A origem dos conflitos

As histórias de ficção científica costumam apresentar como temas recorrentes a incrível capacidade do ser humano de destruir a si próprio, os conflitos éticos da ciência e o perigo de se tentar manipular a ordem natural do que existe. O filme Planeta dos Macacos, a Origem, filmado com a intenção de explicar como os símios começaram a dominar a Terra, para complementar o clássico protagonizado por Charlton Heston em 1968, além dessas mensagens, apresenta outra: a de que, se houvesse outras espécies com inteligência similar à humana, seria impossível uma convivência pacífica, pois cada uma lutaria pela supremacia de seus interesses.

Neste filme, James Franco é o cientista Will, que pesquisa uma cura para o mal de Alzheimer, doença da qual seu pai, Charles, sofre. Will está testando uma droga em chimpanzés e tem como principal cobaia um chimpanzé fêmea, que vai desenvolvendo de forma impressionante sua inteligência. Tudo parece correr bem até o dia em que o macaco se descontrola e ataca as pessoas à sua volta, sendo abatido a tiros. Depois do desastre, Will descobre que o animal havia tido um filho e, para impedir que seja sacrificado, leva-o para sua casa. Seu pai se apaixona pelo animalzinho, que é batizado de Cesar.

Logo, o filhote revela inteligência incomum e Will percebe que ele foi geneticamente afetado pela droga, o que o anima a testá-la em seu pai, que começa a apresentar melhoras. Cesar se torna um membro da família, aprendendo mesmo a se comunicar através de sinais para expressar o que sente. Porém, essa harmonia não dura muito. À medida que cresce, Cesar vai vendo o mundo além dos limites da sua casa, desejando expandir seus horizontes. Seu olhar reflexivo, mais carregado de expressão do que o de muitos atores humanos, mostra-nos bem que, quanto maior a inteligência de um ser, mais sujeito ele está a conflitos e sentimentos de descontentamento, afinal, quem possui intelecto, pensa, questiona, tira suas conclusões.

Cesar, ao descobrir porque é tão intelectualmente desenvolvidao, sofre um choque emocional que o angustia , e ,embora ame os homens com que mora, não aceita mais viver como se fosse um animal de estimação. Ele tem vontade de decidir sua vida. Ao mesmo tempo, o pai de Will volta a apresentar os sintomas de Alzheimer. Um dia, por causa da confusão provocada pela doença, ele tem um incidente com o vizinho, que o trata brutalmente. Cesar, enlouquecido, vai protegê-lo e ataca o vizinho, descontrolando-se. Como consequência, é mandado a um local onde outros macacos são mantidos enjaulados e em condições crueis. Isso causa mais dor a Cesar, que se sente muito solitário, inclusive por ser o mais inteligente, o que o faz se revoltar com as condições do lugar e ter desentendimentos com os macacos, que o estranham.

Sua inteligência o torna único, causando-lhe perplexidade. Ver seus anseios nos faz entender a solidão da criatura de Frankstein, de Mary Shelley. Ser único é estar condenado a uma existência solitária, por não haver um igual a seu lado, com quem se possa partilhar pensamentos e que compreenda suas ideias.

No entanto, Cesar vai descobrindo como usar seus dons para mudar a situação e não demora a assumir uma posição de liderança sobre os macacos. Ele consegue dar escapadas e, numa delas, rouba a droga de Will, dando a seus novos amigos, que, adquirindo inteligência, unem-se a ele para fugir.

As cenas de insurreição dos macacos nos dão uma certeza: não teríamos chance se entrássemos em guerra contra eles, que teriam a vantagem de uma impressionante força física. Concluímos que esses animais, como nós, seriam capazes tanto das ações mais nobres como das mais vis. É comovente ver Cesar lamentando a morte de um amigo gorila e assustador ver que ele também é vingativo, não poupando quem lhe tenha feito mal.

Entre os momentos derradeiros, quando Will tenta convencer Cesar a voltar para casa e o macaco, que tem para com ele afeto e gratidão, diz-lhe que está em casa e parte, juntando-se aos seus iguais, revelando que não voltará. Fala com Will em igualdade de condições, demonstrando que não aceitará viver subordinado às regras humanas. Entre os macacos, ele é um herói, um líder, alguém que dará início a uma nova ordem.