Filme "Copia Fiel"
O mais recente filme do iraniano Abbas Kiarostami, o primeiro filmado fora do Ira, intriga o publico por apresentar uma guinada súbita em sua segunda metade. Tendo como protagonista feminina a maravilhosa Juliette Binoche, detentora do prêmio merecidissimo de melhor atriz no Festival de Cannes de 2010, o filme começa com um encontro prosaico entre um escritor ingles e uma dona de galeria de arte francesa em um lugarejo na Toscana, sendo Binoche admiradora do escritor. O livro recem-lançado por James, o ingles, versa sobre o valor e a expressão da copia em relação ao original e traça um paralelo sobre como a ótica e a visão de mundo de cada um e capaz de gerar uma realidade totalmente diversa do que se percebe a olho nu. E a verdade intima, produzida por experiências intimas, individualizadas, sendo que o sujeito toma como verdade absoluta aquilo em que acredita com unhas e dentes, uma comprovação da assertiva "Assim e se lhe parece", de Pirandello. Na segunda metade do filme os personagens, antes estranhos polidos e ciosos em agradarem-se mutuamente a despeito de uma certa frieza, assumem subitamente o papel de marido e mulher com direito a uma avalanche de emoções e ressentimentos de parte a parte que antes pareciam represados pela cerimonia. Tornam-se íntimos, um casal unido há 15 anos e em franca crise conjugal. O desacordo entre eles e tão profundo que cada qual passa a discutir em sua lingua materna, no caso dele, o ingles, e no dela, o frances, embora ambos dominassem os dois idiomas, posto que estavam enfrentando uma violenta emocao. As cenas sao realmente fortes e repletas de simbolismos. Os casais coadjuvantes que transitam e interagem com os protagonistas simbolizam as diversas facetas de uma vida em comum, creio eu que seja uma alusao as copias e originais que inspiraram o escritor a desenrolar o argumento de seu livro que aborda e enfatiza o valor da copia, que ela tambem e valiosa e nao maldita ou rebutalho inútil. O que importaria na arte e na vida e o angulo sob o qual o sujeito as contempla e sente, e nao as convenções sociais.
Excelente e denso e esse filme e suscita grandes reflexões sobre os papeis que desempenhamos na vida e se há ou nao a necessidade de mantermos coerência em nossos atos se a vida e tão curta, porque nao sermos copias felizes de nos mesmos ao invés de originais recalcados e depressivos por nao conseguirem transmutar nossas vidas desempenhando outros papeis no palco da vida? Nao vou lhes revelar o final pois isso seria de mau gosto, porém ressalto que, ao meu entender, ele expressa a liberdade de seguir nossa intuição e desejo, antes que seja tarde...