A vila (The Village, 2004, M. Night Shyamalan)
A vila - crítica
Algo me incomodava quando saí da sessão de A Vila. Aquele algo que sempre me diz que um filmeé bom. Aquela coisa que não me deixa ter uma conclusão apressada. Esse tipo de filme já mereceum crédito, pois, sendo ruim ou bom, fica em nossas cabeças, nos marcam, nos fazem pensar.
(eu vou contar tudo sobre o filme, se você já viu o filme beleza, se não e quiser parar é bom,se não viu e não liga a mínima prefiro que nem leia o comentário)
A princípio o modo de divulgação do filme me deixou meio inquieto. Pela primeira vez vieram para a televisão pedir que os que assistissem o filme não explanassem seu final. Porque será?
Porque o diretor é aquele que fez o Sexto Sentido. Aquele que tem um final surpresa na manga.
O filme se passa em dias mais ou menos atuais, algo entre 1970 e o agora. Existe uma vila, que é cercada de amarelo por todos os lados. O vermelho é proibido dentro da vila, a cor damorte, do sangue. É a cor dos bichos assustadores que moram no bosque ao redor da vila.
Bichos grandes. Que vestem vermelho. Que fizeram trégua com os humanos dali. E assim começao longa. O filme começa com um clima de suspense bastante agradável. Aquele filme que começae você não consegue imaginar o que vai vir. Ou ainda melhor, você é requisitado para participarjunto ao longa no que vai vir.
O ritmo lento e a duração das conversas são muito bem explorados. Eles deixam o espectadorcom todos os ingredientes básicos e deixam a mente correr solta pelas pontas incompletas.
A vila é pacata, simples e inocente. Todos trabalham para todos, comem juntos e vivem em paz.
Tirando os sons, dos bichos. Que vêm do bosque. Que precisam ser vigiados sempre. Ótimoquesito que torna a experiência mais tensa. Mais presa no chão. Deixa aquele ar de sobrenatural.
Alguém então começa a pegar os animais, efolá-los e deixar só em carne. Crueldade. Aquele pingo de absurdo no meio da inocência. Isso começa a inquietar os moradores da vila.
E o romance começa. Você achou que não ia ter romance na história? Nada é muito preparado.Nada fica para acontecer mais pra frente, as coisas vão se desenrolando. O beijo dos mocinhosé dado logo, não fica pro final, graças ao bom senso.
Em todos os momentos os bichos são chamados Aqueles-os-quais-não-pronunciamos-o-nome, ou algo assim (those we dont speak of, algo assim também) cultivando o medo, a reclusão.
Em todos os momentos o medo impera, o medo faz com que todos morem na vila e não se arrisquem sair.Pisar fora do perímetro da vila é para poucos corajosos. É motivo de cagasso para a maioria.
Até que eles aparecem na vila. É um furação praticamente. Todos correndo para abrigos seguros, para fugir dos bichos. Medo, mais medo.
Tem uma cega, tem o recluso, eles se amam, são o casal. Que será o motivo para o terceiro ato do filme. Ele é ferido, ela tem que salvar ele. Salvar ele e salvar a vila, salvar para tudocontinuar como está.
Quem quer ver um filme de sustos, com uma reviravolta no final esqueça, não vá ver esse filme, ele é muito melhor no intuito que os outros. Acaba não se destacando.
Gostei muitos dos diálogos, são coesos e fazem tudo entrar no ritmo.A câmera é mais fechada,evita tomadas amplas, tem umas posições maneirosas. Faz o seu papel, e o faz bem.
Vamos a reviravolta. Certo momento o pai é obrigado a revelar a cega que os monstros nãoexistem. Ele a faz tocar em uma fantasia, para garantir que ela vá acreditar. Único meio,até então, de fazê-la atraavessar o bosque e buscar os remédios.
É então que o diretor trabalha brilhantemente com o medo do público. Mesmo sabendo que elesnão existem o medo de aparecer alguma coisa ainda fica na gente. Aquela coisa que contradiz a inteligência, aquilo que busca ao nossos mais primitivos sensos intuitivos.
Ficamos à mercê desses sentimentos. E quando aparece outra vez o bicho na tela os mais espertosdescartam logo a opção dele ser real, outros continuam achando. Pena daqueles que continuamachando que ele existe, há apenas frustração. Mas não vá dizer que o diretor não o avisou antes.Você caiu na sua própria armadilha.
Ela, a cega, tinha que ir. Para manter a Vila. Para dar a continuidade ao sonho dos Dirigentes. Esses que não sobreviveriam muito mais, quando fossem embora o que restaria? A desconfiança dafalta dos bichos, então acabando o "sonho".
Não vou explicitar aqui demais defeitos do longa, pois, de qualquer jeito, são perfeitamente perceptíveis.
No fundo A vila é um filme frustrante para o público "normal" que vai esperando alguma coisa do filme. Se for um público "normal" que vá sem esperar nada dele, vai ter uma reação diferente.E para os mais entendidos do assunto não creio que eles podem ignorar todas essas coisas boas do filme. Mesmo tendo seus tropeços o filme não chega a ser tão ruim como está sendo falado.