“Tudo pelo Poder” (The Ides of March)
“Tudo pelo Poder” (The Ides of March)
Ao longo do texto, entre aspas, algumas pérolas de campanha do governador Morris (George Clooney).
“(Enquanto governo), acredito que devemos ser julgados pela forma como cuidamos daqueles que não podem cuidar de si mesmos”.
Título infeliz (o traduzido) para um trabalho inteligente, ou, se preferir e sem querer fazer rima, é muito legal quando o cineasta não trata o espectador como um débil mental.
George Clooney adapta para o cinema, dirige e estrela a peça de Beau Willimon, um cara que definitivamente sabe escrever.
The Ides... abriu o Festival de Veneza em 2011 e tem entre os produtores executivos Leonardo DiCaprio. Não que isso seja exatamente uma curiosidade, mas Leonardo ao menos se esforça em não jogar o nome dele na lama se envolvendo em presepadas cinematográficas de décima nona categoria, a exemplo de tantos outros. Percebe-se em The Ides um cuidado quase maternal com as coisas da arte e como elas são conduzidas.
George Clooney faz o governador em campanha com uma munição de ideais que sopram como brisa primaveril na audiência e ainda por cima se sustentam com base de argumentação. Com outras palavras ele não é o político Lado B, conspurcado, rançoso, demagogo, vociferante. E ele tem um aliado – aí entra o grande herói da trama - Ryan Gosling.
“Temos inimigos. Temos que entender por que são inimigos e ver se podemos fazer algo além de usar a força. Por experiência, sabemos que a resposta ao extremismo não pode ser extrema”.
Resumindo e concluindo o papel de Gosling, (ator e músico canadense, mais conhecido pelos seus desempenhos em "Diário de Uma Paixão" e "Tolerância Zero") - ele trabalha para o governador e dado momento toma uma rasteira cabulosa, perde o emprego e consegue retomar o curso do mesmo modo que o Rei fazia das suas: matava a bola no peito e pintava o sete. Ou como dizia o Ali: danço como uma borboleta e aferrôo como uma abelha. Tanto faz. O tipo de espectador para esse tipo de trabalho fartou-se às náuseas da escolinha “pega, mata e come”, etc. Na verdade, o astro maior de The Ides... movimenta-se pelo campo das idéias e tem vários apelidos –habilidade é um deles.
“(Pena de morte) E se alguém matasse a sua esposa, governador?
- Se eu achasse o assassino, descobriria um jeito de matá-lo.
- Então o sr. apóia a pena de morte?
- Não, eu cometeria um crime e iria alegremente apara a prisão.
- E por que não permite que a sociedade o faça?
- Porque a sociedade tem que ser melhor que o indivíduo”.
George Clooney, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti e outros enfeitam a obra.
Cinema americano, quando encasqueta em enveredar pelos meandros da política sem truculência, mostra um ângulo muito interessante da máquina eleitoreira de lá - o campo das idéias. Redatores proliferam pois lá descobriu-se, há tempos, que por trás de toda palavra existe uma idéia.
A pregação do governador Morris cativa gregos e troianos, e não seria de todo incorreto supor que o autor desta peça (Beau Willimon), tenha sorvido umas gotas no texto impecável de Aaron Sorkin, autor do seriado “West Wing”, jóia rara no mundo dos seriados que vicejou entre 99 e início deste milênio, transbordante de princípios e valores éticos. Não obstante, o próprio Beau Willimon conta que esta redação se deu enquanto participava da campanha de Howard Dean para presidência, em 2004. Assim, ele conheceu na carne aquilo que se diz “bastidores”.
“(Aborto) Não concebo a idéia de alguém dizendo a uma mulher o que fazer com seu corpo”.
“Tudo pelo Poder” é um filme para ser assistido de olho no botão do pause, porque ele é malandramente rápido entre uma situação e outra, entre uma fala e outra, lugar comum ali parece que aparece, mas não aparece, a sinopse oficial aponta um caso de corrupção na história, bobagem, a grande corrupção está tanto no título traduzido quanto, principalmente, nas democracias que obrigam o povo a votar.
