Resenha – ônibus 174
“Ônibus 174” dirigido por José Padilha é um documentário de um seqüestro que repercutiu em todo o Brasil. Fato este acontecido no dia 12 de junho de 2000 onde Sandro Nascimento numa atitude precipitada invade um ônibus fazendo todos os passageiros de reféns na zona sul do Rio de Janeiro. Sandro era um jovem que não teve muitas oportunidades na vida, não estudou, teve sua mãe assassinada quando ainda era criança. Sandro foi um dos poucos sobreviventes da tão conhecida Chacina da Candelária. Morou nas ruas, teve passagens por instituições para adolescentes infratores, enfim, roubava para sobreviver e saciar o vício da droga.
Pelo documentário percebem-se muitas falhas no gerenciamento da crise instaurada. Esta foi uma crise de 2° grau (altíssimo grau). O perpetrador estava na posse de uma arma de fogo ameaçando os reféns. Foram quase 5 horas de pura angustia. Tinha a presença da impressão em grande quantidade e isso prejudicou os trabalhos por conta da proximidade do ônibus. O isolamento da área é um dos itens mais importantes para o sucesso do gerenciamento. O perímetro interno foi mal isolado. Depois do desfecho, percebe-se a invasão do local por curiosos e imprensa, prejudicando o trabalho da perícia.
No processo de gerenciamento de crises temos as alternativas táticas como o tiro de comprometimento. Várias vezes Sandro foi um alvo fácil para um snipper, mesmo assim não foi empregado na ação. Num determinado momento todos os reféns estão sentados ou deitados e o perpetrador em pé e outro momento colocou a cabeça pra fora da janela. Situações assim, a polícia poderia ter dado um desfecho para o caso. No entanto, no Brasil, a preservação da vida dos evolvidos, bem como do próprio causador da crise é um componente essencial.
Sandro chegou a exigir 1 carro, granadas, pistolas e dinheiro. A polícia não atendeu ao pedido. Aos poucos Sandro vai libertando alguns reféns, mas não é observado nenhum sendo interrogados por policiais para obterem dados do interior do ônibus. A situação já estava tensa. Uma das reféns, por ordem de Sandro, escreve no vidro do ônibus que ele estaria possuído pelo diabo e iria matar geral. A negociação já estava mantida, no entanto, a polícia não obtinha muitos recursos, exemplo disso é que eles estavam se comunicando por gestos.
Depois de muita negociação, Sandro desce do ônibus agarrado a uma refém para se proteger. Três policiais tentam convencer o perpetrador a se entregar, mas repentinamente surge um policial com uma submetralhadora 9mm e defraga sobre o causador mas não o acerta. Sandro também dispara sua arma. Infelizmente a refém Geisa morre. Este tipo de armamento pelo soldado que defragou o tiro não é recomendado para tiro a curta distância. Um dos critérios de ação no gerenciamento de crises é a validade do risco. Foi uma atitude equivocada daquele soldado. O mesmo também não engatilhou a submetralhadora e perdeu alguns segundos e Sandro chegou a perceber/ver a presença do policial que quis surpreender com um tiro a curta distância. O Tenente Coronel José Carlos de Oliveira, comandante da operação, respondeu por homicídio culposo. O referido disse não ter dado ordem para que aquele soldado efetuasse o disparo.
Outro erro gritante foi a morte de Sandro asfixiado pelos policiais no momento que foi contido e estava a caminho do hospital. Os policiais envolvidos no momento da asfixia disseram que não tiveram a intenção de matar, mas sim de controlá-lo, pois estava muito agitado e que tentou tomar a arma de um policial. O policial deve agir sempre nos princípios da proporcionalidade, legalidade e necessidade.
Enfim, foi uma sucessão de erros. Falhas assim não devem ocorrer, pois são policiais especializados e uma pequena precipitação pode custar à vida de alguém, como a de Geisa, professora de artesanato na favela da Rocinha.