“Chinatown” (Chinatown)
“Chinatown” (Chinatown)
Digamos que você passou uma temporada fora do planeta. Por uns 40 anos. Cinema é brincadeirinha e faz de conta. Tudo é possível. Assim, podemos brincar um pouquinho, apenas para ilustrar um ponto de vista. Digamos que, ao chegar (você chegou ontem), alguém lhe prega uma peça, dizendo: assista esse filme, acabou de ser lançado e concorre ao Oscar 2012.
Digamos que você estava em Marte, tentando saber porque os homens são de lá, e nos seus primeiros 10 anos ficou sem comunicação com a Terra. Depois as coisas se normalizaram e de tempos em tempos a base local sempre se esforçou em atualizá-lo(a), enviando vídeos, fotos, jornais, DVDs, etc. Enfim você chegou, acaba de assistir “Chinatown” e exclama: caramba! Há muito tempo não se via nada tão moderno e consistente. Vai ganhar o Oscar 2012.
Rodado e dirigido por Roman Polanski em 1974, encantou os acadêmicos da Califórnia em 75 e levou o indiscutível Melhor Filme. E mais. A história do detetive particular J.J. "Jake" Gittes (Jack Nicholson) e suas desventuras com os poderosos da LA de 1935 e a viúva Evelyn Mulwray (Faye Dunaway) foi indicada nas categorias de melhor filme, diretor, ator (Jack Nicholson), atriz (Faye Dunaway), fotografia, direção de arte, figurino, edição e trilha sonora. Ninguém economizou um tostão nessa brincadeira, valendo a mesma mecânica de quantificação para um troço chamado talento. Na frente e atrás das câmeras.
Direção - Polanski, texto - Robert Towne, produção – Robert Evans. Internautas desocupados podem muito bem clicar no último nome e Father Google lhes dará uma pista do tamanho do currículo desse produtor, antes e depois de 1980. Num documentário mais ou menos recente sobre sua vida, Evans nos conta que tudo ia muito bem até uma amiga sua telefonar e lhe narrar em detalhes sobre uma novidade que acabara de chegar em Los Angeles, chamada cocaína...Isso foi em 1980.
Na frente das câmeras, o detetive J.J. Gittes é contratado por uma misteriosa mulher para seguir o marido dela.
Atrás das câmeras, em 1971, com um sucesso atrás do outro, Robert Evans ofereceu a Robert Towne 125.000 U$ para escrever “Gatsby”. Towne recusou porque estava terminando uma história muito boa chamada “Chinatown”. Tão boa que ele cobrou apenas 25.000 U$. Por fim, Evans escolheu Polansky, porque queria uma visão européia da América.
Na frente das câmeras Gittes descobre que a mulher que o contratara era uma farsante e o homem que ele seguia foi assassinado.
O tempo das cenas dá um senso ímpar de realidade, vide a ida do detetive a biblioteca ou sua visita ao Departamento de Águas. Ali ele examina fotos na parede, conversa com a secretária, de súbito abre uma porta e verifica os pintores pintando o nome do novo encarregado. Todo o filme transpira essa dinâmica de uma coisa viva que veio para ser visitada nos mínimos detalhes.
Towne escreveu as falas pensando no modo como Jack Nicholson articula as palavras. Foi o trabalho que o celebrou não só como ator, mas como protagonista.
“Chinatown” atinge uma peculiar plenitude durante as revisões, praticamente em todos os sentidos. E quando se observa as falas de Faye, conclui-se que todas dissimulam algo que sempre sugere algo pior. O segredo que ela carrega não está na ordem do dia para ser colocado para estranhos. Dada altura Nicholson, com a corda no pescoço, a esbofeteia indagando: quem é a mulher? Ela responde: minha filha. Ele a esbofeteia de novo e ela responde: minha irmã. Quando ela junta as informações, a ficha cai dentro e fora da tela: minha filha e minha irmã.
“Chinatown”, enquanto título, reúne uma simbologia triste que paira no fundo, dir-se-ia um aviso de má sorte aos personagens, que por mais distante que esteja, permanece sempre presente. Em entrevista realizada neste século, Evans pondera que nos dias de hoje esse filme não seria realizado.
Na visão do cinéfilo profissional Steven Jay Schneider “foi a genialidade de Polansky que concedeu ao filme uma visão grandiosa e perturbadora, colocando na tela uma coleção de excêntricos, vítimas e canalhas”.
Towne entrevistou ex-servidores policiais do bairro, e ficou intrigado com a palavra de ordem: faça o menos possível. Ele perguntou a respeito. “Porque ninguém entende o que acontece por lá”, responderam. Com essa fagulha ele criou um policial noir onde a contravenção não reside em jóias ou coisas exóticas e sim na corrupção do poder público aliado a interesses privados. Uma anomalia desde sempre conhecida.
