God bye Lenin!

Herick Limoni*

1 - INTRODUÇÃO

A queda do muro de Berlim, em 1989, na Alemanha, que dividia o país em dois, trouxe inúmeras mudanças. Com o muro ruiu, também, o regime socialista, que até então imperava. Com a queda, o país vivenciou um processo de abertura econômica, até então evitada pelos defensores do antigo regime. Nessa mesma época, o termo globalização começava a ganhar força. Essa abertura proporcionou a entrada de empresas estrangeiras no mercado alemão, aumentando a concorrência e gerando empregos. Os opositores dessa abertura argumentavam que as empresas estrangeiras representavam riscos às empresas nacionais. Os defensores argumentavam que, com a abertura, o mercado estaria aquecido, e a geração de empregos impulsionaria a economia alemã, vislumbrando um futuro melhor para a nação.

2 – SÍNTESE DA OBRA

É nesse contexto de transformação que gira o enredo do filme. Alex é um jovem de vinte e poucos anos que sonhava ser astronauta. Como todo jovem, Alex tem seus ideais revolucionários. Ele vive com sua mãe e irmã, já que seu pai, Roberto, os “abandonara”, fugindo para o outro lado do muro. Sua mãe é membro do partido socialista e defende seus ideais.

Tudo ia bem até que, poucos antes da queda do muro e do regime, a mãe de Alex presencia a prisão de seu filho, no momento em que ele participava de uma manifestação popular contra o regime. A emoção é tão forte que sua mãe tem um ataque cardíaco, culminando em um coma que duraria oito meses. Durante esse período em que a mãe de Alex se encontrava em coma, as mudanças que ela mais temia ocorreram: a queda do muro de Berlim, transformando novamente a Alemanha em um único país, e o enfraquecimento do regime socialista. Segundo Amartya Sen apud Friedman (2007, p. 69),

o Muro de Berlim não era apenas um símbolo do aprisionamento dos alemães orientais, era também um meio de não permitir que tivéssemos uma visão global do nosso futuro. Não dava para pensar em termos globais com ele ali. Não dava para pensar no mundo como um todo.

Os defensores do regime não viam com bons olhos essa transformação, e até mesmo lutaram com todas as forças para que ela não ocorresse. Mas esse era um caminho sem volta, que representava a vitória do capitalismo sobre o socialismo. Essa oposição é ratificada por Friedmam (2007, p. 68), quando diz que

Houve quem, sobretudo entre as gerações mais velhas, não visse com bons olhos tal transformação. [...] Para quem estava habituado ao laborioso, limitado, mas seguro estilo de vida socialista – em que emprego, habitação, educação e previdência estavam todos garantidos, ainda que magros -, a queda do Muro de Berlim foi muito preocupante. Para muitos outros, porém, equivaleu a uma carta de alforria.

Quando a mãe de Alex se recupera do coma, muita coisa já havia mudado na Alemanha. As ruas estavam repletas de carros importados, muitas empresas estrangeiras já haviam se instalado no país e até mesmo o Burguer King e a Coca-Cola, símbolos do “monstro do capitalismo americano”, já havia invadido o território alemão. Assim como muitas outras pessoas, a mãe de Alex, muito em razão de defender os ideais socialistas, não via as mudanças com bons olhos. Em razão disso e de sua saúde debilitada, em virtude da qual não poderia sofrer fortes emoções, seu filho Alex decide que é melhor para sua saúde que ela não saiba das mudanças já ocorridas.

Para isso, recorre a artifícios que fazem com que sua mãe pense que ainda estão vivendo sob a égide do antigo regime, fazendo de sua casa um refúgio do passado, onde presente e futuro não têm seus reais significados. Ali também não se falava em globalização, termo que viria a ser amplamente difundido no país após a queda do muro. Para Stiglitz (2007, p. 62), “a globalização abrange muitas coisas: o fluxo internacionais de idéias e conhecimento, o compartilhamento de culturas, uma sociedade civil global e o movimento ambiental mundial”.

As palavras de Stiglitz ficam claras quando Alex e um amigo seu, ambos funcionários de uma empresa de vendas de antenas parabólicas, argumentam que o cliente poderá assistir ao campeonato de futebol do Vietnã, o que simbolizava um grande avanço, à época, e também na mudança no modo de se vestir dos jovens alemães, influenciados pelo visual de jovens de outros países.

A partir da queda do muro e do enfraquecimento do regime socialista, a Alemanha passa, assim como muitos outros países, a fazer parte de uma economia global e interdependente, com seus benefícios e prejuízos.

Apesar de todas as mudanças ocorridas, e mesmo após sua mãe se deparar com algumas mudanças, Alex consegue, através de pronunciamentos teatrais e fictícios, fazer com que sua mãe continue a acreditar que nada de mais grave ocorreu, e assim continua até o falecimento de sua genitora, que morre sem saber que o regime e o país que ela tanto amava não mais existiam daquela forma.

4 – REFLEXÃO CRÍTICA

O filme nos mostra que, ainda que vivamos sob a égide de regimes sólidos, estes não são eternos, e que devemos estar preparados para as mudanças. A tendência é que regimes autoritários não mais tenham espaço. Prova disso é a situação atual de Cuba, onde o próprio ícone do comunismo, Fidel Castro, já se manifestou no sentido de que esse tipo de regime é inócuo, o que significa dizer que em breve teremos mudanças naquele país.

Ainda que a queda do muro de Berlim e a globalização tenham representado avanços substanciais para a Alemanha, alguns aspectos negativos, com destaque para o enfraquecimento da cultura local, também ocorreram.

Resta aos países que se opõem ao capitalismo e à globalização que se preparem, pois mais cedo ou mais tarde, eles se verão obrigados a aceitá-los, sob pena de se verem excluídos da nova economia global. Exemplos recentes é que não faltam.

* Bacharel e Mestrando em Administração de Empresas, com ênfase em Segurança Pública e Defesa Social.