Uma jornada de auto-conhecimento entre o real e o imaginário: O Labirinto do Fauno

Guillermo Del Toro é um cineasta mexicano nascido em 9 de outubro de 1964. Del Toro sempre demonstrou grande interesse por filmes de terror e na década de 1980 abriu sua primeira empresa especializada em maquiagem para filmes de terror chamada Necrofia. Seu primeiro longa “Cronos” de 1993 recebeu o prêmio Ariel de Ouro (o Oscar Mexicano). O cineasta também tem filmes mais conhecidos como “A espinha do diabo” e “Hellboy”. Entretanto, sua consagração ocorreu de fato com “O labirinto do Fauno” de 2003.

O filme se passa na Espanha no ano de 1944 e embora a guerra civil já tenha oficialmente acabado, um grupo de rebeldes ainda luta pelos seus ideais. É nesse contexto que Ofélia, uma garota de dez anos, apaixonada por contos de fadas, muda-se com a mãe grávida para a casa de seu padrasto e é neste lugar que ela descobrirá um mundo de fantasia e magia e, ao mesmo tempo, terá um íntimo contato com a realidade de forma intensa e cruel.

No início do filme é contada a história de uma princesa que vivia no mundo subterrâneo mas fugiu para a superfície e então ficou cega com a luz do sol e perdeu a memória, sofreu com o frio, a fome e acabou morrendo. Fauno afirma que Ofélia é a princesa da história e que seu pai a aguarda em seu reino, entretanto, para voltar terá de provar que sua essência não foi perdida e que não se tornou uma mortal. Para isso lhe são atribuídas algumas tarefas que ela tem de cumprir antes da lua cheia, a partir de então, Ofélia tem um encontro cada vez mais profundo com esse mundo mágico ao se deparar com criaturas cada vez mais horrendas. Nesse momento, esses dois mundos, real e mágico, começam a se entrelaçar progressivamente e coexistem até que, subitamente, no fim do filme se separam. Na cena final que demarca também o fim da jornada de autoconhecimento de Ofélia, é cada espectador que escolhe em qual desses mundos ela permanecerá.

Ao longo de sua jornada, que nada mais é do que uma jornada de autoconhecimento, ou seja, uma jornada na qual ela buscará sua verdadeira identidade, a garota demonstra a coragem e determinação que é atributo dos adultos e, ao mesmo tempo, a ingenuidade e a pureza que só as crianças possuem. Essa jornada se inicia quando ela encontra uma fada que a leva até um labirinto habitado por uma criatura mágica, metade homem, metade bode, de nome Fauno cuja missão é orientar Ofélia em seu caminho rumo à vida que deixou para trás. Apesar de ser uma figura tão bizarra, Fauno logo conquista a confiança da menina e se torna um de seus dois únicos amigos. No entanto, a aparência monstruosa de Fauno é, por vezes, colocada em segundo plano por outra figura monstruosa, porém, desta vez, não no plano físico. O padrasto de Ofélia é um capitão fascista, cuja personalidade se opõe em tudo a ela, sua crueldade o faz maltratar todos ao seu redor, exceto seu filho, único por quem demonstra certo apego.

É interessantíssimo perceber que Del Toro estabelece uma metáfora sutil dentro do filme, através da qual compara as duas paisagens e os dois mundos que são apresentados no filme. A paisagem que representa a vida real é árida, enquanto a que representa o imaginário é uma floresta, cheia de vida.

No filme podem se encontradas metáforas e alegorias. O pai de Ofélia pode ser considerado uma metáfora de Deus, que a espera pacientemente em seu reino e, quando eles se encontrarem não saberemos o que acontecerá, assim como não se pode saber como será o encontro com Deus. Há também no filme uma alegoria de caráter político, a segunda criatura que Ofélia enfrenta, “o monstro que come criancinhas” pode ser comparado aos comunistas que eram acusados de tal ato, essa afirmação pode ser confirmada ao se analisar que toda a cena se constrói em tons de vermelho, cor do símbolo comunista.

É importante perceber que apesar destes dois mundos estarem constantemente em contraste eles nunca chegam a se contradizer. Além disso, apesar de ser uma história mitológica o espectador é levado a acreditar nela porque em momento nenhum Ofélia duvida das coisas fantásticas que acontecem à sua volta. Com uma história e personagens muito envolventes e convincentes, o labirinto do fauno é uma história que prende a atenção do começo ao fim.

Daniele de Freitas
Enviado por Daniele de Freitas em 17/10/2011
Reeditado em 19/01/2015
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