“Tudo pelo Poder” (The Ides of March)
Ao longo do texto, entre aspas, algumas pérolas de campanha do governador Morris (George Clooney).
“(Enquanto governo), acredito que devemos ser julgados pela forma como cuidamos daqueles que não podem cuidar de si mesmos”.
Título infeliz (o traduzido) para um trabalho inteligente, ou, se preferir e sem querer fazer rima, é muito legal quando o cineasta não trata o espectador como um débil mental.
George Clooney adapta para o cinema, dirige e estrela a peça de Beau Willimon, um cara que definitivamente sabe escrever.
The Ides... abriu o Festival de Veneza em 2011 e tem entre os produtores executivos Leonardo DiCaprio. Não que isso seja exatamente uma curiosidade, mas Leonardo ao menos se esforça em não jogar o nome dele na lama se envolvendo em presepadas cinematográficas de décima nona categoria, a exemplo de tantos outros. Percebe-se em The Ides um cuidado quase maternal com as coisas da arte e como elas são conduzidas.
George Clooney faz o governador em campanha com uma munição de ideais que sopram como brisa primaveril na audiência e ainda por cima se sustentam com base de argumentação. Com outras palavras ele não é o político Lado B, conspurcado, rançoso, demagogo, vociferante. E ele tem um aliado – aí entra o grande herói da trama - Ryan Gosling.
“Temos inimigos. Temos que entender por que são inimigos e ver se podemos fazer algo além de usar a força. Por experiência, sabemos que a resposta ao extremismo não pode ser extrema”.
Resumindo e concluindo o papel de Gosling, (ator e músico canadense, mais conhecido pelos seus desempenhos em "Diário de Uma Paixão" e "Tolerância Zero") - ele trabalha para o governador e dado momento toma uma rasteira cabulosa, perde o emprego e consegue retomar o curso do mesmo modo que o Rei fazia das suas: matava a bola no peito e pintava o sete. Ou como dizia o Ali: danço como uma borboleta e aferrôo como uma abelha. Tanto faz. O tipo de espectador para esse tipo de trabalho fartou-se às náuseas da escolinha “pega, mata e come”, etc. Na verdade, o astro maior de The Ides... movimenta-se pelo campo das idéias e tem vários apelidos –habilidade é um deles.
“(Pena de morte) E se alguém matasse a sua esposa, governador?
- Se eu achasse o assassino, descobriria um jeito de matá-lo.
- Então o sr. apóia a pena de morte?
- Não, eu cometeria um crime e iria alegremente apara a prisão.
- E por que não permite que a sociedade o faça?
- Porque a sociedade tem que ser melhor que o indivíduo”.
George Clooney, Ryan Gosling, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood, Philip Seymour Hoffman, Paul Giamatti e outros enfeitam a obra.
Cinema americano, quando encasqueta em enveredar pelos meandros da política sem truculência, mostra um ângulo muito interessante da máquina eleitoreira de lá - o campo das idéias. Redatores proliferam pois lá descobriu-se, há tempos, que por trás de toda palavra existe uma idéia.
A pregação do governador Morris cativa gregos e troianos, e não seria de todo incorreto supor que o autor desta peça (Beau Willimon), tenha sorvido umas gotas no texto impecável de Aaron Sorkin, autor do seriado “West Wing”, jóia rara no mundo dos seriados que vicejou entre 99 e início deste milênio, transbordante de princípios e valores éticos. Não obstante, o próprio Beau Willimon conta que esta redação se deu enquanto participava da campanha de Howard Dean para presidência, em 2004. Assim, ele conheceu na carne aquilo que se diz “bastidores”.
“(Aborto) Não concebo a idéia de alguém dizendo a uma mulher o que fazer com seu corpo”.
“Tudo pelo Poder” é um filme para ser assistido de olho no botão do pause, porque ele é malandramente rápido entre uma situação e outra, entre uma fala e outra, lugar comum ali parece que aparece, mas não aparece, a sinopse oficial aponta um caso de corrupção na história, bobagem, a grande corrupção está tanto no título traduzido quanto, principalmente, nas democracias que obrigam o povo a votar.