MENINAS BONITAS NÃO SÃO PARA CASAR - by Laura Elias

SÓ PARA AS MULHERES: MENINAS BONITAS NÃO SÃO PARA CASAR.

Não sou muito de datas, de dias disso e daquilo, mas senti que hoje seria o dia perfeito para falar sobre o livro da querida Geyme Lechner, amiga encapetada e cheia de talento, que destrincha o profundo - e muitas vezes caótico, ilógico e enlouquecido - espírito feminino: Meninas Bonitas Não São para Casar.

Com uma narrativa clássica e bem costurada, Geyme mostra facetas reais, doloridas e cruéis da natureza humana, abandonando corajosamente qualquer tentativa de ser "policamente correta", em prol da verdade. É um livro sobre mulheres e para mulheres, principalmente para mulheres maduras que conseguem detectar na rede de palavras tecida por Geyme, o cerne de suas questões.

Suas personagens são mulheres fortes no sentido de lutarem por seus ideais, pouco importando se eles são construtivos ou não. Mulheres que desfocam de si para focar na lenda do "amor a qualquer preço".Eu confesso que muitas vezes, lendo o livro, gritava com as personagens "Nãooooooooo, larga mão disso!" ou " Não, não não! Assim não."

A trama acontece na década de 1950, época em que uma mulher se definia por seu homem. E lá se vão 60 anos e ainda vemos isso acontecer com uma regularidade alarmante. Esta "atemporalidade" do livro chega a assustar.

Eu aviso: não se deixe enganar pelo título divertido ou pela capa, cor de chiclets. Este é um livro que desce aos porões pouco visitados dos comportamentos condicionados, dos papéis impostos, das garras sociais. Um romance nota 1000 de uma autora que é, ela mesma, nota 1000.

Não vou soltar spoillers aqui. Me recuso a antecipar qualquer coisa em relação ao que lhe espera nas páginas do livro. Quero que você sinta, como eu senti, a surpresa de cada momento, que pense "não acredito que ela escreveu isso!" como eu mesma pensei. Geyme não poupa seus personagens, ao contrário, sacrifíca-os, tirando deles até a última gota de sangue, de suor e de lágrimas. Coisa que só sabe fazer quem realmente tem talento genuíno e muita segurança ao escrever. Segurança que talvez ela mesma não perceba ter, mas que é evidente pra quem tem experiência neste caminho maluco da literatura.

Livro de primeira qualidade, com um quê da dramaticidade de Nelson Rodrigues e da profundidade destemida Flaubert, escrito por uma moça que sabe, exatamente, que história quer contar.

Recomendo muito!

Voltando à data, feliz todo dia da mulher pra todo mundo. Meu desejo à todos, não apenas hoje, mas sempre, é que se lembrem que antes de sermos mulheres ou homens, somos pessoas. E que pessoas demandam autorespeito, carinho e consideração.

Beijo enorme!

Laura Elias.