“Perfume de Mulher” (Scent of a Woman)
“Perfume de Mulher” (Scent of a Woman)
O jovem Charles Simms (Chris O’Donnell) não poderia terceirizar o seu trabalho, mesmo porque o que ele estava fazendo já era uma terceirização. Charles aceitou tomar conta de um oficial reformado e cego e de repente se viu em NY com um louco de corrente fazendo planos para suicidar-se em poucas horas.
Já o personagem de Al Pacino pode ser encarado de duas ou três formas bem rasas e verdadeiras, entre elas a de pé de cana, arrogante, infantil e com mania de grandeza, que perdeu o bonde brincando com uma granada 5 anos antes (porque estava de pileque) e agora mora na casa da sobrinha fazendo o papel do enjeitado com um plano B. Triste, mas real e a cada seção desta existência não fazemos outra coisa senão desempenhar papéis. Querendo ou não. Por isso os esotéricos sugerem a “obrigatoriedade” da alegria. Inexiste escapatória.
O filme de Martin Brest está fora das listas tipo “1001 filmes etc.” e “101 filmes etc.”. Há algo, porém, além do fato de ser uma refilmagem de “Profumo di donna”, estrelado por Vittorio Gassman em 1974. Esse algo não pode ser encarado, somente, como uma atuação impressionante por parte do personagem tenente-coronel Frank Slade. O que paira acima de tudo beira acima do natural – trata-se da Presença de Pacino.
Na véspera do feriado de Ação de Graças Chris O’Donnell vê o anúncio no mural do colégio – 300 dólares para cuidar de um inválido durante o final de semana. O magnetismo do cego estala os dedos e durante o imprevisto vôo para NY ele diz para o jovem – agora começa a sua educação. Maior verdade que o personagem Charles Simms irá ouvir durante toda a jornada.
“Perfume...” tem aquela marca do cinema americano dos 90, música de orquestra no fundo e tomadas amplas de noite e de dia inserindo a consciência do espectador no contexto.
Martin Brest é um cineasta de filmes menores e que no entanto fizeram seus gols no gênero comercialóide, vide “Um Tira da Pesada” e “Fuga à Meia-Noite”. Em “Perfume...” o inesperado se fez presente. O filme de Brest levou uma estatueta.
Coronel Slade fala um inglês possível para leigos apenas através das legendas, tantos são os seus floreios, gírias e metáforas pertinentes ao universo gringo. Ele vai torrar toda a sua pensão num final de semana de Melhor Hotel, Melhor Mulher (leia-se scort service) e Melhor Porre, para então vestir a farda e meter uma bala na cabeça. Chamar isso de clichê seria um pleonasmo. Todavia, Pacino fez alguma coisa com esse personagem que a célebre cena do tango é tão importante quanto aquela em que ele ensina seu “subordinado” a bater continência ou quando ele fala para o irmão mais velho, depois de um desastroso encontro familiar, “eu não sou boa coisa”. Há uma força ali difícil de explicar. Ele levou o indiscutível Oscar de melhor Ator 1993. Tanto o filme quanto a resenha poderiam ser encerrados com Caetano: “todo homem, todo lobisomem, sabe a imensidão da fome que tem de viver”. Cada gesto do protagonista exala exatamente esse bordão.
Fruto de uma época e de um conjunto de crenças, o personagem do coronel, para os padrões 2011/12 não passa de carne para o moedor e ninguém lhe faria jus a sua sintonia fina pelo sexo oposto, desde o uso da palavra “fêmea” até sua apurada capacidade em distinguir-lhes a fragrância. E seu ajudante não aprenderia patavina com a experiência, pois estaria o tempo todo com a cara enfiada no Facebook, para se dizer o mínimo.
O roteirista Bo Goldman dá outro recado através de uma subtrama que envolve o jovem O’Donnell e seus pares de colégio, incluindo aí Philip Seymour Hoffman. Pacino fará um discurso em defesa do amigo, que anda par e par com uma mensagem de internet que há meses não pára de circular – algo do gênero: “não crie seu filho para ser rico e sim para saber o valor das coisas”.
No final de contas, “Perfume...” é um filme sobre valores. Após o fastígio do final de semana o coronel se esvazia a ponto de cair na rua e a própria morte já lhe parece tão sem sentido como a própria vida. A única coisa capaz de trazê-lo de volta à realidade será prestar uma ajuda inestimável ao ser humano da vez.
