Sucker Punch - Mundo Surreal
Zack Snyder ganhou destaque em Hollywood após o bom remake realizado de “Madrugada dos Mortos”, e foi elevado ao patamar de “visionário” após a direção do sucesso “300” (adaptação da Graphic Novel de Frank Miller). Mais tarde, chamado para adaptar “WATCHMEN”, a complexa e controversa Graphic Novel de Alan Moore, o diretor conseguiu sem dúvida executar o filme de uma forma muito satisfatória (dada a dificuldade de se adaptar o material original), mas ali foi possível notar uma certa fragilidade na condução de um roteiro mais intrincado, tanto que o visual fabuloso não consegue esconder por completo a falta de ritmo em alguns momentos do filme. Não há dúvidas que ele é um diretor muito interessante, que criou para si uma identidade visual que sempre tem aplicado em seus longas; a câmera lenta (slow motion), a fotografia em tons fortes ou opacos, e o visual quase sempre estilizado na concepção de seus longas-metragens. Porém, é notável o fato de que por vezes Snyder valorizava mais a parte gráfica de seus filmes que os roteiros; e aqui neste (que por acaso é seu primeiro roteiro original) ele segue seus princípios à risca.
“Sucker Punch – Mundo Surreal” narra a história de uma jovem que é internada em um hospital psiquiátrico pelo tio carrasco, e lá dentro acaba idealizando um mundo de fantasia, a fim de tentar suportar a tensão que precede uma lobotomia.
O filme começa de uma forma muito interessante, colocando a protagonista Babydoll em um palco e iniciando com um diálogo em voice-over que já consegue introduzir o plot a ser apresentado a seguir: tudo não passa de um enorme espetáculo. E isso não há como negar! Apesar de a introdução parecer mais as cenas de um videoclipe, logo nos primeiros minutos o ponto negativo que mais chama a atenção não é isso, mas sim a passividade com que a personagem aceita ser trancada num hospital psiquiátrico, sem ao menos questionar... E isso nos faz notar uma obrigatoriedade do roteiro em se explicar pouco e inserir logo os personagens na ação – tanto que praticamente todos os personagens têm muito pouca explicação sobre seus passados ou sobre suas personalidades, o que os torna personagens às vezes insuportavelmente unidimensionais e canastrões.
A insanidade das cenas de ação é admirável, mas seria burrice criticar o filme por isso, já que o longa nunca escondeu suas pretensões de ser uma “salada Nerd” – característica que, confesso, realmente seduziu a minha atenção durante toda a campanha de divulgação do filme. Eu esperava mais, bem mais. Imaginava que Snyder estava criando um novo mundo, talvez uma pequena e rápida “mitologia”, digamos assim... Mas não foi nada disso que aconteceu. Ele nos sonega uma boa trama, em detrimento de nos fazer engolir a fantástica parte visual do filme.
Diante disso, não seria errado chamar Sucker Punch de “Video Game filmado”, pois a estrutura é incrivelmente parecida com a de um jogo eletrônico. Acompanhamos a personagem ultrapassar os estágios e coletar itens um a um, de uma forma até inacreditavelmente fácil, sem preparação alguma, e com pouco esforço (como jogar utilizando cheats, e no nível easy).
Sabe-se que Zack Snyder é um grande fã do universo Nerd em geral, e pode-se dizer que este filme é uma espécie de “homenagem” ao universo dos games; porém, para o cinema, esse tipo de estrutura narrativa não tem o mesmo efeito que nos jogos. Nos games estamos a todo o momento controlando o personagem, vivenciando a situação e nos esforçando para ultrapassar obstáculos, mesmo que o jogo não tenha uma boa trama (o que tem sido raro, já que os roteiros de jogos eletrônicos tem sido superiores aos de alguns filmes que vemos por aí). A questão é que isso não acontece no cinema, já que ao contrário do que acontece quando jogamos um game, aqui estamos passivos às imagens... E caso não haja algo que instigue nossa inteligência ou percepção, assim continuaremos. E creio que este é o principal fator que fez Sucker Punch não me divertir tanto – e na verdade, diga-se de passagem, até me aborreceu em algumas partes.
Apesar de todas essas falhas, o filme tem os pontos positivos, e quase todos eles são evidentemente respaldados em aspectos técnicos de pós-produção. Os efeitos visuais e a direção de arte são muito bonitos (apesar dos efeitos visuais às vezes soarem artificiais em um ou outro instante), e a trilha sonora pop dos anos 80 e 90 se encaixa muito bem no contexto da história. Além disso, Snyder também consegue elaborar algumas sequências de ação e luta muito bem, de uma forma clara de se entender, muito distante daquela coisa frenética que um ‘Michael Bay da vida’ vive empregando em seus filmes.
As atuações não possuem destaque. O que possui destaque é a beleza das personagens femininas, vestidas em pequenos trajes, como que para realizar um fetiche particular do diretor. Mas as coxas da Emily Browning não são o suficiente para manter o filme atraente durante seus pouco mais de 90 minutos, que parecem demorar muito mais.
Mesmo sendo um diretor bastante criativo, em Sucker Punch ele não conseguiu manter o bom nível de seus trabalhos anteriores, e nos entregou um filme de se encher os olhos, mas que nos transmite uma incômoda sensação de vazio. Não quero que Zack Snyder perca essas características notáveis de sua direção, mas também queria que da próxima ele nos surpreendesse.
Como diz a protagonista em certo momento do filme: “Você tem todas as armas de que precisa.”
Espero que Zack Snyder saiba usá-las melhor da próxima vez.