Perplexidade! Era isto que eu percebia nos rostos das pessoas que saíam do cinema.
Aposto que,a começar por mim,ninguém entendeu nada.No início,um  perguntei a meu neto:
_É uma tela de cinema ou estamos num museu de arte moderna?
Mas,eu sou tinhosa.Sentia que aquele filme tinha uma mensagem e queria descobrir qual.Não se ganha a Palma de Ouro ,em Cannes,a toa.
Daí  a sair pesquisando foi  um pulo.E,achei.
Agora, penitencio-me da minha ignorância.É um filme para poucos;mas,é lindo!
É um filme filosófico,o que não é de se estranhar,sendo o diretor,Malick ,um filósofo que estudou em Harvard e no prestigiado MIT. Explora o sentido da vida e a condição humana  numa interrogação cósmica que nos remete ao princípio do Universo,através das belas imagens do início da fita: o Big Ben, a explosão do Etna,as geleiras da Antártica,os oceanos ,a criação da vida,na terra e a sua relação com os seres humanos.
Essas imagens que achamos extemporâneas no início do filme são parte inerente dessa viagem através dos tempos e a busca do personagem pelas respostas e questionamentos que afligem todos nós.
Jornalistas que muitas vezes escrevem sobre filmes que nunca viram ou se viram não entenderam,ironizaram ,chamando esta parte de “momento National Geographic”; se procurassem o porque,não pagariam esse mico.
 Devemos  escolher entre a Natureza e a Graça,como está citado no livro de Jó; a mulher,protagonista do filme representa a Árvore da Vida,pois escolheu a Graça,o perdão,a compreensão,o amor incondicional,a tolerância.Ela  é  o bastião da fé e o elo que mantém unida a família, mesmo nas provações.
Quem se propor a assistir o filme verá que sua aparência é melíflua,mais espírito que corpo,etérea,celestial.
Jessica Chastain está perfeita no papel.
A Natureza se revela através dos homens da casa, pai (Brad Pitt) e três filhos que vivem ás turras,se batendo,se enfrentando,discordando –e, que,no entanto,se amam.
Pois a Natureza reflete a luta pela sobrevivência, a imposição,as guerras,o domínio, a ganância,a incompreensão dos desejos alheios.
O filme é quase todo baseado nas memórias de Jack (Sean Penn, quando adulto e o excelente Hunter MacCraken,criança ) que vivia com a família na cidade de Waco,Texas,a mesma cidade onde nasceu o diretor.
A morte de um dos seus irmãos assustou Jack e o levou a questionar  o sentido da vida,o sentimento do mundo e,principalmente, Deus,esse ser Todo – Poderoso,cuja crueldade exercida sobre os humanos permite que seja tirado de nós as coisas ou pessoas que mais amamos.
Jack cresceu num mundo impregnado de cristianismo,mas,começa a descrer de tudo que aprendeu a respeitar desde a mais tenra infância.Essa luta travada dentro do seu coração  o leva a entender a natureza (o pai) e a graça (a mãe) e,assim,começa a sua viagem no tempo á procura da verdade e reavaliando a história do homem e sua perplexidade diante dos acontecimentos inexplicáveis e fora da sua alçada de poder.Stanley Kubrick fazia isto muito bem e o Malick  o faz com uma maestria perfeita.
A  Árvore da Vida é um filme filosófico,não religioso ; embora a religião faça parte da formação dos personagens e a tragédia de cunho  religioso que aconteceu nesta cidade em 1993,culminando na morte de 76 pessoas,talvez tenha influenciado o diretor.
A psicanálise também se faz presente na cena em que Jack revê os personagens do seu passado, numa praia.
A Árvore da Vida é um filme  belíssimo,raro  ,intenso e lamento apenas que seja um filme para poucos.
Confesso que vou revê-lo,conquistada pelas suas imagens quase hipnóticas,pela viagem no tempo,pela beleza dos questionamentos  e pela beleza intensa da sua mensagem.
 
Miriam de Sales Oliveira
Enviado por Miriam de Sales Oliveira em 06/09/2011
Código do texto: T3203874
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.