“A Praia” (The Beach)
“A Praia” (The Beach)
Todo filme é, ou pelo menos já foi, um carrossel de conceitos. Saudades da dimensão em que se vendiam signos com um mínimo de coerência e opiniões eram formadas e não deformadas. No mais, o nível de imbecilidade da Indústria acentuou-se tanto nos últimos 6 anos que a vacina contra isso, além da meditação, está nos filmes velhos.
“Há que se entreter pero sem chegar na demência”. Se ninguém disse isso ainda, não foi por falta de oportunidade.
Direção de Danny Boyle, um sujeito adiante de seu tempo. Nem bem o jovem DiCaprio chega em Bangkok e um maluco aparece no quarto dele para dizer que a “vibe” da praia é tão forte que é impossível segurar as sensações. Tal e qual os esotéricos estão dizendo de 2012 – uma energia intensa se lança sobre o planeta e cada um que segure a sua peruca. DiCaprio faz com perfeição o molecão gringo “Yes Trip, No Trampo”, que vai para a Ásia curtir um sol, todo o texto bate na tecla de “quero uma coisa diferente”, a vida para ele é um tédio, seu personagem está longe de ser um esportista ou um filósofo, o maluco do quarto ao lado bate as botas e lhe deixa um mapa.
Pobres gringos, dezoito horas de vôo para desembarcarem num inferno tropical desmazelado e caótico, em busca de um baseado, mar e refrangentes ventos. Nos 70, paulistas, mineiros e cariocas tinham tudo isso de bandeja, bastava algumas horas de estrada no ensolarado Brasil de outrora e as imaculadas areias do sul da Bahia faziam o resto.
Danny Boyle trabalha com o padrão cinematográfico de inventividade e excelência, ele se dá ao luxo de fazer pequenas citações lá e acolá e seu ouvido musical é dos mais apurados. Assim, o que parecia ter o QI de um pastel em 1999 hoje levaria o Oscar se o protagonista fosse o Justin Bieber.
DiCaprio finalmente chega na ilha (a praia, enquanto título, é uma jogada marqueteira), e a ilha possui uma clara divisão: de um lado os fazendeiros de canabis, trajados com bandanas e metralhadoras, de outro, (aí sim), a praia, preenchida com a Comissão Internacional Pela Paz e Pela Marijuana. A comunidade da praia é um matriarcado liderado pela indigesta com um quê de ninfomaníaca Tilda Swinton e todo mundo ali vive “de boa”. Plantam o que comem, comem o que pescam, praticam esportes, são ingleses, franceses, italianos, dinamarqueses, etc., todos sob a mesma bandeira - Peace&Love&Dope com baixo teor de Love.
Alex Garland nasceu em 1970 e seu livro The Beach estourou no norte do planeta em 1996. Boyle estava atento. Os personagens de Garland, na sua totalidade, são desprovidos de caracteres que almejem algo na vida além de prazer e mais prazer. O Ovo da Serpente do comportamento estéril de agora mostrava ali com alguma timidez suas cruas feições.
A cada xis meses Tilda vai para o vilarejo mais próximo buscar o que os mais necessitados necessitam: pilhas, preservativos, chocolates, pomadas, tampões... DiCaprio vai com ela. Boyle mostra o personagem horrorizado com a “vida lá fora”, as arruaças, as pré baladas primeiro mundistas nos confins da Ásia, gente trôpega e música eletrônica. Eles voltam para o santuário, ainda despercebidos que o sistema operacional do atual ser humano tem uma leve defasagem com o conceito de Paraíso. A suposta comunidade do bem sofrerá testes primários com questões éticas e, lógico, em qualquer parte a matemática é sempre a mesma e infalível: cada um colhe o que planta.
Num universo paralelo, talvez vejamos Danny Boyle dando uma entrevista inédita e dizendo que “A Praia”, na verdade, foi uma homenagem tardia a paulistas, mineiros e cariocas, que um dia viram o sol nascer na cidade alta de Arraial d'Ajuda (antes da luz elétrica) e suspiraram cheios de esperança: puxa, vai ser sempre assim.
