BARAC OBAMA, O HOMEM QUE MATOU O FASCINORA?
Nos heróicos dias do Velho Oeste um jovem advogado recém formado, chamado Ransom Stoddard, chegou a uma pequena cidade de um território ainda aberto, não organizado em estado e carente principalmente de lei. Logo é assaltado e espancado em plena estrada por um notório pistoleiro e assaltante chamado Liberty Valance.
Homem da cidade, crente na virtude da lei e da ordem, sonhador, sua missão passa a ser a implantação da lei e ordem na pequena cidade infestadas de bandidos e carente de civilização. Mas para isso terá que colocar atrás das grades o terrível fascínora, terror do local, homem que ninguém, salvo o também pistoleiro Tom Doniphon, ousa enfrentar. Há também, nessa história, a eterna mocinha dos filmes de faroeste, sendo disputada pelo jovem ad-vogado sonhador e pelo pistoleiro do bem Doniphon, num triângulo amoroso com toques de heroísmo e óbvia filosofia de bom mocismo hollywoodiano.
O advogado quer enfrentar Valance nos termos legais, com in-quéritos e processos, mas a única lei que funciona no território é a do revólver. Esse é o primeiro obstáculo que precisa ser removido. Ele inicia por ensinar a população da cidade a ler e escrever e ela começa a aprender como funciona uma democracia. Logo o povo começa a perceber a importância da organização social e política de um estado e a condição daquele território como terra livre e sem lei começa a mudar. Isso incomoda os grandes rancheiros, criadores de gado, que preferem manter o território livre, sujeito à lei do mais forte.
Liberty Valance é um pistoleiro a soldo dos grandes rancheiros e sua luta é contra o jovem advogado que quer impor lei e ordem no território. Mas é claro que o “dude” (almofadinha, gíria da época) do leste não é páreo para o maior e mais rápido pistoleiro do território. Mas mesmo assim, Stoddart, o advogado sonhador, resolve encarar um duelo com o bandidão. Na lógica, todo mundo sabe que ele vai perder, pois não consegue sequer manejar uma arma e não seria capaz de acertar em um elefante a cinco metros de distância. Quando Valance está para dar o tiro final que liquidará o advogado, entra em cena o outro pistoleiro (o do bem), o mocinho Tom Doniphon, que escondido num beco escuro, fora das vistas de qualquer pessoa, manda um tiro certeiro no bandido e acaba com a raça dele.
Mas como ninguém viu, quem acaba levando o crédito pela morte do bandido é o advogado bonzinho. O almofadinha sonhador, defensor da lei e da ordem fica famoso justamente por praticar um ato que ele abomina: o assassinato. Ele queria prender e pro-cessar Valance, não matá-lo. Mas ao vencê-lo em um duelo, ele se tornou uma lenda no Oeste e faz uma vitoriosa carreira política em cima dessa fama. Mesmo depois de duas gestões como governador do estado que ele ajudou a fundar, três legislaturas no Senado e uma possível carreira que terminaria na presidência do Estados Unidos, quando ele volta à pequena cidadezinha onde ele começou – que agora já uma progressista cidade do oeste americano-, para assistir ao funeral do antigo pistoleiro Tom Doniphon, o que mais as pessoas lembram a respeito dele é que ele foi o “homem que matou o fascínora.”
Ao ser questionado por um jornalista sobre o motivo de uma tão importante personalidade vir até uma cidadezinha do interior para assistir ao funeral de um desconhecido cawboi, ele conta a sua história e diz que quem, na verdade, matou Liberty Valance foi Tom Doniphon e não ele. Ele se valeu do fato para alavancar sua carreira política. Quando indaga do jornalista se ele vai publicar a verdade sobre o fato que fez dele uma lenda no Velho Oeste, o jornalista responde: “Se a lenda é mais interessante que a verda-de, publique-se a lenda”.
“O Homem Que Matou o Fascínora” é um filme interessante porque reflete bem a dicotomia filosófica sobre a qual foi construída a moral americana. Veicula não só a filosofia representada nos filmes de Hollywood, onde o bem é simbolizado pelo mocinho que sempre vence no final e o mal pelo bandido que passa o filme todo se dando bem, para se ferrar no fim, mas também a máxima que orienta a opinião pública em geral. Essa má-xima é a que transparece no raciocínio do jornalista que entrevista o senador representado por James Steward; esse raciocínio diz: se a lenda é mais interessante que a verdade, imprima a lenda. E é isso que a mídia, geralmente faz.
