O Corvo (Análise e Crítica)
Para os amantes da literatura gótica e de horror, o poeta e contista Edgar Allan Poe é visto como um dos grandes nomes do gênero, muito em moda durante a metade do século XIX. Inspirado em ninguém menos que seu contemporâneo Lord Byron e outros intelectuais adeptos ao Ultrarromantismo, os textos de Poe são sempre recheados de misteriosos assassinatos, personagens suspeitos e cenários sombrios.
A fim de capturar esses elementos, a produção dirigida por James McTeigue estreia neste final de semana no circuito brasileiro de cinema. Com uma premissa bastante interessante, um serial killer começa a cometer crimes igualmente aos descritos nos textos do escritor. Inicialmente suspeito, cabe a Poe, interpretado por John Cusack, prever qual será o próximo crime e ajudar a polícia a achar o verdadeiro homicida. Mas tudo pode ser posto a perder quando Emily (Alice Eve), namorada do poeta, é feita refém. Então, será preciso correr contra o tempo.
Para esses mesmos fãs do escritor, é bom ir ao cinema sabendo que o filme não se trata de uma biografia, sendo apenas uma homenagem mal organizada à sua obra. Querendo capturar o maior número de referências possíveis, cenas de suas narrativas são jogadas a esmo, em um roteiro previsível, em que o suspeito passa a ser o herói da trama, em interpretação, aliás, muito rasa de Cusack, que por sinal só vem fazendo filmes ruins e papéis medíocres nos últimos anos. Ou alguém consegue se esquecer do lixo cinematográfico que é “2012”?
Inclusive, um dos fatores que devem incomodar a vários apaixonados pelo mestre é o fato de sua história de vida ser modificada em diferentes aspectos. A morte do verdadeiro poeta é um mistério, condizente até com sua própria obra por sinal, mas em “O Corvo” o que se apresenta é um Poe racional demais, lógico. Se a proposta do longa era a de mostrar os últimos dias de vida deste norte-americano, que foi encontrado em estado de loucura na rua e morreu dias após em um hospital sem conseguir articular seus pensamentos, o personagem deveria se mostrar mais passional, perturbado e cansado. Relacionar-se-ia, ademais, até com o próprio perfil empregado em sua literatura.
Porém, se os personagens, direção e roteiro não dizem muito a que vieram, a direção de arte com seus cenários não chega a arrasar, mas também não faz feio. Texto, trilha sonora e efeitos também não decepcionam, porém também não surpreendem. Enfim, tudo fica dentro de uma regularidade em um filme cuja premissa é grandiosa.
No mais, pelo menos traz de volta o nome deste autor aos holofotes. Esquecido pelas grandes editoras nacionais há anos, quem sabe assim não preparam uma coletânea com alguns dos seus melhores contos e poemas? Enquanto não se tem isso, fiquemos com o filme, que pode agradar a pessoas mais ortodoxas e que não abrem mão de velhos clichês em películas do gênero.
Nota: 6,0.