Preciosa - Uma história de Esperança
capascustomizadas.com
Depois de ver o filme, respirei fundo e pensei naquela colega de trabalho e no seu inventário de doenças físicas e emocionais. Gostaria imensamente que ela visse o filme e depois, corajosamente, fosse visitar um lar de idosos, uma ala de hospital de crianças com câncer ou algo mais simples, viver cotidianamente a realidade de uma escola pública da periferia.
Não que eu ache que os problemas da minha colega não sejam reais. São sim e merecem atenção, mas nem de longe as doenças da alma podem imobilizar um ser diante do absurdo que é a violência doméstica, os maus tratos a crianças, o desespero do abuso sexual de quem devia proteger e cuidar. Nem de longe nossas mazelas pessoais devem ser superestimadas ao ponto de que nos esqueçamos que o outro talvez tenha problemas maiores que os nossos.
Às vezes, entre os meus, passo recibo de masoquista. Por que, no meu período de descanso escolho filmes assim?Por que simplesmente não vejo uma comédia, um romance, um bang bang qualquer? - Deve ser defeito de fabricação, penso eu.Em contraste com o meu(quase) permanente estado de alegria, as dores humanas me mobilizam, me desafiam.Sou atraída para elas feito mosca no mel.
Recomendo o filme para pais, mães, educadores e para qualquer profissional ou pessoa que precise encontrar motivação e esperança. O desespero da menina gorda, feia e analfabeta, explorada pela mãe, violentada pelo pai, vítima permanente do deboche de todos atinge fundo nosso coração. “Às vezes eu desejo que não estivesse viva. Mas eu não sei como morrer. Não há nenhum botão para desligar. Não importa o quão ruim eu me sinta, meu coração não para de bater e meus olhos se abrem pela manhã”. A fala do sofrimento contrasta com a decisão de continuar vivendo, indo à escola e ainda bem sonhando!
Não é uma história fácil e cabem todos os elogios a protagonista, a atriz que faz a odiosa mãe e a professora, que tem um papel fundamental na vida daquela adolescente que nem sabe que é gente, tamanha a negação e privação de tudo que um ser humano tem direito.
Enfim, o filme é bom, a atuação honesta, com algumas surpresas no elenco, a direção é impecável, sem floreios desnecessários. Sem querer ser clichê e sendo, Preciosa vale cada lágrima derramada.
Abaixo uma crítica que achei excelente.
Preciosa - Uma história de Esperança
Marcelo Forlani no: http://omelete.uol.com.br/cinema/critica-preciosa-uma-historia-de-esperanca/
Se você acha que a vida é injusta só porque aquele namorico da praia não subiu a serra ou porque engordou uns quilinhos durante as festas de fim de ano, ou seja, se é por frescura, veja Preciosa - Uma História de Esperança (Precious: Based on the Book "Push" by Sapphire, 2009). Em menos de 10 minutos de filme você vai entender que os seus problemas não são nada perto do que realmente sofrem algumas pessoas mundo afora.
Tentando revelar o mínimo possível do que é a vida da protagonista Claireece Preciosa Jones (Gabourey Sidibe), é bom você entrar no cinema sabendo que ela é obesa, negra, mora no Harlem de Nova York durante os anos 80 e sofre com tudo isso e por muitos outros motivos que ela nem sabe por quê. E, claro, esses abusos têm suas consequências, como a falta de auto-estima que a faz se esconder do mundo e encobrir, por exemplo, o fato de não saber ler ou escrever.
O nome do meio, Preciosa, é a prova maior da ironia. Sua mãe (Mo'Nique), que não se cansa de tratá-la mal física e verbalmente, vive do auxílio desemprego e a pensão que deveria ser usada para cuidar da sua primeira neta. E esse "conforto" (com muitas aspas) agora também está sob risco, o que coloca a protagonista ainda mais na mira da sua megera matriarca. Tudo porque Preciosa está grávida de novo e, por motivos que é melhor nem comentar aqui, é convidada a ir para uma escola especial.
A menina se protege do mundo exterior de cara fechada, sem cruzar olhares com ninguém, tentando ser o mais invisível possível. Seu único refúgio são pequenos devaneios, geralmente sonhando com a possibilidade de ter um namorado branco e endinheirado e viver entre o glamour e o amor que faltam na sua realidade. Quem começa a mudar isso é sua nova professora, Sra. Blu Rain (Paula Patton), que com muita paciência vai ensinando Preciosa e suas colegas muito mais do que colocar as letras em ordem para ler e escrever.
Mas não ache que o longa vai cair no lugar-comum da professora que vai levar suas alunas a enxergar que estão desperdiçando suas vidas e colocá-las na linha. O papel da Sra. Rain é o de ensinar a Preciosa a exteriorizar seus sentimentos, o que vai ajudá-la a exorcizar alguns de seus demônios. Tudo o que ela antes guardava para si, passa para as páginas do seu diário.
Tecnicamente, o diretor Lee Daniels opta por uma câmera na mão, que dá lugar a algo mais clássico apenas nas cenas em que Preciosa está sonhando. Mas tudo isso passa a ser perfumaria perto das atuações irretocáveis de todos os envolvidos. Você vai sentir na pele o que Preciosa sofre e ficar com muita raiva de sua mãe. Se emocionar, sofrer, sorrir e chorar. Muito!
Seja para acompanhar as já premiadas atuações, para tomar uma porrada da dura realidade de algumas pessoas ou simplesmente para comparar os seus problemas com o de outras pessoas, vá ver Preciosa - Uma História de Esperança. Mas leve uma caixinha de lenços de papel e óculos escuros para a saída do cinema. Essa frescura, tudo bem.