“A Praia” (The Beach)
Todo filme é, ou pelo menos já foi, um carrossel de conceitos. Saudades da dimensão em que se vendiam signos com um mínimo de coerência e opiniões eram formadas e não deformadas. No mais, o nível de imbecilidade da Indústria acentuou-se tanto nos últimos 6 anos que a vacina contra isso, além da meditação, está nos filmes velhos.
“Há que se entreter pero sem chegar na demência”. Se ninguém disse isso ainda, não foi por falta de oportunidade.
Direção de Danny Boyle, um sujeito adiante de seu tempo. Nem bem o jovem DiCaprio chega em Bangkok e um maluco aparece no quarto dele para dizer que a “vibe” da praia é tão forte que é impossível segurar as sensações. Tal e qual os esotéricos estão dizendo de 2012 – uma energia intensa se lança sobre o planeta e cada um que segure a sua peruca. DiCaprio faz com perfeição o molecão gringo “Yes Trip, No Trampo”, que vai para a Ásia curtir um sol, todo o texto bate na tecla de “quero uma coisa diferente”, a vida para ele é um tédio, seu personagem está longe de ser um esportista ou um filósofo, o maluco do quarto ao lado bate as botas e lhe deixa um mapa.
Pobres gringos, dezoito horas de vôo para desembarcarem num inferno tropical desmazelado e caótico, em busca de um baseado, mar e refrangentes ventos. Nos 70, paulistas, mineiros e cariocas tinham tudo isso de bandeja, bastava algumas horas de estrada no ensolarado Brasil de outrora e as imaculadas areias do sul da Bahia faziam o resto.
Danny Boyle trabalha com o padrão cinematográfico de inventividade e excelência, ele se dá ao luxo de fazer pequenas citações lá e acolá e seu ouvido musical é dos mais apurados. Assim, o que parecia ter o QI de um pastel em 1999 hoje levaria o Oscar se o protagonista fosse o Justin Bieber.
DiCaprio finalmente chega na ilha (a praia, enquanto título, é uma jogada marqueteira), e a ilha possui uma clara divisão: de um lado os fazendeiros de canabis, trajados com bandanas e metralhadoras, de outro, (aí sim), a praia, preenchida com a Comissão Internacional Pela Paz e Pela Marijuana. A comunidade da praia é um matriarcado liderado pela indigesta com um quê de ninfomaníaca Tilda Swinton e todo mundo ali vive “de boa”. Plantam o que comem, comem o que pescam, praticam esportes, são ingleses, franceses, italianos, dinamarqueses, etc., todos sob a mesma bandeira - Peace&Love&Dope com baixo teor de Love.
Alex Garland nasceu em 1970 e seu livro The Beach estourou no norte do planeta em 1996. Boyle estava atento. Os personagens de Garland, na sua totalidade, são desprovidos de caracteres que almejem algo na vida além de prazer e mais prazer. O Ovo da Serpente do comportamento estéril de agora mostrava ali com alguma timidez suas cruas feições.
A cada xis meses Tilda vai para o vilarejo mais próximo buscar o que os mais necessitados necessitam: pilhas, preservativos, chocolates, pomadas, tampões... DiCaprio vai com ela. Boyle mostra o personagem horrorizado com a “vida lá fora”, as arruaças, as pré baladas primeiro mundistas nos confins da Ásia, gente trôpega e música eletrônica. Eles voltam para o santuário, ainda despercebidos que o sistema operacional do atual ser humano tem uma leve defasagem com o conceito de Paraíso. A suposta comunidade do bem sofrerá testes primários com questões éticas e, lógico, em qualquer parte a matemática é sempre a mesma e infalível: cada um colhe o que planta.
Num universo paralelo, talvez vejamos Danny Boyle dando uma entrevista inédita e dizendo que “A Praia”, na verdade, foi uma homenagem tardia a paulistas, mineiros e cariocas, que um dia viram o sol nascer na cidade alta de Arraial d'Ajuda (antes da luz elétrica) e suspiraram cheios de esperança: puxa, vai ser sempre assim.