É o que está sendo feito agora no caso do Bin Laden. Antes da morte do terrorista o presidente Barac Obama estava em baixa. Agora está em alta, com a popularidade alavancada por essa operação das tropas de elite americanas. Tudo bem Hollwoodiano, como se no mundo da moderna commumwhealth internacional, encabeçada pelos Estados Unidos, fosse a realidade que devesse imitar a arte e não o contrário.
Quem vê na TV e lê nos jornais as notícias sobre a morte do Bin Laden e procura saber os detalhes da operação, não pode deixar de pensar que tudo parece ter sido definido através de um roteiro escrito para um estúdio de Hollywood e não por estrategistas mi-litares, assessorados pelos organismos de informação, que diga-se, obtiveram as informações através dos métodos mais brutais e cruéis que um homem pode praticar para extrair confissões de outros. Mas na defesa dos nossos princípios, e principalmente para salvaguardar o nosso padrão de vida, tudo é válido.
Tudo parece ter sido montado para que o caso fique envolto por uma atmosfera de mistérios e contra-informações. Falando jornalisticamente, isso é necessário para que se crie em volta dele uma rica estrutura de meta linguagem (interpretações, pontos de vista, superstições, histórias e estórias paralelas), que constitui o clima ideal para a geração de mitos e lendas, das quais a mais rendosa e glamorosa indústria dos Estados Unidos sobrevive.
Tudo concorre para esse episódio se transforme em mais um motivo para muitos filmes, livros e outros produtos de mídia. Até os nomes dos personagens principais, arrolados como mocinho e bandido dessa tragédia moderna, parecem concorrer para um enredo hollwoodiano. Pois um se chama Obama Bin Laden e outro Barac Obama. Terá sido mera coincidência?
De qualquer modo, o homem que deu o tiro fatal na cabeça do Bin Laden não pode deixar de ser comparado com o Tom Doni-phon do filme. Pois como ninguém viu nem sabe quem foi, vai ser impossível evitar aquelas perguntas que se fazem num caso desses. Morreu mesmo? Onde está o corpo? Quem foi o herói que estourou os miolos do bandidão? Por que ele tem que ficar no anonimato?
E o Barac Obama é o próprio Ranson Stoddart do filme. Para a opinião pública mundial, o presidente dos Estados Unidos será sempre o “O Homem que Matou o Fascínora”. Faturando politicamente com isso ele já está. Falta a mídia confessar que todo esse mistério que envolve essa operação é necessário porque quando a lenda é mais interessante que a verdade, é melhor imprimir a lenda. E isso é o que ela já está fazendo.
Nos heróicos dias do Velho Oeste um jovem advogado recém formado, chamado Ransom Stoddard, chegou a uma pequena cidade de um território ainda aberto, não organizado em estado e carente principalmente de lei. Logo é assaltado e espancado em plena estrada por um notório pistoleiro e assaltante chamado Liberty Valance.
Homem da cidade, crente na virtude da lei e da ordem, sonhador, sua missão passa a ser a implantação da lei e ordem na pequena cidade infestadas de bandidos e carente de civilização. Mas para isso terá que colocar atrás das grades o terrível fascínora, terror do local, homem que ninguém, salvo o também pistoleiro Tom Doniphon, ousa enfrentar. Há também, nessa história, a eterna mocinha dos filmes de faroeste, sendo disputada pelo jovem ad-vogado sonhador e pelo pistoleiro do bem Doniphon, num triângulo amoroso com toques de heroísmo e óbvia filosofia de bom mocismo hollywoodiano.
O advogado quer enfrentar Valance nos termos legais, com in-quéritos e processos, mas a única lei que funciona no território é a do revólver. Esse é o primeiro obstáculo que precisa ser removido. Ele inicia por ensinar a população da cidade a ler e escrever e ela começa a aprender como funciona uma democracia. Logo o povo começa a perceber a importância da organização social e política de um estado e a condição daquele território como terra livre e sem lei começa a mudar. Isso incomoda os grandes rancheiros, criadores de gado, que preferem manter o território livre, sujeito à lei do mais forte.
Liberty Valance é um pistoleiro a soldo dos grandes rancheiros e sua luta é contra o jovem advogado que quer impor lei e ordem no território. Mas é claro que o “dude” (almofadinha, gíria da época) do leste não é páreo para o maior e mais rápido pistoleiro do território. Mas mesmo assim, Stoddart, o advogado sonhador, resolve encarar um duelo com o bandidão. Na lógica, todo mundo sabe que ele vai perder, pois não consegue sequer manejar uma arma e não seria capaz de acertar em um elefante a cinco metros de distância. Quando Valance está para dar o tiro final que liquidará o advogado, entra em cena o outro pistoleiro (o do bem), o mocinho Tom Doniphon, que escondido num beco escuro, fora das vistas de qualquer pessoa, manda um tiro certeiro no bandido e acaba com a raça dele.
