“Nunca Fui Santa” (Bus Stop)
“Nunca Fui Santa” (Bus Stop)
A debilidade da tradução só perde para o reclame colocado nos postes da Paulista neste setembro pré-primaveril: cachorrona etc. O etc. embute uma rápida descrição dos atributos e serviços prestados pela cachorrona, seguidos de um número de celular. Incrível a maneira como as pessoas se expressam nesse nosso não menos incrível tempo presente. O que será que cachorrona evoca na freguesia?
Todos caso, não era isso que o jovem personagem Beauregard (Don Murray) tinha em mente quando fala para o seu velho mentor: eu quero um anjo. O velho mentor aqui é interpretado pelo saudoso Arthur O'Connell, que ao olhar para Marilyn Monroe, explica para o pupilo: isso não é um anjo, apenas uma garota que trabalha num bar. Cinco minutos antes ocorre uma cena bastante ilustrativa das relações empregatícias e quando patrão sai do camarim, a melhor amiga indaga: como você agüenta isso? Marilyn sacode a bolsa e mostra: está vazia. Grosso modo, 5.000 anos de história escrita e não conseguimos mudar uma vírgula na via do ser humano com bolsa vazia versus aquele que enche a bolsa.
Joshua Logan dirige. Alguns anos antes ele havia dirigido a obra prima “Férias de Amor” (Picnic). Arthur O'Connell fez o papel do solteirão que casa meio na marra com a solteirona impagável Rosalind Russell, que ao amanhecer e oriunda de um porre astronômico se joga aos pés dele e diz: case comigo, por favor, senão ano que vem será outro homem, e depois outro homem, etc. Cruzes, essa conversa tem mais de meio século. Será que o propagandista dos postes acharia a personagem de Rosalind uma cachorrona? Enquanto você matuta e, a título de curiosidade, os publicitários da indústria do entretenimento, em 1956, alardeavam sobre Bus Stop: the most eagerly awaited picture in years, traduzindo, grosso modo, o filme mais ansiosamente esperado, etc.
Murray e O'Connell tomam o ônibus numa cidadela rumo a Phoenix a fim de participarem de um rodeio. Murray completou 21 anos e é o sujeito mais desprovido de desconfiômetro da face da terra, O'Connell tem no mínimo duas vezes a sua idade, foi quem lhe ensinou a nadar e a montar, Murray fala pelos cotovelos, nunca saiu do rancho, nunca esteve com uma garota, bebe leite, vai ganhar todos os prêmios do rodeio e nutre a certeza absoluta de que seu anjo é Marilyn Monroe. E se for preciso laçá-la para o casamento, então será no laço. Basicamente a trama é essa.
O elenco se comporta com o profissionalismo que se espera, a fotografia é da época em que o pigmento amarelo da Kodak estava em circulação, o que conferia aos filmes coloridos um charme até hoje não sobrepujado, Joshua Logan, o mandarim da direção trabalhando direitinho o texto sem surpresas de Willian Inge e o tempo tratou de deixar para as gerações seguintes a dimensão exata desse mito chamado Marilyn Monroe.
Entretenimento acima da média, especialmente para desviar a atenção daqueles que acompanham à distância o trabalho dos que legislam em causa própria. Aliás, Nunca Fui Santa seria um ótimo título para uma sessão do plenário.
“Nunca Fui Santa” (Bus Stop)
A debilidade da tradução só perde para o reclame colocado nos postes da Paulista neste setembro pré-primaveril: cachorrona etc. O etc. embute uma rápida descrição dos atributos e serviços prestados pela cachorrona, seguidos de um número de celular. Incrível a maneira como as pessoas se expressam nesse nosso não menos incrível tempo presente. O que será que cachorrona evoca na freguesia?
Todos caso, não era isso que o jovem personagem Beauregard (Don Murray) tinha em mente quando fala para o seu velho mentor: eu quero um anjo. O velho mentor aqui é interpretado pelo saudoso Arthur O'Connell, que ao olhar para Marilyn Monroe, explica para o pupilo: isso não é um anjo, apenas uma garota que trabalha num bar. Cinco minutos antes ocorre uma cena bastante ilustrativa das relações empregatícias e quando patrão sai do camarim, a melhor amiga indaga: como você agüenta isso? Marilyn sacode a bolsa e mostra: está vazia. Grosso modo, 5.000 anos de história escrita e não conseguimos mudar uma vírgula na via do ser humano com bolsa vazia versus aquele que enche a bolsa.
Joshua Logan dirige. Alguns anos antes ele havia dirigido a obra prima “Férias de Amor” (Picnic). Arthur O'Connell fez o papel do solteirão que casa meio na marra com a solteirona impagável Rosalind Russell, que ao amanhecer e oriunda de um porre astronômico se joga aos pés dele e diz: case comigo, por favor, senão ano que vem será outro homem, e depois outro homem, etc. Cruzes, essa conversa tem mais de meio século. Será que o propagandista dos postes acharia a personagem de Rosalind uma cachorrona? Enquanto você matuta e, a título de curiosidade, os publicitários da indústria do entretenimento, em 1956, alardeavam sobre Bus Stop: the most eagerly awaited picture in years, traduzindo, grosso modo, o filme mais ansiosamente esperado, etc.
Murray e O'Connell tomam o ônibus numa cidadela rumo a Phoenix a fim de participarem de um rodeio. Murray completou 21 anos e é o sujeito mais desprovido de desconfiômetro da face da terra, O'Connell tem no mínimo duas vezes a sua idade, foi quem lhe ensinou a nadar e a montar, Murray fala pelos cotovelos, nunca saiu do rancho, nunca esteve com uma garota, bebe leite, vai ganhar todos os prêmios do rodeio e nutre a certeza absoluta de que seu anjo é Marilyn Monroe. E se for preciso laçá-la para o casamento, então será no laço. Basicamente a trama é essa.
O elenco se comporta com o profissionalismo que se espera, a fotografia é da época em que o pigmento amarelo da Kodak estava em circulação, o que conferia aos filmes coloridos um charme até hoje não sobrepujado, Joshua Logan, o mandarim da direção trabalhando direitinho o texto sem surpresas de Willian Inge e o tempo tratou de deixar para as gerações seguintes a dimensão exata desse mito chamado Marilyn Monroe.
Entretenimento acima da média, especialmente para desviar a atenção daqueles que acompanham à distância o trabalho dos que legislam em causa própria. Aliás, Nunca Fui Santa seria um ótimo título para uma sessão do plenário.