Antes do Por do Sol / do Amanhecer (Before Sunset / Before Sunrise, 2004-1995 , Richard Linklater)
Antes do Amanhecer e Antes do Por do Sol
Antes do Amanhecer e Antes do Por do Sol são dois filmes praticamente impossíveis de serem ignorados. Sei que a princípio os dois não se encaixam muito no ritmo e estilo de filmes que vem sendo feitos pela indústria do cinema. E quando aplico a palavra indústria, não o faço por força do hábito, mas sim com completa certeza de que a maioria dos filmes hoje são fabricados industrialmente. Pegue a fórmula, siga os dez passos e terá um filme rentável. E ela atua pesadamente. Começando a contagiar nosso cinema também, como as coisas que a Globo Filmes faz para promover seus pseudo-artistas. E pasmem a SBT Filmes entrou no mercado também. Com Adriane Galisteu. É fazer ignorar tais filmes. Creio que no fim não é uma coisa de Hollywood mas um coisa da ganância generalizada esse indústria.
Voltando ao rumo do papo, o ritmo dos filmes é lindo. Ele acontece quase que ao mesmo tempo da paixão dos dois. Os filmes acontecem no ritmo da conversa. Pasmem ilustres aficionados por cinema pipoca! Eles se apaixonam porque conversam. O que é totalmente improvável e impensado em um filme atualmente. Onde joguinhos de interesses, poder ou trapalhadas idiotas separam os casais até a cena final onde tudo se resolve. Aqui o papo flui e com isso nos apaixonamos pela paixão dos dois.
É interessante ver que as tomadas são primorosamente longas. Difíceis de serem feitas, sensíveis ao ponto de conseguirem nos dizer que aquilo, o que acontece é um diálogo sincero, espontâneo, de duas pessoas. E não meras falas determinadas que determinados tipos de personagens tenham que falar na hora do filme, mais uma vez caio na indústria. A naturalidade alcançada nos passa uma segurança de que vemos ali duas pessoas de verdade e não dois atores. Por momentos você fica meio pasmo e se pergunta se aquilo não seria tudo improvisação.
É atípico ver dois personagens que se apaixonam porque se conhecem. Realmente se conhecem. Trocam impressões. Falam abertamente sobre si mesmos. Sem medos, sem neuras. Apenas conversam. Sem clichês. Onde praticamente não há momentos sem que os dois conversem, os filmes vão se mostrando adoráveis. Quando percebemos já nos interessamos por vê-los conversando eternamente, o que não acontece. Obviamente os locais visitados pelos dois personagens são um recanto a mais para essa paz de espírito.
É preciso ter colhões para fazer um filme deste. Ter aquela coragem que faz com que algo de diferente se destaque no meio da sopa sem gosto que é formada pelos lançamentos maciços de lixo cinematográfico americano. O que mais anima ao ver a continuação é perceber que os personagens, interpretados com maestria pelos dois protagonistas são os mesmos de nove anos antes, só que amadurecidos. Com frustrações, coisas a falar, saudades, apreensões. Todos os diálogos são não só uma transparência dos personagens, mas um reflexo de uma geração. Aquele sentimento de não saber para onde está indo. Aquele sentimento de frustração em relação a família e os relacionamentos. Toda uma desilusão que vemos em massa hoje.
Antes do Amanhecer e Do Por do Sol são dois exemplares a serem degustados mais de uma vez. Vale a pena como experiência cinematográfica e como experiência pessoal mesmo. Aquela que vai te dizer em que pé você está com você mesmo. Conversando é lógico.