em fim de carreira e fica difícil negar a habilidade dos maquiadores no DiCaprio envelhecido e doidivanas, narrando sua vida à meia luz, tomando injeções para se manter de pé e fazendo péssimo uso de seu poder. Ambivalência no caso dele é pouco. Se por um lado quebrou a cabeça para colocar em cana um membro do alto escalão da KKK, por outro jogou sujo com Luther King, plantando notícias falsas e fazendo ameaças reais. O Hoover de verdade e até onde se sabe foi tido como intocável. O Hoover do filme, no caso da morte de JFK, age como se soubesse da existência de forças capazes de gerar um desfecho como aquele. Era uma nova América surgindo e com essa ele não podia. Depois de 38 anos no poder um personagem lhe amedrontou: Nixon.
Hoover cessou os bombardeios dos extremistas nos anos 20, enfrentou a Depressão e os assaltantes (aclamados pelo público e mídia), peitou 8 presidentes, tornou o seqüestro crime federal e transformou um escritório de meia pataca, com agentes sem porte de arma e ainda por cima corruptos, na maior organização policial do planeta. Em 1972, os arquivos do FBI possuíam mais de 200 milhões de impressões digitais.
“Os atos cruéis de marginais indo de um estado a outro como alcatéias constituem uma invasão armada ao nosso país”.
Desnecessário enfatizar o quanto essas palavras poderiam ser usadas em nossos noticiários, locais ou nacionais. J. Edgar usou-as para pleitear mais verbas ao seu departamento, na década de 30.
Esse último trabalho de Clint Eastwood pode ser definido com um filme sem frescuras, sobre um personagem cuja vida merecia a "análise" de um grande cineasta. E de novo o resultado aparece – a obra acrescenta.
Enfim, vão-se os anéis e fica a história, suspirando para que alguém aprenda alguma coisa com ela, justo ela, que vive dizendo –
lembre-se, seu passado é o seu melhor professor.