Mas como ninguém viu, quem acaba levando o crédito pela morte do bandido é o advogado bonzinho. O almofadinha sonhador, defensor da lei e da ordem fica famoso justamente por praticar um ato que ele abomina: o assassinato. Ele queria prender e pro-cessar Valance, não matá-lo. Mas ao vencê-lo em um duelo, ele se tornou uma lenda no Oeste e faz uma vitoriosa carreira política em cima dessa fama. Mesmo depois de duas gestões como governador do estado que ele ajudou a fundar, três legislaturas no Senado e uma possível carreira que terminaria na presidência do Estados Unidos, quando ele volta à pequena cidadezinha onde ele começou – que agora já uma progressista cidade do oeste americano-, para assistir ao funeral do antigo pistoleiro Tom Doniphon, o que mais as pessoas lembram a respeito dele é que ele foi o “homem que matou o fascínora.”
Ao ser questionado por um jornalista sobre o motivo de uma tão importante personalidade vir até uma cidadezinha do interior para assistir ao funeral de um desconhecido cawboi, ele conta a sua história e diz que quem, na verdade, matou Liberty Valance foi Tom Doniphon e não ele. Ele se valeu do fato para alavancar sua carreira política. Quando indaga do jornalista se ele vai publicar a verdade sobre o fato que fez dele uma lenda no Velho Oeste, o jornalista responde: “Se a lenda é mais interessante que a verda-de, publique-se a lenda”.
“O Homem Que Matou o Fascínora” é um filme interessante porque reflete bem a dicotomia filosófica sobre a qual foi construída a moral americana. Veicula não só a filosofia representada nos filmes de Hollywood, onde o bem é simbolizado pelo mocinho que sempre vence no final e o mal pelo bandido que passa o filme todo se dando bem, para se ferrar no fim, mas também a máxima que orienta a opinião pública em geral. Essa má-xima é a que transparece no raciocínio do jornalista que entrevista o senador representado por James Steward; esse raciocínio diz: se a lenda é mais interessante que a verdade, imprima a lenda. E é isso que a mídia, geralmente faz.
É o que está sendo feito agora no caso do Bin Laden. Antes da morte do terrorista o presidente Barac Obama estava em baixa. Agora está em alta, com a popularidade alavancada por essa operação das tropas de elite americanas. Tudo bem Hollwoodiano, como se no mundo da moderna commumwhealth internacional, encabeçada pelos Estados Unidos, fosse a realidade que devesse imitar a arte e não o contrário.
Quem vê na TV e lê nos jornais as notícias sobre a morte do Bin Laden e procura saber os detalhes da operação, não pode deixar de pensar que tudo parece ter sido definido através de um roteiro escrito para um estúdio de Hollywood e não por estrategistas mi-litares, assessorados pelos organismos de informação, que diga-se, obtiveram as informações através dos métodos mais brutais e cruéis que um homem pode praticar para extrair confissões de outros. Mas na defesa dos nossos princípios, e principalmente para salvaguardar o nosso padrão de vida, tudo é válido.
Tudo parece ter sido montado para que o caso fique envolto por uma atmosfera de mistérios e contra-informações. Falando jornalisticamente, isso é necessário para que se crie em volta dele uma rica estrutura de meta linguagem (interpretações, pontos de vista, superstições, histórias e estórias paralelas), que constitui o clima ideal para a geração de mitos e lendas, das quais a mais rendosa e glamorosa indústria dos Estados Unidos sobrevive.
Tudo concorre para esse episódio se transforme em mais um motivo para muitos filmes, livros e outros produtos de mídia. Até os nomes dos personagens principais, arrolados como mocinho e bandido dessa tragédia moderna, parecem concorrer para um enredo hollwoodiano. Pois um se chama Obama Bin Laden e outro Barac Obama. Terá sido mera coincidência?
De qualquer modo, o homem que deu o tiro fatal na cabeça do Bin Laden não pode deixar de ser comparado com o Tom Doni-phon do filme. Pois como ninguém viu nem sabe quem foi, vai ser impossível evitar aquelas perguntas que se fazem num caso desses. Morreu mesmo? Onde está o corpo? Quem foi o herói que estourou os miolos do bandidão? Por que ele tem que ficar no anonimato?
E o Barac Obama é o próprio Ranson Stoddart do filme. Para a opinião pública mundial, o presidente dos Estados Unidos será sempre o “O Homem que Matou o Fascínora”. Faturando politicamente com isso ele já está. Falta a mídia confessar que todo esse mistério que envolve essa operação é necessário porque quando a lenda é mais interessante que a verdade, é melhor imprimir a lenda. E isso é o que ela já está fazendo.