Secretária (Secretary, 2002, Steven Shainberg)
Secretária (Secretary, 2002, Steven Shainberg) –
Todo filme que ganha o prêmio especial em Sundance não deve ser desprezado de todo. A qualidade dos filmes que vem despontando de festivais “alternativos” ao redor do mundo é incrível, deixando até meio que sem graça a luta pelo Oscar, que nesse último ano teve como ganhador de melhor filme Chicago, uma vergonha, já que as estatuetas de melhor diretor, melhor roteiro e melhor diretor foram para O Pianista. Com essa discrepância toda o Oscar está se ofuscando e as premiações paralelas mais valorizadas, foi com essa premiação que fiquei interessado nesse filme, e não me arrependi de praticamente caçá-lo para poder o assistir.
No início de Secretária podemos ver Lee Holloway (muito bem interpretada por Maggie Gyllenhaal) vestida com uma roupa de secretária e com uma espécie de utensílio masoquista fazendo movimentos não muito comuns para entregar papéis e um chícara para seu chefe, E. Edward Grey (o ótimo James Spader).
Somos quase confrontados com esse começo que vem nos desafiando. Já chega dizendo para o que veio. Seguindo seu primeiro filme o diretor Shainberg busca falar sobre coisas não muito comuns no dia a dia, e até difíceis de se tratar em um meio que será visto por muitas pessoas. E esse cuidado com o que mostra que torna Steven Shainberg, mesmo em seu segundo filme apenas, um ótimo diretor.
Logo depois do início, começa um longo flashback. Que toma o primeiro ato do filme todo, desenvolvendo os personagens secundários e mostrando o panorama de vida em que Lee se envolve ao sair do Instituto de Tratamento Mental.
Lee é uma ex-paciente que foi internada depois que sua família descobre que ela tem tendências estranhas. E é difícil adivinhar quais são assim que a vemos saindo do prédio do Instituto. Parece mais uma garota estranha e feiosa que vai voltar para casa depois de umas férias na casa dos tios.
Ao sair para o mundo real ela é inserida em sua vida “normal”. A irmã se casando. O pai alcoólatra, e a mãe super protetora. Elementos esses que a pressionam e não a deixa confortável. Causando um ambiente de claustrofobia que provoca nela reações. Então ela tem uma recaída e vemos pela primeira vez qual o seu problema. Ela se mutila, uma forma de extravasar os sentimentos reprimidos, cortando a perna. Como se isso fosse um grito de socorro. Só que ninguém ouve.
É então que ela encontra um anúncio no jornal e começa a procurar um emprego. É então que ela consegue uma vaga no escritório do advogado E. Edward Grey. Esse também uma pessoa excêntrica e cheia de peculiaridades.
Começa então um envolvimento entre os dois. Entre tapas, sessões masoquistas e submissão os dois vão se envolvendo. Ela com uma paixão por ser submissa e ele dominador, mandando e desmandando com suas tendências sádicas.
O filme trata enfim sobre o amor, em suas várias formas de expressão. Em aceitação e como relacionamentos são diferentes. Mesmo que sejam estranhos a “normalidade” que se paramos bem para ver não é tão normal.
O diretor conduz bem a historia que é bem contada, mas falha um pouco em envolver o público com a mesma. Em momentos que deveriam ser críticos ou até emocionantes o espectador fica meio longe, devido a diferenças claras mostradas na tela, mas não um motivo claro para esse defeito.
Mas além de tudo Secretária se sai bem, com uma boa desenvoltura e uma história pouco usual o resultado é bom para um segundo filme. Steve Shainberg tem futuro, só esperar para ver o que vem por aí.