Sombras da Noite (Análise e Crítica)

O que se pode esperar de um longa-metragem que tenha Tim Burton como diretor e Johnny Depp no papel principal? No mínimo, excentricidade. Pois bem, eis que estréia neste final de semana, no Brasil, “Sombras da Noite” (Dark Shadows), filme inspirado no seriado de TV homônimo e que marca a oitava parceria entre o diretor e o ator; parceria essa que começou em 1990, com a comédia gótica “Edward Mãos-de-tesoura”. Entretanto, o que se apresenta ao espectador desta vez quiçá seja um indício de que houve um provável desgaste.

A narrativa apresenta a história de Barnabas Collins, um homem transformado em vampiro por uma bruxa por ele desprezada, no final do século XVIII. Acorrentado dentro de um caixão de ferro, é acidentalmente liberto no ano de 1972. Volta à sua antiga mansão e encontra o que resta de sua família, falida e afundada em dívidas e problemas típicos. Ocorre que a bruxa que o aprisionou se transforma na mais importante empreendedora da cidade, adorada por todos, e serão de Barnabas as difíceis tarefas de desmascará-la e trazer novamente sua família à glória.

Neste contexto, os mais diversos clichês acontecem: além das figuras rotineiras em uma família problemática – a adolescente rebelde, o caçula desprezado, o membro pilantra e ladrão –, Barnabas se apaixona pela reencarnação de sua adorada, interpretada pela insossa Bella Heathcote, uma jovem que no passado fora internada pelos pais em um hospício pois conversava com fantasmas, com quem ele fará de tudo para ficar.

Todos sabemos quão apressadamente o longa foi gravado, e quanto isso deva ter prejudicado ao roteiro. Por tal, essas e outras situações fazem que o mesmo seja o ponto fraco da película. Escrito por John August e Seth Grahame-Smith, os argumentos não são bem desenvolvidos e nem trazem inovações ou pelo menos surpresas. Qualquer um consegue perceber que o filme começa com ótimas apresentações dos personagens, mas que aos poucos vai se perdendo por não conseguir justamente desenrolar as muitas tramas paralelas. Ademais, a história se torna bastante previsível, e o espectador somente fica esperando pelo que irá acontecer. Inclusive, forçadas de barra, como o baile com a presença de Alice Cooper: desnecessário, pois nada acrescenta à trama.

Por outro lado, existe a hipótese de o filme ser propositalmente baseado em clichês, até como forma de satirizar o gênero "terror pop". Mas tal intenção, se for o caso, deveria vir mais explícita, e boas estratégias seriam a metalinguagem e um final diferenciado, que fugiria da própria crítica e mostraria originalidade. Da forma leve como se apresentaram as referências, a sátira não se desenvolveu, permanecendo estagnada no nível da ironia; por isso, a ambiguidade.

Contudo, o que mais me deixou incomodado foi o pouco aproveitamento da atriz Helena Carter pelo roteiro. A ela, que já fez parcerias incríveis com Depp, destinou-se um papel terciário, praticamente sem importância alguma à trama. Diferente de Michelle Pfeiffer, que não é grande atriz, mas está presente na maioria das cenas embora não as roube – como o esperado. Está no padrão Pfeiifer, dando vida à matriarca da família, mesclando sensibilidade com autoridade de forma fraternal.

Se a direção e o roteiro não surpreendem, outros elementos valorizam a produção. Trilha sonora, figurino, direção de arte e efeitos especiais reafirmam o gosto de Burton pelo exagero, mesmo dentro de um certo lugar-comum. Pois, se observados, seus trabalhos mais recentes estão dentro de uma “esquizofrenia” um pouco irritante, que parece denunciar que o diretor precisa se reinventar. Sim, há um grau de narcisismo em suas obras, como se seus filmes fossem timbrados por um selo ‘Tim Burton Ltda’, o que já pode estar cansando inclusive a ele mesmo.

Mesmo assim, vale sair de casa e ir ao cinema. Senti falta da singularidade de Depp – qualquer BOM ator poderia interpretar Barnabas – e da boa direção de Burton. Claro que essa produção não mancha(rá) de maneira alguma sua filmografia (querem coisa pior que “Marte Ataca!”?), é só que depois do inadjetivável “Sweeney Todd” creio que ficará difícil para a dupla romper aquele grau de excelência. Todavia, pelo bem do Cinema e dos seus fãs, que nunca deixem de tentar!

Nota: 6,0.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 23/06/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3740025
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