“Perfume de Mulher” (Scent of a Woman)
O jovem Charles Simms (Chris O’Donnell) não poderia terceirizar o seu trabalho, mesmo porque o que ele estava fazendo já era uma terceirização. Charles aceitou tomar conta de um oficial reformado e cego e de repente se viu em NY com um louco de corrente fazendo planos para suicidar-se em poucas horas.
Já o personagem de Al Pacino pode ser encarado de duas ou três formas bem rasas e verdadeiras, entre elas a de pé de cana, arrogante, infantil e com mania de grandeza, que perdeu o bonde brincando com uma granada 5 anos antes (porque estava de pileque) e agora mora na casa da sobrinha fazendo o papel do enjeitado com um plano B. Triste, mas real e a cada seção desta existência não fazemos outra coisa senão desempenhar papéis. Querendo ou não. Por isso os esotéricos sugerem a “obrigatoriedade” da alegria. Inexiste escapatória.
O filme de Martin Brest está fora das listas tipo “1001 filmes etc.” e “101 filmes etc.”. Há algo, porém, além do fato de ser uma refilmagem de “Profumo di donna”, estrelado por Vittorio Gassman em 1974. Esse algo não pode ser encarado, somente, como uma atuação impressionante por parte do personagem tenente-coronel Frank Slade. O que paira acima de tudo beira acima do natural – trata-se da Presença de Pacino.
Na véspera do feriado de Ação de Graças Chris O’Donnell vê o anúncio no mural do colégio – 300 dólares para cuidar de um inválido durante o final de semana. O magnetismo do cego estala os dedos e durante o imprevisto vôo para NY ele diz para o jovem – agora começa a sua educação. Maior verdade que o personagem Charles Simms irá ouvir durante toda a jornada.
“Perfume...” tem aquela marca do cinema americano dos 90, música de orquestra no fundo e tomadas amplas de noite e de dia inserindo a consciência do espectador no contexto.
Martin Brest é um cineasta de filmes menores e que no entanto fizeram seus gols no gênero comercialóide, vide “Um Tira da Pesada” e “Fuga à Meia-Noite”. Em “Perfume...” o inesperado se fez presente. O filme de Brest levou uma estatueta.
Coronel Slade fala um inglês possível para leigos apenas através das legendas, tantos são os seus floreios, gírias e metáforas pertinentes ao universo gringo. Ele vai torrar toda a sua pensão num final de semana de Melhor Hotel, Melhor Mulher (leia-se scort service) e Melhor Porre, para então vestir a farda e meter uma bala na cabeça. Chamar isso de clichê seria um pleonasmo. Todavia, Pacino fez alguma coisa com esse personagem que a célebre cena do tango é tão importante quanto aquela em que ele ensina seu “subordinado” a bater continência ou quando ele fala para o irmão mais velho, depois de um desastroso encontro familiar, “eu não sou boa coisa”. Há uma força ali difícil de explicar. Ele levou o indiscutível Oscar de melhor Ator 1993. Tanto o filme quanto a resenha poderiam ser encerrados com Caetano: “todo homem, todo lobisomem, sabe a imensidão da fome que tem de viver”. Cada gesto do protagonista exala exatamente esse bordão.
Fruto de uma época e de um conjunto de crenças, o personagem do coronel, para os padrões 2011/12 não passa de carne para o moedor e ninguém lhe faria jus a sua sintonia fina pelo sexo oposto, desde o uso da palavra “fêmea” até sua apurada capacidade em distinguir-lhes a fragrância. E seu ajudante não aprenderia patavina com a experiência, pois estaria o tempo todo com a cara enfiada no Facebook, para se dizer o mínimo.
O roteirista Bo Goldman dá outro recado através de uma subtrama que envolve o jovem O’Donnell e seus pares de colégio, incluindo aí Philip Seymour Hoffman. Pacino fará um discurso em defesa do amigo, que anda par e par com uma mensagem de internet que há meses não pára de circular – algo do gênero: “não crie seu filho para ser rico e sim para saber o valor das coisas”.
No final de contas, “Perfume...” é um filme sobre valores. Após o fastígio do final de semana o coronel se esvazia a ponto de cair na rua e a própria morte já lhe parece tão sem sentido como a própria vida. A única coisa capaz de trazê-lo de volta à realidade será prestar uma ajuda inestimável ao ser humano da vez.