CONFISSÕES DE UMA GAROTA DE PROGRAMA (THE GIRLFRIEND EXPERIENCE, EUA, 2009)
O que podemos esperar de um filme com o título “Confissões de uma Garota de Programa” e cuja atriz principal é uma estrela de filmes adultos? Muita nudez regada por cenas de sexo acrobático e pirotécnico? Certo? Errado. Definitivamente, o foco do filme não é a prostituição.
Contando a vida pessoal e profissional de Chelsea, a garota de programa de luxo que atende homens da alta sociedade de Manhattan, interpretada pela estrela de filmes eróticos Sasha Grey, Steven Soderbergh, diretor de “Onze Homens e Um Segredo”, “Traffic”, “Sexo, Mentiras e Videotape”, parece querer mesmo nos fazer refletir sobre as relações humanas e o poder do dinheiro na sociedade capitalista em que vivemos.
Chelsea é a garota de programa perfeita. Jovem, bonita, discreta, bem vestida, educada. Perspicaz, ela sabe que o cliente não a quer como de fato é - por isso, se transforma na mulher que cada um deles deseja. Oferece mais do que prazer. Sexo parece ser apenas um item do pacote, talvez nem o mais importante. Ela ouve os problemas dos clientes, pergunta sobre as esposas e os filhos, ri das piadas, troca ideias sobre o filme assistido e, sobretudo, conversa com eles sobre dinheiro. Não à toa. Na época da filmagem, o país se encontrava às vésperas da última eleição presidencial, momento em que a instabilidade financeira passou não só a assustar como também a afetar a classe alta da sociedade norte-americana. Todos, no fundo, republicanos ou democratas, estão preocupados em ganhar mais dinheiro e manter o elevado padrão de vida. A própria Chelsea investe pesado em seus negócios para aumentar a clientela na tentativa de se transformar em um artigo de luxo cada vez maior. Ela aparece em algumas cenas pedindo a ajuda de um especialista em informática para dar mais visibilidade ao seu site. Chega, inclusive, a sair com um cliente asqueroso que, em troca de sexo, se compromete a publicar na internet uma crítica positiva sobre ela e os serviços prestados.
Chris, namorado de Chelsea, é personal trainer de uma academia e tem ambições de abrir um negócio próprio. Ele aceita com naturalidade a profissão da amada. Sua mentalidade capitalista faz crer que os fins justificam os meios. Apenas não admite que Chelsea se envolva emocionalmente com nenhum cliente. É o que acontece ou, pelo menos, parece acontecer.
O filme não segue uma narrativa cronológica. Presente, passado e futuro se misturam. Para olhos desavisados e acostumados aos padrões hollywoodianos, o drama pode parecer frio e insosso. Desde o começo da película, quando filma o encontro da garota com o primeiro cliente, a câmera jamais se aproxima do corpo da atriz nem de seu acompanhante, dando preferência aos objetos. No final desta sequência, por exemplo, ganham destaque duas taças de vinho tinto emoldurando o contato sexual do casal. Mas existe uma coerência e um objetivo por trás deste recurso cinematográfico escolhido por Soderbergh. Vivemos em uma sociedade capitalista, realizadora de desejos, em que tudo é transformado em mercadoria, objeto de consumo e gozo, inclusive as pessoas. E é justamente isto que o diretor parece querer mostrar: numa época marcada pela inversão de valores, os relacionamentos humanos se tornam frios, frágeis e vazios.
Enfim, sem dúvida alguma, o filme vai além das aparências e merece ser visto.
O que podemos esperar de um filme com o título “Confissões de uma Garota de Programa” e cuja atriz principal é uma estrela de filmes adultos? Muita nudez regada por cenas de sexo acrobático e pirotécnico? Certo? Errado. Definitivamente, o foco do filme não é a prostituição.
Contando a vida pessoal e profissional de Chelsea, a garota de programa de luxo que atende homens da alta sociedade de Manhattan, interpretada pela estrela de filmes eróticos Sasha Grey, Steven Soderbergh, diretor de “Onze Homens e Um Segredo”, “Traffic”, “Sexo, Mentiras e Videotape”, parece querer mesmo nos fazer refletir sobre as relações humanas e o poder do dinheiro na sociedade capitalista em que vivemos.
Chelsea é a garota de programa perfeita. Jovem, bonita, discreta, bem vestida, educada. Perspicaz, ela sabe que o cliente não a quer como de fato é - por isso, se transforma na mulher que cada um deles deseja. Oferece mais do que prazer. Sexo parece ser apenas um item do pacote, talvez nem o mais importante. Ela ouve os problemas dos clientes, pergunta sobre as esposas e os filhos, ri das piadas, troca ideias sobre o filme assistido e, sobretudo, conversa com eles sobre dinheiro. Não à toa. Na época da filmagem, o país se encontrava às vésperas da última eleição presidencial, momento em que a instabilidade financeira passou não só a assustar como também a afetar a classe alta da sociedade norte-americana. Todos, no fundo, republicanos ou democratas, estão preocupados em ganhar mais dinheiro e manter o elevado padrão de vida. A própria Chelsea investe pesado em seus negócios para aumentar a clientela na tentativa de se transformar em um artigo de luxo cada vez maior. Ela aparece em algumas cenas pedindo a ajuda de um especialista em informática para dar mais visibilidade ao seu site. Chega, inclusive, a sair com um cliente asqueroso que, em troca de sexo, se compromete a publicar na internet uma crítica positiva sobre ela e os serviços prestados.
Chris, namorado de Chelsea, é personal trainer de uma academia e tem ambições de abrir um negócio próprio. Ele aceita com naturalidade a profissão da amada. Sua mentalidade capitalista faz crer que os fins justificam os meios. Apenas não admite que Chelsea se envolva emocionalmente com nenhum cliente. É o que acontece ou, pelo menos, parece acontecer.
O filme não segue uma narrativa cronológica. Presente, passado e futuro se misturam. Para olhos desavisados e acostumados aos padrões hollywoodianos, o drama pode parecer frio e insosso. Desde o começo da película, quando filma o encontro da garota com o primeiro cliente, a câmera jamais se aproxima do corpo da atriz nem de seu acompanhante, dando preferência aos objetos. No final desta sequência, por exemplo, ganham destaque duas taças de vinho tinto emoldurando o contato sexual do casal. Mas existe uma coerência e um objetivo por trás deste recurso cinematográfico escolhido por Soderbergh. Vivemos em uma sociedade capitalista, realizadora de desejos, em que tudo é transformado em mercadoria, objeto de consumo e gozo, inclusive as pessoas. E é justamente isto que o diretor parece querer mostrar: numa época marcada pela inversão de valores, os relacionamentos humanos se tornam frios, frágeis e vazios.
Enfim, sem dúvida alguma, o filme vai além das aparências e merece ser visto.