BARRAVENTO de Glauber Rocha
Ontem assisti pela primeira vez seu primeiro longa: Barravento. Feito no início dos anos sessenta, reflete a ebulição política e social do Brasil daqueles anos. Tenta pensar e fazer pensar políticamente. Mesmo Glauber dizendo que esqueceremos Lennin, mas nunca Maiakovsky... seu cinema era inovador, estético e, sobretudo político. Era engajado, de "esquerda", enfatizando a exploração do trabalhador pelo dono do "Capital" e a luta de classes. Era "possuído" por uma dialética Marxista. Ao mesmo tempo, os planos são épicos. Um épico a cada cinco minutos. Muita luz natural na busca de uma estética de "externas", anti-industrial, em confronto direto, e assumido, com os filmes de "estúdio". Sua busca frenética por uma estética nacional, liberta do colonizador, acabou identificando-o, mais tarde, como ponta de lança do chamado cinema novo.
Mas voltemos ao "Barravento". Um filme que acende o pavio, o vê queimar e na hora da explosão se limita a ir embora. Cenas e planos maravilhosos nos mostram uma colonia de pescadores em um litoral sem mapa ao mesmo tempo iconográfico. Não tem geografia por ser de qualquer lugar e atemporal, mas tem registro cultural e sobretudo comportamental. Mostra a importância e a influência da religião no reino da ignorância, discutindo a influência, mesmo ao perdoá-la no beijo final e na compreensão do personagem Aruã. Essa coisa do fatalismo religioso, digamos assim... rondando e se impondo sempre. Um que de cíclico posto que o filme termina no mesmo lugar em que começa. No mesmo lugar em que o personagem Firmino chega da cidade, Aruã vai para a cidade... Profético? Talvez... o primeiro veio com idéias e o segundo vai em busca de dinehiro. Talvez a maior semelhança/diferença do Brasil de então com o de hoje.