A Novela das 8 [Filme nacional] (Análise e Crítica)

É enganoso pensar que “A Novela das 8”, filme nacional dirigido por Odilon Rocha e bem protagonizado por Claudia Ohana, seja, em sua totalidade, uma homenagem à teledramaturgia brasileira. Ao menos foi essa a minha leitura.

A trama se passa na São Paulo e no Rio de Janeiro do final dos anos 70, período em que o Brasil ainda estava sob os parâmetros da Ditadura Militar e em que a corrente pró-democrática ganhava cada vez mais adeptos. Paralelo a este contexto social, o sucesso da novela “Dancin’ Days”, de Gilberto Braga, índice absoluto de audiência, que ditou inúmeros costumes na sociedade da época e fez o Brasil literalmente parar, no momento em que entrava no ar. Em uma determinada cena, no diálogo entre dois namorados, fica claro que quem não assistisse à produção era considerado uma espécie de extraterrestre.

Por sua vez os militantes de esquerda, que até abdicavam de suas próprias vidas, não tinham tempo e nem meios de ver a novela, já que estavam sempre fugindo e se escondendo dos agentes do governo. Então, partindo de como a situação foi exposta, depreende-se que, enquanto a novela era acompanhada pela massa ignorante, alienada e apolítica, outros perdiam a sua vida na luta por um país mais justo e igualitário, principalmente em prol desta mesma massa.

Outro aspecto que explicaria o título do filme é a linguagem utilizada nele. Desde as técnicas de filmagem até o roteiro, tudo lembra a produção de uma novela. Inclusive, se adaptado, daria pelo menos para gerar uma boa minissérie, uma vez que contém os elementos essenciais que prendem o telespectador.

Há drama, na história de Dora (Ohana), que abandona seu filho e tenta se aproximar dele anos mais tarde na qualidade de uma amiga. Há comédia, no papel de Vanessa Giácomo, que interpreta uma prostituta atrapalhada e com ímpetos de grandeza, com quem o público logo simpatizaria. Há ação e suspense, no núcleo conduzido por Alexandre Nero, um homem que não mede esforços para que a lei seja cumprida e persegue os esquerdistas. Há romance. E acima de tudo polêmica, em que o personagem de Mateus Solano, um homem casado, acaba se envolvendo com um adolescente menor de idade, filho da personagem de Ohana, e junto a ele protagoniza uma cena de beijo gay.

Ou seja, como um grande novelo, as histórias dos personagens se encontram e se entrelaçam, embora pertençam a núcleos e a ideologias diferentes. E não é a partir dessa fórmula que são construídas as novelas até os dias de hoje? Ademais, o elenco principal escalado para o longa é composto por figurinhas fáceis nas novelas apresentadas pela Rede Globo. Inclusive – só para fazer um parêntese – a personagem de Claudia Ohana lembra muitíssimo a heroína vivida por Sônia Braga, na novela global, tanto em traços físicos como psicológicos.

Em sua, “A Novela das 8” é um filme muito agradável de se assistir, embora cheio daqueles clichês encontrados em qualquer produção teledramática que se preze. As interpretações variam entre razoáveis e boas, e a trilha sonora é um deleite à parte, com Lady Zu e tudo o mais que embalaram os sonhos da geração “disco” no Brasil. E fica a proposta: se a estética do cinema já invadiu a televisão, por que não o contrário?

Nota: 7,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 05/04/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3595949
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