A LEVEZA DE ENCONTROS E DESENCONTROS

Sou da opinião de que todos os filmes norte-americanos (ou de qualquer outro país) deveriam ganhar nomes em português que correspondam na íntegra ao seu de origem. Ficaria mais confortável para mim. Fora o meu conforto, poucas coisas me seduzem tanto assim. Agora, por exemplo, estou confuso se irei falar sobre Encontros e Desencontros ou Perdidos em Tradução, como seria a transcrição exata da obra Lost In Translation. Concedo o meu perdão exatamente porque o título do longa-metragem da promissora Sofia Coppola sugere isso.

O que importa é que esse filme simplório e comum chamou-me muito a atenção. Chamar a atenção deste leigo não constitui-se numa grande façanha, confesso, mas Encontros e Desencontros é de uma sutileza e beleza que encantam desde os cinéfilos exigentes até os reles expectadores. Humildemente me incluo no intervalo entre ambos.

A única coisa que me dói no filme é a sua duração. São apenas 105 minutos. Histórias como a de Charlette ( interpretada docemente pela deusa Scarlett Johansson) e Bob Harris ( Bill Murray) têm que durar eternamente, sem se resolver nunca. Eu agüentaria ao menos 8 horas seguidas na poltrona, devorando as desventuras da dupla. Foi nessa película que aprendi a amar Scarlett Johansson, uma musa que parece ter sido transportada nos anos 20 para o nosso convívio. Quase quero crer em reencarnação. A beleza dessa novaiorquina de 22 anos é compatível com o seu talento.

Voltando ao filme. O que mais tocou meu coração é o belo

que o vazio proporciona, quando expressado pela arte. Pessoas felizes e realizadas são muito chatas para o cinema, por exemplo. O que gera encantamento é a angústia dos personagens, o vazio eterno em que se encontram, os pequenos elos que os aproximam e os afastam. Em Encontros e Desencontros há duas vidas sem uma alma satisfeita, pelo menos em seus portos oficiais. Bob Harris é um ator norte-americano, que está em Tóquio para gravar um comercial de uísque. Charlette é apenas uma jovem casada, que está na cidade graças ao trabalho de seu marido fotógrafo. Logo de início, o tédio toma proporções dominantes na vida dos dois. Bob sente-se extremamente desconfortável e sozinho. Charlette nunca tem a atenção do marido e acha tudo um saco. É nesse ambiente, e por obra do destino, instalados no mesmo hotel, que os dois zumbis acabam se encontrando e se desencontrando. Confesso que tive medo do clichê acabar dominando o filme. Mas Sofia Coppola soube conduzir os dois infelizes forasteiros. Não há o encontro de fazer disparar o coração da mocinha. Não há a flechada do cupido. Engana-se quem aposta em amor avassalador. O que acomete as duas almas americanas é apenas uma capacidade de abrigo que ambos se proporcionam, um flerte inocente, sem beijos arrebatadores e amassos calientes. São apenas duas almas que se acompanham, que se divertem. Está nisso para mim a leveza do filme.

A cena que mais me agradou se passou no bar do hotel, quando, entre alguns tragos, Bob confidencia para Charlette que está planejando uma fuga. Do hotel. Da cidade. Do País. Do Planeta. Ah! Quantas vezes não desejamos embarcar em qualquer carruagem e ganhar ( ou perder) o desconhecido!

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 29/05/2011
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