O FURACÃO JANIS

DOCUMENTÁRIO: Janis - 1975. Direção: Howard Alk e Seaton Findlay. 97 min. Documentário biográfico.


It Ain't Me Babe (Não sou eu, querido)
                                (versão livre)

Go 'way from my window (saia da minha janela)
Leave at your own chosen speed. (saia na sua própria velocidade)
I'm not the one you want, babe, (eu não sou quem você quer, querido)
I'm not the one you need. (não sou quem você precisa)
You say you're lookin' for someone (você diz que procura alguém)
Never weak but always strong, (que nunca fraqueje e seja sempre forte)
To protect you an' defend you (para te proteger e te defender)
Whether you are right or wrong, (esteja você certa ou errada)
Someone to open each and every door, (alguém que abra toda e qualquer porta)
But it ain't me, babe, (esse não sou eu, querido)
No, no, no, it ain't me, babe, (não, não, não, esse não sou eu, querido)
It ain't me you're lookin' for, babe. (não sou eu que você procura, querido)
Go lightly from the ledge, babe, (vai comendo pelas pontas, querido)
Go lightly from the ground. (vai devagar pelo chão)
I'm not the one you wan t, babe, (não sou quem você quer, querido)
I will only let you down. (eu só vou te decepcionar)
You say you're lookin' for someone ( você diz que está procurando alguém)
Who will promise never to part, (que prometa nunca ir embora)
Someone to close his eyes for you, (alguém que feche os olhos por você)
Someone to close his heart, (alguém que feche o coracao)
Someone who will die for you an' more, ( alguém que morra por você e mais)
But it ain't me, babe, ( mas esse não sou eu, querida)
No, no, no, it ain't me, babe, (não, não, não, não sou eu, querida)
It ain't me you're lookin' for, babe. (não sou eu quem você procura, querido)
Go melt back into the night, babe, (vá se diluir na noite, querido)
Everything inside is made of stone. (por dentro tudo é feito de pedra)
There's nothing in here moving ( não há nada vivo por aí)
An' anyway I'm not alone. (ainda assim não estou sozinha)
You say you're looking for someone ( você diz que procura alguém, querido)
Who'll pick you up every time you fall, ( Que te segure você cada vez que você cair)
To gather flowers constantly (que te junte flores constantemente)
An' to come every time you call, (e venha sempre que você chamar)
A lover for your life an' nothing more, (um amor para sua vida e nada mais)
But it ain't me, babe, (mas esse não sou eu, querido)
No, no, no, it ain't me, babe, (não,não,não,não sou eu,querido)
It ain't me you're lookin' for, babe. (não sou eu quem você procura, querido).

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Ganhei de presente de natal um DVD com um documentário sobre Janis Joplin, cantora e compositora americana que morreu em 1970, de overdose de heroína. Como eu vivi os acontecimentos do final dos anos 60 e início de 70, lembro-me bem dela.
Os americanos gostam de dar nomes de mulher aos furacões que devastam suas terras. Janis foi um deles. Devastou costumes, destelhou consciências, derrubou paradigmas e deixou um indelével rastro de destruição na velha e conservadora moral americana.
Lembro-me do dia em que recebemos a notícia de sua morte. Estávamos num bar em Perdizes, tomando chope e o Jornal Nacional, pela voz compassada do Cid Moreira, anunciava que ela havia sido encontrada morta no quarto do hotel onde se hospedava, em Los Angeles. Igual a Marilin Monroe, Jimmy Hendrix e outros astros que tiveram o mesmo fim.