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Depois de ver o filme, respirei fundo e pensei naquela colega de trabalho e no seu inventário de doenças físicas e emocionais. Gostaria imensamente que ela visse o filme e depois, corajosamente, fosse visitar um lar de idosos, uma ala de hospital de crianças com câncer ou algo mais simples, viver cotidianamente a realidade de uma escola pública da periferia.
Não que eu ache que os problemas da minha colega não sejam reais. São sim e merecem atenção, mas nem de longe as doenças da alma podem imobilizar um ser diante do absurdo que é a violência doméstica, os maus tratos a crianças, o desespero do abuso sexual de quem devia proteger e cuidar. Nem de longe nossas mazelas pessoais devem ser superestimadas ao ponto de que nos esqueçamos que o outro talvez tenha problemas maiores que os nossos.
Às vezes, entre os meus, passo recibo de masoquista. Por que, no meu período de descanso escolho filmes assim?Por que simplesmente não vejo uma comédia, um romance, um bang bang qualquer? - Deve ser defeito de fabricação, penso eu.Em contraste com o meu(quase) permanente estado de alegria, as dores humanas me mobilizam, me desafiam.Sou atraída para elas feito mosca no mel.
Recomendo o filme para pais, mães, educadores e para qualquer profissional ou pessoa que precise encontrar motivação e esperança. O desespero da menina gorda, feia e analfabeta, explorada pela mãe, violentada pelo pai, vítima permanente do deboche de todos atinge fundo nosso coração. “Às vezes eu desejo que não estivesse viva. Mas eu não sei como morrer. Não há nenhum botão para desligar. Não importa o quão ruim eu me sinta, meu coração não para de bater e meus olhos se abrem pela manhã”. A fala do sofrimento contrasta com a decisão de continuar vivendo, indo à escola e ainda bem sonhando!
Não é uma história fácil e cabem todos os elogios a protagonista, a atriz que faz a odiosa mãe e a professora, que tem um papel fundamental na vida daquela adolescente que nem sabe que é gente, tamanha a negação e privação de tudo que um ser humano tem direito.
Enfim, o filme é bom, a atuação honesta, com algumas surpresas no elenco, a direção é impecável, sem floreios desnecessários. Sem querer ser clichê e sendo, Preciosa vale cada lágrima derramada.
Abaixo uma crítica que achei excelente.
Preciosa - Uma história de Esperança
Marcelo Forlani no: http://omelete.uol.com.br/cinema/critica-preciosa-uma-historia-de-esperanca/
Se você acha que a vida é injusta só porque aquele namorico da praia não subiu a serra ou porque engordou uns quilinhos durante as festas de fim de ano, ou seja, se é por frescura, veja Preciosa - Uma História de Esperança (Precious: Based on the Book "Push" by Sapphire, 2009). Em menos de 10 minutos de filme você vai entender que os seus problemas não são nada perto do que realmente sofrem algumas pessoas mundo afora.
Tentando revelar o mínimo possível do que é a vida da protagonista Claireece Preciosa Jones (Gabourey Sidibe), é bom você entrar no cinema sabendo que ela é obesa, negra, mora no Harlem de Nova York durante os anos 80 e sofre com tudo isso e por muitos outros motivos que ela nem sabe por quê. E, claro, esses abusos têm suas consequências, como a falta de auto-estima que a faz se esconder do mundo e encobrir, por exemplo, o fato de não saber ler ou escrever.
O nome do meio, Preciosa, é a prova maior da ironia. Sua mãe (Mo'Nique), que não se cansa de tratá-la mal física e verbalmente, vive do auxílio desemprego e a pensão que deveria ser usada para cuidar da sua primeira neta. E esse "conforto" (com muitas aspas) agora também está sob risco, o que coloca a protagonista ainda mais na mira da sua megera matriarca. Tudo porque Preciosa está grávida de novo e, por motivos que é melhor nem comentar aqui, é convidada a ir para uma escola especial.
A menina se protege do mundo exterior de cara fechada, sem cruzar olhares com ninguém, tentando ser o mais invisível possível. Seu único refúgio são pequenos devaneios, geralmente sonhando com a possibilidade de ter um namorado branco e endinheirado e viver entre o glamour e o amor que faltam na sua realidade. Quem começa a mudar isso é sua nova professora, Sra. Blu Rain (Paula Patton), que com muita paciência vai ensinando Preciosa e suas colegas muito mais do que colocar as letras em ordem para ler e escrever.
Mas não ache que o longa vai cair no lugar-comum da professora que vai levar suas alunas a enxergar que estão desperdiçando suas vidas e colocá-las na linha. O papel da Sra. Rain é o de ensinar a Preciosa a exteriorizar seus sentimentos, o que vai ajudá-la a exorcizar alguns de seus demônios. Tudo o que ela antes guardava para si, passa para as páginas do seu diário.
Tecnicamente, o diretor Lee Daniels opta por uma câmera na mão, que dá lugar a algo mais clássico apenas nas cenas em que Preciosa está sonhando. Mas tudo isso passa a ser perfumaria perto das atuações irretocáveis de todos os envolvidos. Você vai sentir na pele o que Preciosa sofre e ficar com muita raiva de sua mãe. Se emocionar, sofrer, sorrir e chorar. Muito!
Seja para acompanhar as já premiadas atuações, para tomar uma porrada da dura realidade de algumas pessoas ou simplesmente para comparar os seus problemas com o de outras pessoas, vá ver Preciosa - Uma História de Esperança. Mas leve uma caixinha de lenços de papel e óculos escuros para a saída do cinema. Essa frescura, tudo bem.