Jogos Vorazes (Análise e Crítica)

Desde a Antiguidade Clássica, o futuro da Humanidade é visto de forma caótica e paradoxalmente desumano, quando o Homem já não conseguiria nutrir nenhuma espécie de benevolência com seu próprio semelhante. É este o contexto pessimista e futurista que serve como pano de fundo para “Jogos Vorazes”, filme estrelado pela belíssima atriz Jennifer Lawrence, um roteiro adaptado do romance homônimo de Suzanne Collins, sucesso de vendas em 46 países.

A trama se passa em um futuro desconhecido, pós-apocalíptico, quando a América do Norte já não existe mais e em seu lugar surge uma nova nação, Panem, dividida em doze distritos, cada um mais pobre que outro. Para diversão da massa, um casal de cada distrito é sorteado para participar de um reality show, em que apenas um dos participantes sairá vivo. Durante o sorteio, Primrose é sorteada. Acontece que a garota é irmã de Katniss Everdeen (Lawrence), que oferece para ir em seu lugar.

Confesso sequer ter ouvido falar do livro anteriormente. Depois de assistir ao filme, fui a duas livrarias para comprá-lo, mas não achei. O fato é que existem histórias que se destacam por diversos motivos, e a de Collins se valida acima de tudo pelo conceito. Durante a exibição, não há como não refletir acerca das relações humanas atuais, cada vez mais superficiais e desrespeitadas. A escolha por Lawrence para viver a protagonista é o grande mérito da produção. Além da estonteante beleza, a atriz transmite em seu olhar toda tristeza e peso de uma sociedade que não reconhece uns aos outros como semelhantes. Entretanto, suas ações falam por si e demonstram esperança, inconformidade, determinação e desejo de mudança.

A partir dos 70 minutos de filme, quando o jogo se inicia e os participantes são largados à própria sorte, vale a pena observar os valores que norteiam as relações interpessoais. Na primeira sequência já fica evidente que a lei da sobrevivência consiste em os fracos serem subjugados pelos mais fortes, que se orquestram em grupo e, quando não têm mais a quem matar, matam-se entre si mesmos. Com um roteiro inteligente, que soube mediar drama, ação, emoção, romance e até comédia, esse é um dos pontos mais alto do filme. Porém não se deve deixar de mencionar que a direção também é muito competente, frenética na medida certa nas cenas de maior tensão.

Esse mesmo conceito é debatido em “O Preço do Amanhã”, de 2011, só que na produção estrelada por Justin Timberlake a sobrevida só é possível quando se tem tempo, o ser humano deixa de ter alma para se transformar em relógios ambulantes. Em “Jogos Vorazes” a problemática é ainda mais pessimista, pois a própria vida servindo como troféu denuncia a que ponto decadente o ser humano chegou.

Em suma, “Jogos Vorazes” conquistou o público pelo seu forte apelo comercial, transformando-se na quarta melhor estreia cinematográfica da História em termos de arrecadação. Alguém duvida de que os outros dois livros da saga – “Em Chamas” e “A Esperança” – também não sejam adaptados? Mas que principalmente os jovens vejam o filme ou leiam o livro não pelas cenas de violência, não para que torçam pela próxima vítima. E sim que haja uma reflexão sobre a sociedade a que ele pertence e o seu papel dentro dela. Que sejam então uma espécie de espelho, não um simples entretenimento.

Nota: 8,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 31/03/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3587039
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