Rango

Essa águia tá morta!

Esta frase, parte de uma das mais interessantes cenas do filme, para o espectador mais atento pode ser entendida como uma metáfora à decadência dos Estados Unidos, país alvo de várias críticas veladas ao longo do filme. A própria cena em que a águia inclemente persegue Rango em meio aos frágeis barracos, que vão desmoronando ante a fúria da ave, lembra bastante certos acontecimentos recentes protagonizados por aquele país.

Rango era um solitário lagarto de estimação, vivendo uma crise de identidade e levando uma vida de comodidades, até que “um evento irônico e inesperado catapultou o herói para o conflito”. As situações subsequentes acabam por transformar o lagarto em herói, mesmo contra a sua vontade. Em uma cidade quase abandonada, localizada no deserto de Mojave, Rango vive uma incrível história, na qual se imbricam comédia e filosofia, ironia e crítica, em um desenho de conteúdo bem inteligente.

Quem já passou dos trinta e na adolescência apreciava os clássicos do faroeste vai sentir saudades. Músicas e algumas cenas que imortalizaram o gênero são parodiadas com muita qualidade. As corujas mariachis dão um charme todo especial trilha sonora.

Por explorar o feio, característica de todos os personagens, alguns de aparência até mesmo repugnante, talvez o filme não agrade tanto às crianças pequenas. Quem certamente terá grande proveito da aventura do lagarto será o espectador atento, perspicaz, admirador de paródias e metáforas, conhecedor do que ocorre mundo afora e com senso crítico aguçado.

Alguns dos personagens mais significativos, além do lagarto são a águia, a tartaruga, - prefeito da cidade -, a serpente - que representa o Grande Irmão* -, o tatu filósofo. Uma personagem feminina, a esperta Feijão, tem papel de destaque por sua capacidade de compreender o que os outros moradores não conseguem por si sós e por formar o par romântico com o lagarto.

Imperdível!

*Personagem do livro 1984, de George Orwell.