Vôo United 93 (United 93 - Paul Greengrass - 2006)
Vôo United 93 (United 93 - Paul Greengrass - 2006)
Um dos maiores países do mundo. Uma das maiores frotas aéreas do mundo. O imprevisível. O impensado. Aí está uma combinação que não foi ficção, mas sim realidade. Da mais real impossível. Vimos por nossas televisões ao vivo o desabamento das torres gêmeas, a destruição do pentágono, aquela ficção estava sendo real, e nenhum efeito especial poderia chegar sequer perto daquilo.
Nesse contexto, caótico, estavam os passageiros do tal vôo. Mas antes de termos o esclarecimento que temos. Eles estavam ali sentados em suas poltronas sabendo tanto do que se passava quanto os controladores de vôo. Que atualmente também causaram algum problema no Brasil. Os controladores de vôo, tão atônitos quanto era possível ficar, discutiam prováveis possibilidades para o que acontecia. E enquanto eles achavam um jeito de explicar o que presenciavam tudo aconteceu.
Somos apresentados de modo bastante sucinto aos “personagens” dessa ligeira aventura trágica. Filmado de modo mais realístico possível, quase achamos que estamos vendo um big brother malévolo. Vemos os árabes em sua missão, tão humanos quanto os outros “irmãos”. Que ao longo do filme vão se notabilizar por suas fraquezas, seus medos, suas esperanças, sua luta, quase que animal-instintiva, de sobrevivência.
O cuidado em manter tudo o mais real possível, extrapola a realidade e torna o filme mais real que uma possível realidade, como um filme de um celular de dentro do avião. Somos sufocados pelo ambiente, somos sufocados pelos closes, pela escolha dos ângulos que vão passar mais intensamente aquele sentimento que acreditamos ser o que se passava por aquelas pessoas na hora do acontecido.
A realidade para nós foi bem maior que a simples perspectiva de cada uma daquelas pessoas. Foi jogado para nós a responsabilidade de nos envolvermos por todos em um nível muito mais amplo e seco que qualquer pessoas de dentro.
Depois do mostrado, a questão que fica no ar, pelo menos alguma coisa fica no ar, é a validade do psicológico. Pois, assim como todas as outras perspectivas, e o fato de o povo ocidental nunca conseguir entender o “porque” da coisa toda. Como que um terrorista pensa, no que ele se baseia para cometer atrocidades. Pois como explicitado no filme, ele era alguém, um mais um, sua turma era, parecia pelo mostrado, tão inexperiente quanto o motim preparado para tomar de volta o avião.
Sem sombra de dúvidas o momento alto do filme são os depoimentos totalmente desesperados, sabendo-se detentores de ínfimas chances de sobrevivência. E mais uma vez a inserção da realidade na ficção, pois todos os telefonemas foram efetuados de verdade.
United 93 é a ficção mais real possível, e por isso uma realidade totalmente fictícia. Onde a ficção quer se fazer de real para nos mostrar como foi a realidade temos a inversão última de pensamento, pois vemos aquilo como realidade, pois aconteceu, mas esquecemos que aquilo, naqueles ângulos, com aqueles cortes, com aquela edição, não ocorreu, e somente o pedaço de realidade de cada um que ali estava, muito mais confuso e caótico que o tremelique da câmera. Vemos no fundo, seres humanos lutando para viver. Um perfeito filme de horror, tão real que pensamos que é a realidade mesma.