Match Point
Woody Allen em um momento brilhante.
Algo como “o mundo e a evolução são frutos do mero acaso”. Ou, se você tem sorte é melhor do que ser bem sucedido ou mesmo “brilhante” no seu métier. Vá-la., filosofe... pense. Dê umas voltas no quarteirão ou sente na privada se preferir, mas você não conseguirá ser nem ao menos mínimamente capaz de refutar. Woody é imbatível quando se trata de diálogos para a telona. Rendam-se terráqueos: ele até consegue mostrar Londres para nosotros. Umas vistas lindas do Tâmisa... tem até Big Ben. A louca possibilidade inserta no nanosegundo que separa uma vitória de uma derrota. Será que este filme só nos conta a história da bolinha que bate na rede e por um breve momento flutua no ar, antes de o acaso (ou a sorte, como quiser) determinar quem vence e quem perde? Isso seria muito simples, afinal é assim que ele começa. Mas também é assim que ele termina. Ou não. Claro que não: para variar ele está preocupado em nos convencer de que Deus ou não existe ou é um grande piadista, que está pouco se lixando para qualquer propósito que você pense que a vida possa ter. There is no spoon. Ops, desculpem: There is no plan.
Na prateleira lá de casa tem muita coisa do Woody. Aprendi a gostar de seus diálogos, mais ainda depois que passei a dominar a lingua na qual são escritos. Aliás, isso me lembra que preciso fundar uma comunidade virtual qualquer do tipo “não suporto tradutor de legenda de cinema” ou “sou contra tradutores de legenda”. Imagine o cara traduzir Libras esterlinas por Dolar. Assim, sem mais nem menos. Ou é um idiota que desconhece o mundo, as implicações de nele se viver, ou pensa que nós o somos. É irracional.
Isso me lembra que, na verdade, eu sou é contra legenda. Ou sabe a língua, ou bota logo o filme dublado e pronto. A legenda só tira atenção da gente, faz perder detalhes belíssimos de filmagem, tomada de câmera, iluminação e atuação. O cara fica lendo filme em vez de ver... E tem mais: por conta de ler, não se atenta com os diálogos e o som do cinema que se dane. Eu passei anos vendo meus pais falarem mal de filme nacional, por não entenderem os diálogos. É claro, todos iam ao cinema para ler e pouco se lixavam com o que era dito ou miado em inglês. Portanto, os donos de salas de exibição não se preocupavam com a qualidade dos alto-falantes. Agora que o cinema nacional faz produções melhores e as salas precisam competir com a televisão e as traquitanas tipo home-isso home-aquilo, cuida-se mais do som. É bom mesmo. Melhor ainda quando se trata de Woody. Para festival de explosões e tiros, bastam falantes com defeito.