Janis era o que podemos chamar de maluca de nascença. Nasceu numa pequena cidade do Texas, chamada Port Arthur, mas cresceu como se tivesse nascido e vivido a sua vida inteira em Nova Orleans. Sua vida era ouvir as estrelas do blues, tais como Bessie Smith, Leadbelly e Big Mama Thornton. Descobriu que tinha voz para cantar no coro da igreja local. Depois de concluir o curso secundário na Jefferson High School, matriculou-se na Universidade do Texas, mas, ao que se sabe, não terminou o curso, pois ao invés de estudar preferia cantar blues e folk music com amigos em festinhas de embalo e outras noitadas do gênero.
Era a época da geração beat, onde a atitude rebelde se tornou a marca registrada da juventude ocidental. Janis lia Kerouack, Dylan Thomas e os poetas da moda. Vestia-se como os poetas da geração beat, falava como eles, era uma hippie, uma universitária que não conseguia se adaptar à vida acadêmica. Mas logo se revelou excelente poeta, construindo letras que começou a musicar, num estilo blues, sofrido, intimista, que mais pareciam irônicas mensagens de amor e angústia existencial, transmitidas guturalmente com raiva e deboche.
Em 1963, mudou-se do Texas para a Califórnia e foi morar em São Francisco, então a cidade de costumes mais livres na América, onde esperava encontrar um ambiente mais propício para a sua personalidade descolada de qualquer compromisso com tradições, moralidade e comportamento politicamente correto. Foi em São Francisco que ela começou a cantar como profissional e seu estilo folk logo chamou a atenção do público.
Janis bebia e usava drogas pesadas desde a adolescência, mas o ambiente francamente pro-míscuo em que ela vivia em São Francisco contribuiu bastante para que ela se afundasse completamente no vício. Por volta do fim dos anos 60 já era uma viciada sem cura.
Mas seu estilo de compor e cantar eram realmente únicos e com ela no palco ninguém ficava indiferente. Ela ora gritava as palavras, ora as respirava, ora as regurgitava, como se as tivesse entaladas na garganta. Não dava para não sentir.
Lembro-me dela cantando em Woodstok em 1969 e quando esteve no Brasil em fevereiro de 1970, pouco antes de ser encontrada morta (ela morreu no dia 4 de outubro daquele ano). Acostumada a provocar escândalos por onde passava, no Brasil ela não deixou barato, fazendo topless na praia de Copacabana, cantando em um bordel, bebendo todas e sendo expulsa do Hotel Copacabana Palace por nadar nua numa piscina cheia de senhoras de fino trato. Vivíamos em plena ditadura no Brasil e atitudes como essa eram consideradas atentatórias, não só à moral e aos bons costumes (como ainda são até hoje) mas também “comportamentos políticos perigosos, que levam a juventude a indesejáveis atitudes”, como disse o agente de segurança da época, quando foi buscá-la para se explicar na delegacia.
Faz mais de 40 anos que Janis morreu. Eu era pouco mais de um garoto que gostava dos Beatles e dos Rolling Stones na época. Por isso também me encantei com com ela, com Jimmy Hendrix, Bob Dylan, Peter Kerouack, Allen Ginsberg e todos os beatnics daquela geração maluca. Hoje, ao revê-la no DVD que o amigo me presenteou me dei conta de quanto ela era feinha e sem graça fisicamente. Parecia uma adolescente cheia de espinhas que nunca seria eleita como rainha dos estudantes nem jamais seria convidada para o baile de formatura por um rapaz bonito.
É. O tempo passa e as nossas visões da vida mudam de cores, formas e perspectivas. Mas nunca de conteúdo. Lembro-me de ter vertido uma lágrima quando tive a notícia da morte da Janis. Verto outra agora, quarenta anos depois, me lembrando daquele furacão que um dia passou pelas nossas vidas. Todo furacão é assim. Sempre deixa um rastro de morte e destruição. Mas deixa também, para aqueles que sobreviveram, uma indelével lição de vida. E na oportunidade para reconstruir o que sobrou do cataclisma, sempre poderemos fazer melhor do que aquilo que um dia foi o nosso ideal de vida.



João Anatalino
Enviado por João Anatalino em 02/02/2011
Reeditado em 03/02/2011
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