“Além da vida” (Hereafter)
“Além da vida” (Hereafter)
Palavra que Uncle Clint, nesse episódio, deixou um pouco a desejar. Sei, e o que você tem com isso... Caramba, sabe como eles chamam o Recanto das Letras? De Recato das Letras...Fala sério, a gente aqui, fazendo um trabalho honesto, mal remunerado e ainda precisa aturar uns jocosos.
A estratégia é a seguinte em “Here...” - panfleto puro. Clint Eastwood tirou a literatura de “Além...” como Simenon dizia fazer o mesmo com seus livros. No caso de Simenon seu trabalho permanece mais literário do que nunca e no caso de Clint a equivalência se chama cinema. Ele tirou o cinema do filme e transformou tudo num troço estéril (estéreo é quando você ouve com dois ouvidos que ouvem). Estéril falta sal.
A cenas do tsunami são de fato muito boas, meio mundo deve ter visto através dos press-releases, (o mundo inteiro seria muita coisa), porém a obra de Eastwood, especialmente a dos últimos 20 anos, possui um brilho próprio que não condiz com esse trabalho. Ainda assim o espectador tá no lucro, já que trata-se de um Clint e não de um João das Couves fazendo experimentos insuportáveis à sua custa.
Cécile De France protagoniza o tsunami, sofre uma experiência de pós-vida ou pós morte e com isso passa a ver as coisas por um novo prisma. O médium Matt Damon só vai te convencer lá frente e fica a dúvida se o problema está ou não na reserva de imagem do ator. Os gêmeos Frankie McLaren e George McLaren coadjuvam seu drama particular de um ir para o além e outro ficar aqui para segurar a peteca.
No caráter panfletário de “Here...” está a soma dos esforços de Eastwood, mesmo que de modo um tanto comedido, expressando o que médiuns do porte de Van Praagh , Dr. Stone, e médiuns associados, como Weiss e extensa lista, nos dizem há décadas – a grande mentira é aqui mesmo ao passo que a realidade de verdade está do outro lado.
Dada hora Cécile De France, jornalista super star incumbida da missão de escrever um livro sobre Mitterrand , aparece para o editor com o manuscrito de Hereafter dizendo que o mundo oficial, com a igreja dentro, conspira para que o ser humano acredite na finitude de sua existência.
Em 1999, diversos grupos de oração espalhados nos 4 cantos de Sampa, grupos esses que rezavam o Pai Nosso e se curvavam perante o Príncipe dos Príncipes, falavam sobre a intensificação do trabalho das Correntes Socorristas em prol dos desencarnados de modo abrupto. Esses grupos estavam preocupados com o futuro...
Damon se conecta com o McLaren que partiu e diz para o irmão remanescente: “Seu irmão tem uma risada e tanto. Ele está pedindo para tocar a sua vida, que daqui pra frente você vai ter que se virar e não use mais o boné dele”.
Mesmo que a história se movimente, Cécile em Paris, os McLaren em Londres e Damon em São Francisco, a falta de tempero incomoda o cinéfilo, não a ponto de desistir da película, mas de estalar a língua, pelo menos uma vez. Dando o assunto por encerrado, e encarando por determinado ângulo, o cinéfilo neófito não deixa de agradecer a mensagem – é sempre bom recordar, e talvez esta tenha sido a única razão para a existência de “Hereafter”.
A amargura de Damon destoa um bocado dos canalizadores citados acima, e incluímos agora Vossa Excelência Chico Xavier, aproveitando para lembrar que todos, sem exceção, usam certa palavra em suas comunicações, conosco e com os “outros”. Uma palavra de 4 letras que em português começa com A. Depois vem o M, seguido do O e por fim o R. Daí tanta alegria e desapego do outro lado iluminado – porque existe muito.
No papel de carta do Dr. Stone, antes da assinatura no pé da página, constavam os dizeres: Much Love.