Resenha: Clube da Luta
O Ser humano busca desenfreadamente o seu bem estar pessoal. Um dos maiores conflitos do ser humano é procurar garantir um futuro; no que se refere a sua estabilidade. A maior dificuldade que temos que encarar é o medo do “medo” de não saber o que está por vir. E para superar este medo é necessário ignorar o “eu”, o pensamento egocêntrico que está impregnado em cada um de nós; só assim, poderemos dar algum sentido a nossa frágil e curtíssima vida.
O filme “Clube da Luta” relata de forma bastante filosófica os conflitos que nós, seres humanos precisamos enfrentar diariamente. Todos nós temos outro ser completamente diferente dentro de nós. Se não somos capazes de dominar o nosso “eu”, certamente seremos manipulados por ele.
O filme conta a história de Jack, um homem que tinha tudo: emprego estável, um lindo apartamento, que certamente proporcionaria conforto para qualquer família; principalmente as que perderam suas casas em enchentes, terremotos, ou algo semelhante. Mas não é disso que o filme trata. Voltando ao Jack, ele tinha tudo isso, porém, lhe faltava o principal: felicidade; talvez seja pelo fato da felicidade ser subjetiva a desilusão de muitos que a buscam.
Jack se encontrava sozinho, vivia apenas pra si mesmo, e há seis meses não era capaz de deitar e dormir e ter uma noite tranqüila. Jack se perdeu dentro de si mesmo, não foi capaz de dar significado as suas ideologias insignificantes de busca de bens materiais.
Jack começa a freqüentar sessões terapêuticas para pessoas com doenças crônicas, mas Jack não o fazia por caridade, mas para se sentir melhor, pois quando encontramos pessoas com problemas maiores que os nossos somos movidos por um sentimento de superioridade, nos sentimos fortes e confortados por isso. Quando sabemos que alguém está prestes a morrer prestamos mais atenção no que estes falam, e não nos preocupamos somente em esperar a nossa vez de falar. Porém Jack não se preocupava com ninguém, e quando ele encontrou Marla Singer, uma mulher sensual e excêntrica, viu nela algo semelhante a ele, Marla também não tinha nenhuma doença, entretanto, Jack não viu em Marla a oportunidade de se abrir, ao contrário, viu uma concorrente, uma ameaça ao seu “disfarce”, talvez o medo do desconhecido tenha impedido Jack de ter um relacionamento sincero com Marla.
O filme também faz uma crítica contundente ao sistema capitalista que vivemos hoje, onde somos avaliados não pelo que somos, mas pelo que temos. E Jack se vê manipulado por este “mundinho de sonhos e fantasias superficiais”. Como ele mesmo diz: “Essa é a mudança do sistema, o filme continua e ninguém na platéia faz a mínima idéia”. Jack começa a não se sentir atraído pelo seu trabalho, pela sua vida e passa a viver na platéia, vive escravo do seu instinto de conforto, simplesmente vendo a sua vida passar, sem estímulo, começa a buscar dentro de si, a pessoa que ele gostaria de ser. E a partir daí, Jack “encontra dentro de si”: Tyler; um homem que vive sem medo, sem distrações, um homem que tem a capacidade de deixar o que não importa deslizar de verdade. Não se apega a riqueza.
O problema é que Jack não sabe tirar da sua fraqueza a força necessária para dar a volta por cima. Jack tem as suas qualidades, porém não é autocrítico, não põe em questão os seus temores, e não sabe extrair o negativismo e explorar as suas potencialidades. Se fosse possível peneirar Jack e Tylor e extrair somente suas qualidades, certamente teríamos um líder eficaz. Jack (cauteloso, disciplinado e inteligente), Taylor (perseverante, audacioso e persuasivo) uma combinação perfeita para um bom líder.
Porém, Jack não sabe lidar com Tyler, e passa a ser manipulado por sua mente. Tyler e Jack encontram uma nova forma de terapia: dar socos e pontapés, em lutas sem finalidade; nada melhor para expelir suas angústias e frustrações. Mas ao passar do tempo, o Clube da Luta vai alcançando patamares mais altos, e mais perigosos. O Clube da luta torna-se o projeto destruição, movido em organização e muitas células. Como diz a Música: “É preciso saber viver”; a vida não é feita de ilusão, que as pedras no caminho existem para serem retiraras ou mesmo escaladas. Mas Jack não compreende essa filosofia, e se rende ao conformismo revolto dos não conformistas e escolhe a destruição ao invés da redenção. Até porque, é mais fácil destruir uma casa antiga, do que se dar ao trabalho de levantar tijolo por tijolo para edificar uma nova casa. Jack escolhe se render aos caprichos do seu “eu”.
No livro “O Monge e o Executivo”, James C. Hunter descreve como devemos liderar a nossa vida, e dos nossos liderados. É preciso Amar e se sacrificar pelas pessoas, fato que não estava nos planos de Jack, infelizmente ele não escolheu amar, escolheu viver para si, e teve a recompensa de suas escolhas: a crise de identidade que o fez viver em dupla personalidade, se arrependendo diariamente do que ele mesmo fez e do que não fez.
Fazendo uma analogia com a qualidade de vida empresarial que desejamos ter ou ver nas organizações, podemos dizer que existem muitos “Jack’s” e “Tyler’s” liderando pessoas em várias organizações. Muitos destes, não assumem as responsabilidades dos seus atos, e das suas escolhas. Escondem-se dentro de si, e vivem em dupla personalidade, não dialogam com seus liderados e se fecham no seu mundo. Trabalham em equipe, mas não estão preocupados com os que estão “doentes”, na verdade se unem aos doentes somente para se sentir mais fortes e mais poderosos, e assim quando encontra pessoas sãs, se sentem ameaçados, e ao invés de explorar o potencial destas pessoas, faz ao contrário, faz de tudo para afastá-las de seu grupo. Até porque a mentira não suporta dividir o mesmo espaço com a verdade.
O filme “Clube da luta” tem uma mensagem extraordinária, não podemos deixar de extrair e explorar as reflexões impostas pelo filme. Não duvido de que existe dentro de cada um de nós um “Tyler” escondido, porém não devemos assassiná-lo por completo, podemos assassinar o que não nos convém, porém as qualidades sempre são bem vindas.
A melhor forma de superar o egocentrismo é servindo as pessoas, até porque não somos o nosso emprego, nem o dinheiro que temos no banco e muito menos o carro que dirigimos; somos seres humanos que precisamos uns dos outros para encontrar sentido para nossa vida.
As pessoas que não compreendem o significado de se doar se perdem e se rendem aos “monstros” do seu ser. Não basta querer mudar, é preciso escolher mudar.