DINAMITE E QUINDIM - "O Caso 39"

O CASO 39 (Case 39)

"Mistura" - essa é a palavra de ordem para a indústria cinematográfica. Durante a trajetória do cinema mundial há diversos filmes em que a mistura de personagens distintos e temas que parecem ser totalmente contraditórios resultam em sucessos de bilheterias históricos.

E como tudo na vida, algumas misturam viram deliciosos bolos de chocolate e quindins e outras viram dinamite e pólvora.

Digo isso pois após assistir " O Caso 39" (Case 39 -2009) lembrei de diversos filmes que misturaram a imagem "doce" e inocente de uma criança à tramas demôniacas e assustadoras, e nesse caso a figura de uma bela criança representando o mal tornou-se exatamente a cereja do bolo e a faísca no barril de pólvora.

Talvez o precursor desse tipo de mistura seja Roman Polanski, pois em "O Bebê de Rosemary" (1968) o diretor fez-nos imaginar como seria a vinda do antiCristo personificado no bebê de Rosemary (Mia Farrow), através de um pacto do pai da criança para conquistar o sucesso. Nesse filme o brilhante Polanski está interessado em usar o medo do desconhecido como mola propulsora da trama e é isso que o torna atemporal, e muito mais assustador que uma avalanche de efeitos especiais.

Chegam a dizer que o filme abriu caminho para os sucessos populares de "O Exorcista" (1973) e "A profecia" (1976) que consolidaram a mistura na década de 70 e daí seguiram: " O Iluminado (1980), "Poltergeist" (1982), "A Colheita Maldita" (1984), "O Brinquedo Assassino" (1988), "Cemitério Maldito" (1989), "Ring - O Chamado" (1998), "O Sexto Sentido" (1999) e por aí vai...

Até chegarmos finalmente em "O Caso 39" (2009), filme do diretor Christian Alvart, protagonizado por Renee Zellweger no papel de uma assistente social idealista e solitária, Emily Jenkins, designada para o misterioso caso de uma atormentada menina de 10 anos, Lilith Sullivan (interpretada brilhantemente por Jodelle Ferland). Os piores temores da assistente social se confirmam quando os pais tentam matar Lilith, assando a garotinha no forno - numa das cenas mais chocantes do filme - pois assistir cenas de violência contra criança é como um soco no estômago, mesmo sabendo que é tudo a sétima arte. Pois bem Emily salva a menina e decide cuidar dela pessoalmente até que surja uma família para adotá-la e nesse momento pensamos: Tudo está resolvido, como assim? o que nos aguarda nos 60 minutos restantes? E nos surpreendemos - porque é aí que o verdadeiro terror começa!

O que torna o filme do Christian Alvart muito bom é exatamente a fórmula que Polanski há tempos utilizou: "o medo do desconhecido".

Considero um enredo de terror psicológico muito bem tramado, mas é inivitável a referencia ao filme "A Profecia", porém o que torna "O Caso 39" singular é exatamente a reflexão que desperta - deixou uma mensagem sútil de que nossos medos são os verdadeiros demônios da história e com o desenrolar da trama colocamos à prova toda a realidade, cogitamos que a prórpria sociedade é a criadora de monstros, e que nossos traumas podem nos enlouquecer, nos assassinar.

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Título Original: Case 39

Ano: 2009

Origem: EUA / Canadá

Duração: 109 minutos

Direção: Christian Alvart

Elenco: Renée Zellweger, Jodelle Ferland, Ian McShane, Kerry O’Malley, Callum Keith Rennie, Bradley Cooper, Adrian Lester, Georgia Craig, Cynthia Stevenson, Tiffany Knight, Cindy Sungu, Philip Cabrita, J. Winston Carroll, Mary Black, Domenico D’Ambrosio.

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Marcelo Lopes
Enviado por Marcelo Lopes em 23/03/2011
Código do texto: T2866784