“Chinatown” (Chinatown)
Digamos que você passou uma temporada fora do planeta. Por uns 40 anos. Cinema é brincadeirinha e faz de conta. Tudo é possível. Assim, podemos brincar um pouquinho, apenas para ilustrar um ponto de vista. Digamos que, ao chegar (você chegou ontem), alguém lhe prega uma peça, dizendo: assista esse filme, acabou de ser lançado e concorre ao Oscar 2012.
Digamos que você estava em Marte, tentando saber porque os homens são de lá, e nos seus primeiros 10 anos ficou sem comunicação com a Terra. Depois as coisas se normalizaram e de tempos em tempos a base local sempre se esforçou em atualizá-lo(a), enviando vídeos, fotos, jornais, DVDs, etc. Enfim você chegou, acaba de assistir “Chinatown” e exclama: caramba! Há muito tempo não se via nada tão moderno e consistente. Vai ganhar o Oscar 2012.
Rodado e dirigido por Roman Polanski em 1974, encantou os acadêmicos da Califórnia em 75 e levou o indiscutível Melhor Filme. E mais. A história do detetive particular J.J. "Jake" Gittes (Jack Nicholson) e suas desventuras com os poderosos da LA de 1935 e a viúva Evelyn Mulwray (Faye Dunaway) foi indicada nas categorias de melhor filme, diretor, ator (Jack Nicholson), atriz (Faye Dunaway), fotografia, direção de arte, figurino, edição e trilha sonora. Ninguém economizou um tostão nessa brincadeira, valendo a mesma mecânica de quantificação para um troço chamado talento. Na frente e atrás das câmeras.
Direção - Polanski, texto - Robert Towne, produção – Robert Evans. Internautas desocupados podem muito bem clicar no último nome e Father Google lhes dará uma pista do tamanho do currículo desse produtor, antes e depois de 1980. Num documentário mais ou menos recente sobre sua vida, Evans nos conta que tudo ia muito bem até uma amiga sua telefonar e lhe narrar em detalhes sobre uma novidade que acabara de chegar em Los Angeles, chamada cocaína...Isso foi em 1980.
Na frente das câmeras, o detetive J.J. Gittes é contratado por uma misteriosa mulher para seguir o marido dela.
Atrás das câmeras, em 1971, com um sucesso atrás do outro, Robert Evans ofereceu a Robert Towne 125.000 U$ para escrever “Gatsby”. Towne recusou porque estava terminando uma história muito boa chamada “Chinatown”. Tão boa que ele cobrou apenas 25.000 U$. Por fim, Evans escolheu Polansky, porque queria uma visão européia da América.
Na frente das câmeras Gittes descobre que a mulher que o contratara era uma farsante e o homem que ele seguia foi assassinado.
O tempo das cenas dá um senso ímpar de realidade, vide a ida do detetive a biblioteca ou sua visita ao Departamento de Águas. Ali ele examina fotos na parede, conversa com a secretária, de súbito abre uma porta e verifica os pintores pintando o nome do novo encarregado. Todo o filme transpira essa dinâmica de uma coisa viva que veio para ser visitada nos mínimos detalhes.
Towne escreveu as falas pensando no modo como Jack Nicholson articula as palavras. Foi o trabalho que o celebrou não só como ator, mas como protagonista.
“Chinatown” atinge uma peculiar plenitude durante as revisões, praticamente em todos os sentidos. E quando se observa as falas de Faye, conclui-se que todas dissimulam algo que sempre sugere algo pior. O segredo que ela carrega não está na ordem do dia para ser colocado para estranhos. Dada altura Nicholson, com a corda no pescoço, a esbofeteia indagando: quem é a mulher? Ela responde: minha filha. Ele a esbofeteia de novo e ela responde: minha irmã. Quando ela junta as informações, a ficha cai dentro e fora da tela: minha filha e minha irmã.
“Chinatown”, enquanto título, reúne uma simbologia triste que paira no fundo, dir-se-ia um aviso de má sorte aos personagens, que por mais distante que esteja, permanece sempre presente. Em entrevista realizada neste século, Evans pondera que nos dias de hoje esse filme não seria realizado.
Na visão do cinéfilo profissional Steven Jay Schneider “foi a genialidade de Polansky que concedeu ao filme uma visão grandiosa e perturbadora, colocando na tela uma coleção de excêntricos, vítimas e canalhas”.
Towne entrevistou ex-servidores policiais do bairro, e ficou intrigado com a palavra de ordem: faça o menos possível. Ele perguntou a respeito. “Porque ninguém entende o que acontece por lá”, responderam. Com essa fagulha ele criou um policial noir onde a contravenção não reside em jóias ou coisas exóticas e sim na corrupção do poder público aliado a interesses privados. Uma anomalia desde sempre conhecida.