Shame (Análise e Crítica)

Está aí um filme que poderá ser figurinha fácil nas madrugadas do Telecine Cult. Trata-se de “Shame”, que estreou semana passada em circuito limitado no Brasil, que com certeza não é uma produção que passa despercebida, sem causar alguma espécie de incômodo ao espectador.

Estrelado pelo ator alemão Michael Fassbander [para quem não associa o nome à pessoa, foi quem interpretou o vilão Magneto no melhor filme da saga dos mutantes da Marvel, “X-Men: Primeira Classe”] e brilhantemente dirigido por Steve McQueen, aquilo que mais impressiona não são as cenas quase reais de sexo e nem de nu frontal, inclusive masculino, que justificam a classificação de 16 anos, mas sim o sofrimento do protagonista, cujo olhar, sempre perdido, consegue transmitir nitidamente a ideia de tristeza e desesperança.

A trama narra a vida de Brandon (Fassbander), homem de aproximadamente 35 anos, educado e culto, bem sucedido financeira e profissionalmente, mas que não consegue se relacionar firme com alguém. Paralelo a isso, é viciado em sexo, a ponto de se masturbar no banheiro do escritório em que trabalha, onde coleciona também fotos e vídeos em um computador.

Paradoxalmente, o retorno de sua irmã Sissy (Carey Mulligan) faz com que sua vida vire de cabeça para baixo. Totalmente diferente do irmão, é uma cantora fracassada, psicologicamente carente e com fortes tendências suicidas. Embora a relação entre os dois não tenha sido explorada de uma forma tão intensa, a chegada dela o priva de suas taras, permitindo que Brandon aos poucos vá perdendo a cabeça.

Se uma imagem vale mais que mil palavras, parece que o diretor se agarrou a esta máxima popular com todas as unhas e dentes. O espectador vai traçando os perfis do casal de irmãos não pelos diálogos, mas pelos seus olhares, movimentos do corpo, atitudes. A primeira sequência do filme, muda, já deixa clara essa abordagem. Ao perder uma possível transa casual, Brandon parece um leão frustrado, que acabou de permitir que sua presa se libertasse. Não é precisa uma palavra, basta que se leiam as expressões.

Entretanto, há duas tomadas que me chamaram muito a atenção. A primeira é quando Brandon é convidado para jantar com uma amiga do escritório, interessada por ele. Na conversa, ela diz acreditar na possibilidade de amar, embora seja separada. Quando os dois vão finalmente transar, ele não consegue, pois o sexo seria, de alguma forma, o início de uma relação, coisa que ele não poderia sustentar. Então, dispensa a garota, chama uma prostituta, com a qual transa debruçado em uma janela de vidro, exibindo-se para quem quisesse ver o quanto que era viril.

Depois desse momento, numa outra cena, o personagem parece chegar ao fundo do poço quando, bêbado por uma vontade animal, não arruma ninguém e termina transando com um outro homem. Entende-se pelo seu olhar que aquela era uma situação diferente, que de certa maneira o assustava, mas, refém, rende-se completamente a esta sede. E ainda, na mesma noite, talvez para convencer-se a si mesmo de sua masculinidade, contrata duas prostitutas.

Só para constar: foram sequências praticamente sem falas. Ou melhor: necessariamente sem elas.

Assim, não é um filme que fala sobre sexo. Fala-se sobre a contradição do sofrimento através do prazer. Não correspondeu às minhas expectativas totais, pois eu esperava diálogos mais fortes, que poderiam até surgir se algumas cenas fossem mais curtas, e também que a relação dele com a irmã fosse mais trabalhada. Porém foi escolhida uma outra linguagem, que soube nos passar uma mensagem significante, ou pelo menos a reflexão do que se é de fato importante ter na vida para que se consiga ser feliz.

Nota: 8,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 21/03/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3566741
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.