“Um Lugar para Recomeçar” (An Unfinished Life)

“Um Lugar para Recomeçar” (An Unfinished Life)





 

Na Terra dos Duros na Queda, Robert Redford fala para a ex-nora Jennifer Lopez:

 

- Eu não quero você aqui.

 

- Então nós concordamos em alguma coisa – retruca ela.

 

O príncipe Lasse Hallström dirige essa fábula rural escrita com dedos de veludo pela dupla Virginia Korus Spragg e Mark Spragg. A elegância de Hallström, com e sem comparação, chega a ser transcendente.

 

Redford é um fazendeiro com muito serviço miúdo e nenhuma glória, que carrega a dor de um filho perdido na flor da idade. Entre um arranjo e outro no rancho ele cuida do parceiro de vida inteira Morgan Freeman.

 

 

Lançado em 2005, esse longa passou batido pelas premiações e caiu na boca do cinéfilo como um trabalho menor do laureado cineasta sueco. Qual o que, deixa o tempo passar, 7 anos em cinema é uma existência e nos últimos 2 a quantidade de lixo espargida por Hollywood ajudou a colocar as noções abaixo de zero, a ponto do Vin Diesel reivindicar um Oscar pelo seu último trabalho.

 

Freeman só faz a barba de um lado do rosto – o outro foi esfacelado por um urso. Para fechar a tenda há a menina Becca Gardner, a neta surpresa de Redford. Primeira coisa que ela pergunta para o avô:

 

- Onde está o meu pai?

 

- Seu pai morreu, você não sabia?

 

- Ora, me disseram que você também tinha morrido – arremata Becca, uma menina que começou a atuar aos quatro anos em musicais com o Grupo de Teatro Infantil Missoula.

 

Não falta nada no verdejante circo de Hallström, a amargura de Redford beira a perfeição, as metáforas das maiores coisas da vida – flexibilidade, superação e perdão são colocadas em doses homeopáticas para a trupe que, num estalar de dedos, passa a conviver e a rever.

 

Diariamente Redford conversa com o túmulo do filho, onde estão lapidados os dizeres - An Unfinished Life, depois ele massageia as costas de Freeman e lhe aplica morfina. Mesmo com a chegada da nora e da menina ele mantém esse ritual, ainda alheio ao fato de que novos seres no perímetro equivalem a novas condutas. Especialmente quando um deles tem o seu próprio sangue.

 

Becca ralou um bocado para dividir o palco com uma dupla dessas - Redford e Freeman. Depois do teatro infantil esteve em produções regionais, "Midsummer Nights Dream" incluso, e daí para Los Angeles e a rotina de audições, aulas e filmes independentes. Fez por merecer. Sua presença é peça chave nessa trama onde os chavões, apesar de açucarados, são reais e nos remetem ao básico do básico das lições da jornada interior – uma vez terminada uma missão, outra já está surgindo de bandeja. Ou seja, aceitou que não há remédio? Então agora perdoa.

 

Para coroar, nesse trabalho "menor" de Lasse Hallström a nota chave dispensa equívocos: não há evolução sem um trato afetivo digno de nota.

 

 

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 26/06/2011
Reeditado em 25/10/2021
Código do texto: T3058915
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