A Mulher de Preto (Análise e Crítica)

Na última semana, estreou nos cinemas brasileiros mais um entre os milhares de filmes cuja história é baseada em roteiro adaptado de livro, moda no momento, o que demonstra uma séria crise criativa em Hollywood, sem adicionar aí as diversas continuações e reinícios de franquias. Trata-se de “A mulher de preto” (The woman in black), dirigido por James Watkins.

Ambientado em uma pequena cidade da Inglaterra do século passado, é narrada a trajetória de Arthur Kipps (Daniel Radcliffe), jovem advogado que cria seu filho sozinho, depois da morte da esposa no parto. Para não ser demitido, é obrigado a avaliar os bens de uma morta, cuja casa esconde vários segredos. A tensão aumenta quando Kipps, ao chegar à cidade, revela que viu o fantasma da mulher vestida de preto. Tal fato ocasiona terror entre os habitantes, pois, em toda vez que ela é vista, crianças inocentes morrem ou cometem suicídio. Neste momento, Arthur se vê em perigo, pois seu filho vai ao encontro dele para passar o final de semana no vilarejo, podendo ser o pequeno a próxima vítima.

Fui assistir à produção, sem dar muitos créditos, porém saí completamente surpreso da sala de exibição. A começar por Daniel Radcliffe. O ator que viveu durante longos dez anos Harry Potter, o bruxo do bem mais famoso de todos os tempos, em nada lembra o personagem. Houve um trabalho da produção em enfatizar que ele cresceu, como mostrar os cabelos do peito e a barba de dias por fazer, mas a interpretação dele realmente convence. Seus gestos estão mais contidos, seu olhar mais fixo e sua voz mais firme, tudo para dar maior seriedade ao personagem.

Quanto aos outros atores, excelentes. O casal de anfitriões que recebe Kipps, vivido pelos ótimos Janet Mcteer e Ciarán Hinds, que teve a vida do seu filho roubada pelo fantasma, rouba as cenas: ela, uma mãe desesperada com uma mediunidade para receber mensagens do filho, mas que naquela época era vista como louca; ele, aparentemente incrédulo, dedicado à melhora da sua esposa, mas que terá suas crenças postas em xeque, quando vir o espírito do seu filho morto.

Não se poderia esquecer-se aqui do roteiro. Assinado por Jane Goldman, seria um prato cheio para cair no clichê, o que acaba não acontecendo de forma tão grosseira. Acertaram ao optarem por colocar mais ação e diminuir o texto. Os diálogos são sempre essenciais à trama, com pouco rodeio. As sequências sem falas, aliadas a uma ótima trilha sonora e jogo de luz, realmente arrepiam e angustiam o espectador, que interage muito com o filme nesses momentos.

A direção de arte cumpre bem o seu papel nos detalhes bem típicos de uma cidade rural inglesa do século passado, assim como a fotografia e os efeitos visuais reforçam o conceito horripilante do filme: a última aparição do espectro, correndo da tela em direção à plateia, aterroriza. Ademais, o final foge da obviedade e daquela premissa de uma continuação, inclusive é belíssimo e totalmente coerente com a história.

Tirando alguns erros de continuidade, “A mulher de preto” é uma emocionante alternativa de entretenimento para aqueles que gostam de levar bons sustos, contanto que não tenham problemas cardíacos (rsrsrs). Presumo dizer que se trata de um dos melhores filmes do tipo que já vi (e olha que já assisti a muitos...). Em meio a tramas fracas lançadas nos últimos anos envolvendo o sobrenatural, esta se destaca pela sua simplicidade e habilidade para prender o público. Recomendadíssimo!

Nota: 9,5.

Dan Niel
Enviado por Dan Niel em 28/02/2012
Reeditado em 26/05/2013
Código do texto: T3526010
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